Historia dos time Brasileiro

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O início no remo

O Flamengo já nasceu com a garra e o espírito vencedor. A idéia da criação de um grupo organizado de remo surgiu em bate-papos de jovens do bairro no Café Lamas, no Largo do Machado. O objetivo era entrar na disputa com clubes de outros bairros, como o de Botafogo, que já atraíam a atenção das mocinhas da época.

Jovens remadores - José Agostinho Pereira da Cunha, Mário Spindola, Nestor de Barros, Augusto Lopes, José Félix da Cunha Meneses e Felisberto Laport – resolveram comprar um barco. O escolhido foi um já velho, porém adequado às finanças disponíveis. Cotizaram o dinheiro, adquiriram o primeiro patrimônio, que foi nomeado de Pherusa, e fizeram uma reforma completa para utilizá-lo.

No dia 6 de outubro, os jovens, mais Maurício Rodrigues Pereira e Joaquim Bahia, foram dar a primeira volta com o barco. Saíram da Ponta do Caju, na praia de Maria Angu (atual Ramos), de tarde. Mesmo com o tempo ameaçador no céu, Mário Spindola dirigiu rumo à praia do Flamengo. Então, o primeiro grande desafio do grupo surgiu. O forte vento virou a embarcação e os náufragos tiveram que se segurar no que restou da Pherusa.

Joaquim Bahia, excelente nadador, saiu até a praia em busca de ajuda. Mas a chuva cessou e logo apareceu um outro barco, o Leal, de pescadores da Penha, e fez o resgate dos jovens e da Pherusa. A preocupação passou a ser Bahia, que depois de quatro horas chegaria à praia, tornando-se o primeiro herói do Flamengo.

A recuperação de Pherusa foi iniciada novamente. Quando ela já estava quase pronta, foi roubada e nunca mais vista. Mas o entusiasmo em fundar um grupo de regatas não desapareceu.

Os jovens decidiram comprar outro barco. George Lenzinger, José Agostinho, José Félix e Felisberto Laport entraram na história, juntaram o dinheiro necessário e compraram o Etoile, de Luciano Gray, logo batizado de Scyra e registrado na Union de Canotiers.

Na noite de 17 de novembro de1895, no casarão de Nestor de Barros, número 22 da Praia do Flamengo, onde era guardada a Pherusa e depois a Scyra, foi fundado o Grupo de Regatas do Flamengo e, com ele, eleita a sua primeira diretoria: Domingos Marques de Azevedo, presidente; Francisco Lucci Colás, vice-presidente; Nestor de Barros, secretário; Felisberto Cardoso Laport, tesoureiro.

Destacados ainda como sócios-fundadores, José Agostinho Pereira da Cunha, Napoleão Coelho de Oliveira, Mário Spíndola, José Maria Leitão da Cunha, Carlos Sardinha, Eduardo Sardinha, José Felix da Cunha Menezes, Emygdio José Barbosa (ou Emygdio Pereira, ou ainda Edmundo Rodrigues Pereira, há controvérsias) Maurício Rodrigues Pereira, Desidério Guimarães, George Leuzinger, Augusto Lopes da Silveira, João de Almeida Lustosa e José Augusto Chalréo, sendo que os três últimos faltaram à reunião, mas assinaram a ata dias depois e receberam o título.

No encontro, foi acordado que a data oficial seria a de 15 de novembro, pois no aniversário do Flamengo sempre seria feriado nacional (Dia da Proclamação da República), e que as cores oficiais seriam azul e ouro, em largas listras horizontais.

Primeiras competições, vitórias e mudanças

A preocupação com o nacionalismo foi marcante no início do Flamengo. Primeiramente, a denominação de grupo, ao invés de clube, palavra estrangeira. Depois, com a aquisição de novos barcos ao longo dos anos, a origem dos nomes foi a indígena (Aymoré, Iaci e Irerê) ao invés dos antigos, derivados do grego (Pherusa e Scyra).

Mas foi com a Scyra mesmo que o Flamengo entrou em sua primeira competição. Um fiasco, causado pela inexperiência dos seus remadores, que comeram um bacalhau à portuguesa com vinho verde antes da disputa. O barco bateu na baliza de sinalização, a tripulação enjoou e, no fim, a embarcação do Botafogo rebocou a Scyra. Passado o primeiro vexame, o Flamengo começou a competir, mas só conseguiu chegar em segundo e terceiro lugar. Por isso, foi logo chamado de Clube de Bronze.

A primeira vitória veio no dia 5 de julho de 1898, na I Regata do Campeonato Náutico do Brasil, com Irerê, uma baleeira a dois remos. Nesta época, o Flamengo já reunia seguidores de todas as classes sociais, dos intelectuais, passando pelas famílias tradicionais, até os empregados de comércio, todos torcedores fanáticos do grupo. As mocinhas que caminhavam na praia do Russel acabam sempre no número 22 e a sede do Flamengo ficou conhecida como a "República da Paz e do Amor".

Antes um pouco, em 23 de novembro de 1896, uma das mudanças mais significativas na história do Flamengo. Como as camisas do uniforme, listradas nas cores azul e ouro, eram importadas da Inglaterra e desbotavam com facilidade devido ao sol e ao mar das competições do remo, Nestor de Barros propôs que elas fossem para vermelha e preta. Junto com a mudança das cores e o crescimento do Flamengo, veio a transformação de Grupo em Clube, sugerida pelo poeta e cronista Mário Pederneiras. Estava definitivamente concretizado o amor rubro-negro pelo Clube de Regatas do Flamengo.

Futebol disputa espaço com o remo

Depois de começar mal no remo, o Flamengo foi pegando experiência com o tempo. Afinal, outros grupos já existiam há mais tempo e venciam as competições com maior freqüência, como o Gragoatá, o Botafogo e o Vasco da Gama. As primeiras provas eram conquistadas enquanto a paixão pelo clube aumentava.

A partir do início do século XX, o futebol começava a disputar popularidade na cidade do Rio de Janeiro com o remo. Mas, como o clube rubro-negro não dispunha de departamento de esportes terrestres, seus sócios eram obrigados a acompanhar o Fluminense também, pois em Laranjeiras havia um time para torcer.

O maior exemplo desta divisão era Alberto Borgerth. Pela manhã, era remador no Flamengo. À tarde, representava o Fluminense no futebol. Os torcedores, sem opção para acompanhar os dois esportes em um só clube, seguiam o mesmo comportamento, dividindo-se na paixão clubística.

O Flamengo, então, começou a dar os seus primeiros passos no nobre esporte bretão. O clube começa a disputar alguns amistosos. No primeiro, realizado dia 25 de outubro de 1903 no Estádio do Paissandú Atlético Clube, perde do Botafogo por 5 a 1, com a seguinte formação: G.V. de Castro, V. Fatam, H. Palm, Sampaio Ferraz, A. Gibbons (capitão), L. Neves, C. Pullen, M. Morand, A. Vasconcelos, D. Moutinho e A. Simonsen, com os reservas M. Gudin e A. Furtado.

Uma curiosidade é que o time de futebol não entrava em campo com o uniforme oficial do Flamengo. No primeiro jogo, vestiu camisas brancas e shorts pretos. Depois, foi obrigado a usar o Papagaio de Vintém e a Cobra Coral. O esporte era malvisto pelo remo rubro-negro e, por isso, o clube só se filiou à Liga Metropolitana de Futebol – criada em 1905 - em 1912, depois do ingresso dos ex-tricolores, ficando cerca de nove anos disputando somente amistosos.

O futebol oficial no Flamengo

O futebol do Flamengo é dissidente do Fluminense. Em 1911, o tricolor estava às vésperas do título carioca, mas, atravessava grave crise interna. O capitão do time, Alberto Borgeth (o mesmo que remava pelo Flamengo), se desentendeu com os dirigentes e, depois de conquistado o campeonato, liderou um movimento de saída das Laranjeiras. Dez jogadores campeões deixaram o Fluminense: Othon de Figueiredo Baena, Píndaro de Carvalho Rodrigues, Emmanuel Augusto Nery, Ernesto Amarante, Armando de Almeida, Orlando Sampaio Matos, Gustavo Adolpho de Carvalho, Lawrence Andrews e Arnaldo Machado Guimarães.

Dia 8 de novembro, foi aprovado o ingresso dos novos sócios. Os remadores do Flamengo, porém, não eram favoráveis à dedicação oficial do clube rubro-negro ao futebol, caso que estava sendo analisado por uma comissão da qual o líder era justamente Alberto Borgerth.

Mas não teve jeito mesmo. Em assembléia realizada no dia 24 de dezembro de 1911, o Flamengo criou oficialmente o seu time de futebol, sob a responsabilidade do Departamento de Esportes Terrestres.

A equipe treinava na praia do Russel e conquistava maior simpatia ainda com o povo, que acompanhava de perto os atletas no dia-a-dia. No primeiro jogo oficial, realizado dia 3 de maio de 1912, no campo do América, na Campos Sales, uma goleada, a maior da história do clube. O Flamengo venceu o Mangueira por incríveis 15 a 2. A equipe rubro-negra jogou com Baena, Píndaro e Nery; Curiol, Gilberto e Galo; Baiano, Arnaldo, Amarante, Gustavo de Carvalho, e Borgerth. Gustavo Adolpho de Carvalho marcou o primeiro gol oficial da história do Flamengo e fez outros três no jogo. Arnaldo (4), Amarante (4), Borgeth (2) e Galo (1) completaram o placar.

Como não possuía um campo próprio, o Flamengo mandava os seus jogos no Fluminense. Depois de um tempo, arrendou um espaço na rua Paissandu, de propriedade da família Guinle, e parou de considerar o estádio das Laranjeiras como a sua casa.

O primeiro FLA X FLU e os primeiros títulos

No dia 7 de julho de 1912, o Flamengo disputou o seu primeiro Fla x Flu. Os campeões dissidentes do tricolor que passaram a defender o rubro-negro, porém, surpreendentemente perderam por 3 a 2 no confronto com o ex-clube. Muitos dizem que por causa desta derrota é que abriu-se a enorme ferida que alimenta a eterna rivalidade do clássico mais famoso do mundo, o único que tem nome próprio.

Mas a primeira derrota para o rival não abalou em nada o ânimo rubro-negro. Nos oito primeiros anos de disputa futebolística, dois tricampeonatos nos 2º Quadros (aspirantes da época), 1912/13/14 e 1916/17/18, dois vice-campeonatos, em 1912/13, e um bicampeonato com a equipe principal, 1914/15.

No primeiro título oficial conquistado pelo Flamengo, apenas uma derrota, para o Botafogo, por 2 a 1. Já o bicampeonato foi invicto. Destacou-se nas duas campanhas o artilheiro Riemer, com 8 gols em 1913, 14 e 15.

Conforme ia se afirmando como esporte importante no clube, o futebol mudava de uniforme. Em 1912, a estréia oficial foi feita com a camisa quadriculada em vermelho e preto, logo apelidada jocosamente de Papagaio de Vintém pelos adversários. No ano seguinte, mudança para as listras vermelha e preta, sendo que com um friso branco entre uma e outra. Também ganhou apelido, o de Cobra Coral. Como era muito semelhante ao pavilhão fascista alemão, em 1914 ficou determinado finalmente que os jogadores do futebol poderiam usar o mesmo uniforme dos remadores, implantando-se, enfim, a igualdade nos dois esportes. O resultado foi a conquista do primeiro título. Superstição ou não, funcionou e continuou assim.

Mas, após o bicampeonato de 1914/15, o Flamengo sofreu um duro golpe. A família Guinle não quis renovar o contrato de arrendamento do campo de treino da rua Paissandu, dando somente a opção de compra. Como o clube não dispunha de verbas para investimento de tal vulto, ficou com o prazo até o dia 31 de dezembro de 1931 para deixar o local.

A conquista definitiva do povo

A década de 20 foi boa para o Flamengo. Depois de conquistar os títulos de 1914/15 no futebol, o clube voltou a levantar o título carioca em 1920, de forma invicta e marcando a primeira dobradinha com o remo - que havia ganho pela primeira vez no bicampeonato de 1916/17 - sendo campeão de terra e mar.
A taça de 1920 também foi importante para aumentar ainda mais a rivalidade com o Fluminense. Com a conquista, o Flamengo impediu, pela primeira vez, um tetracampeonato do tricolor.

Em 1921, novo título no futebol. Os principais nomes do time eram os atacantes Junqueira, Candiota, Nonô e Sidney, Porém, nos três anos seguintes, o Flamengo foi vice-campeão seguidamente, voltando a conquistar o Carioca somente em 1925. Nesta campanha, só foi derrotado uma vez - pelo Fluminense, placar de 3 a 1 -, venceu pela primeira vez outro tradicional rival, o Vasco da Gama, por 2 a 0, e teve em Nonô o grande artilheiro e destaque novamente, com 27 gols em 18 jogos.

Hino do Flamengo

Uma vez Flamengo,
Sempre Flamengo.
Flamengo sempre eu hei de ser
É o meu maior prazer
Vê-lo brilhar
Seja na terra,
Seja no mar.
Vencer, vencer, vencer
Uma vez Flamengo,
Flamengo até morrer!

Na regata, ele me mata,
Me maltrata, me arrebata
De emoção, no coração
Consagrado, no gramado
Sempre amado, o mais cotado
nos Fla-Flus é o ai Jesus

Eu teria
Um desgosto profundo
Se faltasse,
O Flamengo no mundo.
Ele vibra, ele é fibra
Muita libra já pesou
Flamengo até morrer
Eu sou.

[editar] Club de Regatas Botafogo

[editar] Grupo de Regatas Botafogo

Localização do Botafogo no mapa da América do Sul.

Em 1891, sob a liderança de Luiz Caldas, foi fundado o Grupo de Regatas Botafogo. O grupo de remo ganhou esse nome em homenagem a enseada do bairro onde competiam seus barcos. Esta associação contava em sua gênese com a participação de membros vindos do Clube Guanabarense, criado em 1874[4].

No contexto da Revolta da Armada, dois líderes revolucionários, o almirante Custódio de Melo e o comandante Guilherme Frederico de Lorena, tinham, respectivamente, dois filhos como sócios do grupo, João Carlos de Melo (John) e Frederico Lorena (Fritz). Esta ligação dos jovens com o grupo levantou suspeitas do governo sob o Botafogo, que foi obrigado a interromper suas atividades. Por conta da perseguição, John e Fritz deixaram o Rio de Janeiro e Luiz Caldas foi preso.

Pouco tempo depois, Luiz Caldas viria a falecer ao final de junho de 1894. Então, os sócios restantes do Grupo de Regatas Botafogo reuniram-se para regulamentar a criação do clube. Com quarenta sócios, em 1 de julho de 1894 era fundado o Club de Regatas Botafogo.

[editar] Criação do clube

Primeira sede do Club de Regatas Botafogo

A sede do clube era em um casarão, atualmente demolido, no sul da praia de Botafogo, encostado ao Morro do Pasmado, onde hoje termina a avenida Pasteur. Os fundadores do Club de Regatas Botafogo foram Alberto Lisboa da Cunha, Arnaldo Pereira Braga, Arthur Galvão, Augusto Martins, Carlos de Souza Freire, Eduardo Fonseca, Frederico Lorena, Henrique Jacutinga, João Penaforte, José Maria Dias Braga, Julio Kreisler, Julio Ribas Junior, Luiz Fonseca Quintanilha Jordão, Oscar Lisboa da Cunha e Paulo Ernesto de Azevedo.

A embarcação botafoguense Diva tornou-se uma lenda nas águas da Baía de Guanabara, tendo vencido todas as 22 regatas que disputou, sagrando-se campeão carioca de 1899. Apesar da larga tradição no esporte, o Club de Regatas Botafogo só foi esta vez campeão carioca de remo (os outros títulos estaduais vieram após a fusão).

O Club de Regatas Botafogo foi o primeiro clube carioca campeão brasileiro de alguma modalidade esportiva: de remo, em campeonato realizado no Rio de Janeiro em outubro de 1902, com a vitória do atleta Antônio Mendes de Oliveira Castro, que anos mais tarde viria a se tornar presidente do clube.

Na primeira regata disputada pelo recém-fundado Clube de Regatas do Flamengo, os remadores deste bateram em uma boia de sinalização e adernaram, tendo sido salvos por uma guarnição do Botafogo, que rebocou o barco rubro-negro até a linha de chegada[5].

Uma curiosidade na história do Club de Regatas é que seus atletas já haviam se arriscado a praticar o futebol. Isto aconteceu em 25 de outubro de 1903, antes da fundação do Botafogo Football Club. Os remadores botafoguenses reuniram-se com os colegas de esporte do Flamengo para a disputa de um amistoso. O time do Botafogo, formado por W. Schuback, C. Freire e Oscar Cox; A. Shorts, M. Rocha e R. Rocha; G. Masset, F. Frias Júnior, Horácio Costa Santos, N. Hime e H. Chaves Júnior, goleou o Flamengo por 5 a 1 no campo do Paissandu. Alguns dos atletas do Botafogo integravam o time de futebol do recém-fundado Fluminense.

[editar] Botafogo Football Club

[editar] A fundação

Vista aérea atual do bairro de Botafogo.

O bairro de Botafogo foi o local onde se fundou para o futebol o Electro Club, primeiro nome dado ao Botafogo Football Club. A ideia surgiu a partir de Flávio Ramos e Emmanuel Sodré que estudavam juntos no Colégio Alfredo Gomes. Durante uma aula cansativa de álgebra ministrada pelo general Júlio Noronha, um bilhete passado por Flávio a Emmanuel dizia: "O Itamar tem um clube de football na rua Martins Ferreira. Vamos fundar outro no Largo dos Leões? Podemos falar aos Werneck, ao Arthur César, ao Vicente e ao Jacques".

Emmanuel aguardou o fim da aula para expressar seu entusiasmo. Os meninos, que residiam no bairro de Botafogo, próximo ao Largo dos Leões, logo convenceram outros colegas de que não surgiria opção melhor para preencher o vazio daqueles dias de começo de século XX no Rio de Janeiro, em que eram raras as atrações para os adolescentes. Na tarde de sexta-feira, 12 de agosto de 1904, Flávio, Emmanuel e alguns amigos, todos com idades entre catorze e quinze anos, reuniram-se em um velho casarão localizado nas esquinas da rua Humaitá com o Largo dos Leões para oficializar a fundação do clube.

Time do Botafogo em 1906.

Electro Club foi o primeiro nome dado ao Botafogo, já que os meninos decidiram cobrar mensalidade e acharam um talão de um extinto grêmio de pedestrianismo com esse nome, que resolveram então adotar.

O uniforme de listras verticais em preto e o branco também foi aclamado por unanimidade. A sugestão partiu de Itamar Tavares. Ele estudara na Itália, onde torcia para a Juventus, criada em 1897 e que, hoje, é um dos clubes mais populares da Europa. A primeira diretoria do Electro, que não teve ata de fundação, era composta por Flávio da Silva Ramos (presidente), Octávio Werneck (vice-presidente), Jacques Raymundo Ferreira da Silva (secretário) e Álvaro Werneck (tesoureiro). Flávio e Emmanuel não gostariam de ver o clube tomar o destino de tantos outros, que desapareceram sem deixar vestígio. Logo, procuraram gente com mais idade e mais experiência para administrá-lo, como Alfredo Guedes de Mello e Alfredo Chaves.

O nome Electro Club permanceu apenas até o dia 18 de setembro. Neste dia, foi realizada outra reunião na casa de Dona Chiquitota, a avó do Flávio, que se assustou ao saber o nome do clube: "Afinal, qual é o nome deste clube?", perguntou. "Electro", respondeu Flávio, que então resolveu seguir o conselho de sua avó:

Citação
«"Meu Deus. Que falta de imaginação! Ora, morando onde vocês moram, o clube só pode se chamar Botafogo."»
 
(Francisca Teixeira de Oliveira, a Dona Chiquitota.)

E assim foi feito, o Electro passou a se chamar Botafogo Football Club. Neste mesmo dia, tomou posse a nova diretoria, composta por Alfredo Guedes de Mello (presidente), Itamar Tavares (vice-presidente), Mário Figueiredo (secretário) e Alfredo Chaves (tesoureiro). Os primeiros treinos aconteceram no Largo dos Leões, e as palmeiras imperiais serviram de balizas. Assim, nascia o Botafogo Football Club. Seus fundadores: Álvaro Cordeiro da Rocha Werneck, Arthur César de Andrade, Augusto Paranhos Fontenelle, Basílio Vianna Junior, Carlos Bastos Neto, Emmanuel de Almeida Sodré, Eurico Parga Viveiros de Castro, Flávio da Silva Ramos, Jacques Raymundo Ferreira da Silva, Lourival Camargo da Costa, Octávio Cordeiro da Rocha Werneck e Vicente Licínio Cardoso.

O time que venceu o Campeonato Carioca de 1907.

O primeiro amistoso ocorreu no dia 2 de Outubro de 1904, contra o Football and Athletic Club, na Tijuca: derrota por 3 a 0. O time que entrou em campo usava o esquema 2-3-5 e era composto por: Flávio Ramos; Victor Faria e João Leal; Basílio Vianna, Octávio Werneck e Adhemaro de Lamare; Normann Hime, Ithamar Tavares, Álvaro Soares, Ricardo Rego e Carlos Bittencourt. A primeira vitória viria no segundo jogo, em 21 de maio de 1905, sobre o Petropolitano, 1 a 0, gol de Flávio Ramos.

Ainda neste ano, foi criado o Carioca Futebol Clube no bairro de Botafogo. Este clube era destinado a ensinar às crianças as bases do futebol, sendo a primeira escolinha do esporte no Brasil. A escolinha foi desativada em 1908 e absorvida pelo Botafogo Football Club, que buscou nos jogadores do Carioca a intenção de fundar a seu próprio time infantil.[6]

[editar] O Glorioso

Botafogo campeão de 1910.
Time campeão em 1912.

Em 1906, o Botafogo venceu seu primeiro título, a Taça Caxambu, o primeiro torneio do futebol do Rio de Janeiro, disputado pelas equipes de segundo-quadro. O time participou ainda do primeiro Campeonato Carioca ficando em quarto lugar. A primeira vitória da equipe no campeonato, por 1 a 0, foi contra o Bangu em 27 de maio.

No ano seguinte, terminou empatado o Carioca em pontos com o Fluminense numa grande polêmica só resolvida nove décadas depois. O Botafogo teria de enfrentar o Internacional, lanterna da competição, na última rodada. Porém, o Internacional, que também não tinha enfrentado o Fluminense, não compareceu ao jogo. O Botafogo venceu o jogo por W.O., mas não teve gols acrescentados na tabela. Enquanto isso, o Fluminense venceu o Paissandu por 2 a 0 e empatou na classificação final do campeonato com o alvinegro. Como tinha saldo melhor, o Fluminense reivindicou o título. Prejudicado por não ter a oportunidade de marcar gols na última partida, o Botafogo pedia um jogo extra, maneira considerada pelos diretores alvinegros justa de decidir a disputa, o que não foi aceito. O regulamento da competição não especificava nenhum critério de desempate além do número de pontos. Os dois clubes não chegaram a um acordo sobre como decidir o campeonato[7]. A Liga não conseguiu encontrar uma solução e se dissolveu, ficando o campeonato sem um campeão até 1996, quando Eduardo Viana, presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, decidiu dividir o título de 1907 entre ambos os clubes.

Em 1910, o Botafogo consagrar-se-ia definitivamente. Ao vencer o Campeonato Carioca de 1910, o time realizou uma campanha marcada por sete goleadas aplicadas sobre os adversários na competição, fato este que lhe rendeu o apelido de O Glorioso. O alvinegro, que naquele campeonato marcara 66 gols, já demonstrava aptidão para marcar várias vezes anteriormente. No ano anterior, aplicou 24 a 0 sobre o Sport Club Mangueira (até hoje a maior goleada da história do futebol brasileiro em jogos oficiais). Nesta mesma época de transição de décadas, o Botafogo ainda fez 15 a 1 sobre o Riachuelo, 13 a 0 e 11 a 0 no Haddock Lobo, 9 a 0 contra o Internacional, entre outras goleadas mais.

Antigo Estádio da Rua Voluntários da Pátria.

Em 1911, o clube desligou-se da Liga Metropolitana de Sports Athleticos após uma confusão num jogo contra o América. O incidente foi iniciado quando o jogador do time rubro Gabriel de Carvalho fez falta violenta em Flávio Ramos, que revidou, originando uma briga generalizada. Insatisfeita com as punições que foram impostas aos jogadores alvinegros envolvidos na briga (Adhemaro e Abelardo de Lamare receberam seis e doze meses de suspensão respectivamente), a diretoria solicitou o desligamento do próprio clube da LMSA e, em seguida, passou uma longa fase realizando apenas amistosos contra equipes paulistas. No final do mesmo ano, o Botafogo perdeu a sua sede na rua Voluntários da Pátria, onde realizava seus jogos. Teve de disputar o campeonato de 1912, organizado pela Associação de Football do Rio de Janeiro, em um modesto campo na rua São Clemente. Nesta competição, o alvinegro sagrou-se campeão.

Em 1913, o Botafogo retornou à Liga Metropolitana de Sports Athleticos. E, em 1915, voltou à liga municipal renovado com a concessão do terreno da rua General Severiano pela prefeitura em 1912.

[editar] Entressafra alvinegra

Partida de inauguração do Estádio de General Severiano, em 1913.

A fase entre 1912 e 1930 pode ser considerada como o primeiro período de jejum de títulos do Botafogo. Todavia, foram conquistados dois Campeonatos Cariocas de Segundos Quadros, em 1915 e 1922. O clube ainda foi vice-campeão carioca por quatro vezes, 1913, 1914, 1916 e 1918, e fez vários artilheiros do torneio até 1920, entre eles Mimi Sodré, Aluízio Pinto, Luiz Menezes e Arlindo Pacheco.

Jogadores em 1913.

Nesta época, o Botafogo contribuiu para a criação de um termo bastante comum nos dias atuais do esporte brasileiro: cartola[8]. Em 1917, os dirigentes do Botafogo trajaram-se de fraque e cartola para receber o time uruguaio do Dublin FC no gramado. A intenção era imitar os políticos da República Velha, mas o resultado acabou sendo o nome, adotado pela imprensa, de carlota dirigentes esportivos.

Antes de ser formado time do início da década de 1930, o Botafogo, nos anos 1920, obteve como melhor resultado um terceiro lugar no Campeonato Carioca de 1928. De resto, foram cinco quartas colocações e outras classificações mais inferiores. Em 1923, o time quase foi rebaixado, ficou em 8° lugar (último) no Carioca. Teve de disputar um partida elimitatória, para não cair, contra o Vila Isabel, vencida por 3 a 1.

Este período também foi marcado por um série de problemas internos na cúpula do clube. Tanto que o atacante Nilo, que viria a ser um dos destaques do time de 30, foi para o Fluminense devido a problemas com a diretoria. Só retornou ao alvinegro em 1927, para ser o artilheiro do Carioca do mesmo ano.

[editar] Geração de 30: o Tetracampeonato

Time campeão estadual em 1930.
Carvalho Leite em campo.

Na década de 1930, liderado pelos atacantes Nilo e Carvalho Leite, entre outros craques, o Botafogo conquistou o Carioca de 1930 e o inédito tetracampeonato em 1932, 1933, 1934 e 1935. Nesta época, o campeonato do Rio de Janeiro era dividido em duas ligas, a profissional e a amadora, homologada pela CBD e pela FIFA e que o Botafogo participava. Em 1931, problemas internos envolvendo diretores e futebolistas atrapalharam o time durante a campanha. Nessa mesma era, nove jogadores do Botafogo foram convocados para a Copa do Mundo de 1934 na Itália: Carvalho Leite, Waldyr, Áttila, Canalli, Ariel, Martim Silveira, Octacílio e os goleiros Germano e Pedrosa. Durante a campanha dos cinco títulos o clube realizou 113 jogos, vencendo 75, empatando 22 e perdendo 16. Marcou 320 gols (sendo 79 marcados por Carvalho Leite) e sofreu 176. Leônidas da Silva, ídolo do Flamengo, atuou antes pelo alvinegro na conquista de 1935 e chegou a estrear pelo time em 1936, entretanto, logo foi negociado com o rival rubro-negro. No mesmo ano, o clube realizou sua primeira excursão ao exterior: foi jogar no México e nos Estados Unidos[9]. Em nove partidas, venceu seis.

O ano de 1938 foi o qual o Botafogo reinaugurou seu estádio em General Severiano com novas arquibancadas de cimento. No Campeonato Carioca e no Torneio Municipal, o clube ficou em terceiro lugar. Cedera, durante as competições, cinco jogadores para a disputa da Copa da França. No ano seguinte, surgiu no clube o craque Heleno de Freitas, que viria a substituir o ídolo Carvalho Leite. Durante os oito anos seguintes, Heleno foi o maior ídolo do clube e, por conseguinte, o primeiro craque do recém-criado Botafogo de Futebol e Regatas.

[editar] Botafogo de Futebol e Regatas

[editar] A fusão

O Botafogo de Futebol e Regatas nasceu oficialmente no dia 8 de dezembro de 1942, resultado da fusão dos dois clubes de mesmo nome: o Club de Regatas Botafogo e o Botafogo Football Club. Os dois clubes tinham suas sedes no bairro de Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro. A fusão já era estudada desde 1931, mas durante muitos anos foi combatida porque gente ligada aos dois clubes, como o historiador Antônio Mendes de Oliveira Castro, do remo, e João Saldanha, do futebol, garantiam que o Regatas estava "infiltrado de torcedores do Fluminense", que, dos cinco grandes clubes da cidade, é um dos dois (junto com o América) que nunca tiveram um departamento ligado a esse esporte.

A união foi apressada por uma tragédia: no dia 11 de junho de 1942, os dois clubes, que também tinham atividades em outros esportes, disputavam uma partida de basquete pelo Campeonato Carioca, no Mourisco Mar, sede do Club de Regatas Botafogo. Nesse dia, o jogador Armando Albano, do Football Club, chegou atrasado ao jogo que já havia começado, entrando com o jogo em andamento. Durante o intervalo, Armando Albano abaixou-se para pegar uma bola e caiu desfalecido. Os médicos correram, fizeram todos os atendimentos possíveis, mas o jogador havia sido fulminado por um infarto.

Depois de confirmada a morte do jogador, a partida foi interrompida faltando dez minutos para o final, quando o placar marcava 21 pontos para Club de Regatas e 23 para Football Club. O corpo de Albano saiu da sede de General Severiano e, quando passava em frente ao Mourisco Mar, houve uma parada. Os presidentes dos clubes fizeram um pronunciamento[10]:

Citação
«"E comunico nesta hora a Albano que a sua última partida resultou numa nítida vitória. O tempo que resta do jogo interrompido, os nossos jogadores não disputarão mais. Todos nós queremos que o jovem lutador desaparecido parta para a grande noite como um vitorioso. E é assim que o saudamos."»
 
(Augusto Frederico Schmidt, presidente do Club de Regatas Botafogo.)
Citação
«"Nas disputas entre os nossos clubes só pode haver um vencedor: o Botafogo!"»
 
(Eduardo Góes Trindade, presidente do Botafogo Football Club.)
Citação
«"O que mais é preciso para que os nossos dois clubes sejam um só?"»
 
(Augusto Frederico Schmidt, selando a fusão.)

A partir dessa data, começou o procedimento para a fusão dos clubes, nascendo o Botafogo de Futebol e Regatas. Com a fusão foram feitas algumas alterações: a bandeira perdeu o escudo com letras entrelaçadas do B.F.C., e ganhou um retângulo preto com a Estrela Solitária branca, do Club de Regatas, ao alto. O escudo incorpora ao distintivo a Estrela Solitária branca, num fundo preto com contorno branco, no lugar das letras entrelaçadas. Além disso, a equipe de futebol passou a usar calções pretos.

[editar] Retomada de títulos

Fundado o Botafogo atual em 1942, apesar dos craques que desfilaram com a sua camisa, como Gérson dos Santos, Zezé Procópio, Sarno, Tovar e Heleno de Freitas, o alvinegro só conseguiu reconquistar o título carioca em 1948. Curiosamente, no ano em que Heleno, o principal artilheiro do time então, havia sido vendido para o argentino Boca Juniors.

Após quatro vice-campeonatos seguindos nos anos de 1944, 1945, 1946 e 1947, em 1948, foi conquistado o primeiro título no futebol sob o novo nome. Aquele campeonato traria ainda uma novidade: era a primeira vez que o clube utilizaria numeração nas camisas de seus uniforme. O Botafogo estreou no campeonato perdendo por 4 a 0 para o São Cristóvão. Ao fim de jogo, o presidente Carlito Rocha garantiu que o time não perderia mais e que seria o campeão. O clube havia acabado de efetivar o ex-centro-médio Zezé Moreira como técnico para tentar acabar com a série de 12 anos sem o título. Mas, guiado pelos gols de Octávio de Moraes e de Sylvio Pirillo, pela e superstição de Carlito Rocha e por Biriba, um cãozinho preto e branco adotado como mascote, o time obteve 17 vitórias e dois empates nos outros 19 jogos. Resultado: ganhou o título, derrotando na final o apelidado Expresso da Vitória do Vasco. A decisão foi em General Severiano, no dia 12 de dezembro de 1948, e o Botafogo venceu por 3 a 1[11]. O Botafogo jogou com Osvaldo Baliza, Gérson dos Santos e Nílton Santos; Rubinho, Ávila e Juvenal; Paraguaio, Geninho, Pirillo, Octávio e Braguinha. Foi o primeiro título de Nílton Santos, que logo se transformaria em lenda do futebol brasileiro.

Em 1951, o time preto e branco triunfou pela primeira vez no Torneio Municipal, justamente na última edição da competição.

[editar] Época de ouro

Busto de Garrincha, estátua no Maracanã.
Busto de Nílton Santos, estátua na sede do clube.

Nas décadas de 1950 e 1960[12], o Botafogo viveu um dos seus períodos mais áureos, tendo contado com a participação de craques como Garrincha, Nilton Santos (melhores de todos os tempos em suas posições de acordo com a FIFA), Didi, Zagallo, Amarildo, Quarentinha, Manga, entre outros[13]. O time notabilivaza-se também pelas muitas excursões que fazia pelo exterior, disputando competições extra-oficiais e amistosos, grande parte na América e na Europa.

Em 1957, o alvinegro venceu o Campeonato Carioca ao derrotar na final o Fluminense por 6 a 2, tendo Paulinho Valentim marcado 5 gols na maior goleada da história das finais da competição[14]. No ano seguinte, o Botafogo cedeu para a Seleção Brasileira, que seria Campeã do Mundo pela primeira vez, seus principais jogadores Garrincha, Nílton Santos e Didi[15]. Novas vitórias vieram no Carioca de 1961 e 1962 e no Torneio Rio-São Paulo também deste último ano. Ainda em 1962, na Copa do Mundo realizada no Chile, novamente, o time da Estrela Solitária ajudou fundamentalmente a Seleção Brasileira que conquistaria o bicampeonato com cinco titulares, Garrincha, Nilton Santos, Didi, que após a Copa foi negociado com o Real Madrid, Zagallo e Amarildo[16].

Em 1963, decidiu com o Santos, maior rival a nível nacional da época[17], a Taça Brasil de 1962 que se prolongou até aquele ano. Derrotado no primeiro jogo no Pacaembu por 4 a 3, venceu o segundo no Maracanã por 3 a 1. Um terceiro jogo teve de ser realizado para decidir o campeão. E, numa noite inspirada de Pelé, o time paulista aplicou 5 a 0, em pleno Maracanã, no Botafogo[18]. As duas equipes ainda disputaram a Taça Libertadores da América de 1963, o Santos por ter sido o campeão da edição anterior entraria apenas na semifinal. Justamente nessa fase, ocorreu o encontro com o Botafogo, que até então mantinha-se invicto (primeira vez em que uma equipe chegava a esta etapa do torneio sem derrotas). Entretanto, o alvinegro carioca acabou sendo eliminado. Porém, a oportunidade da revanche viria no Torneio Rio-São Paulo de 1964. Os dois times chegaram à decisão, e, no primeiro jogo, o Botafogo derrotou o rival por 3 a 2 no Maracanã. Todavia, não foi realizado o segundo jogo da final por falta de datas, uma vez que ambas as equipes foram excursionar. Como resultado, houve a divisão do título entre as duas equipes[19].

O Botafogo venceu, pela terceira vez, o Rio-São Paulo em 1966[20], porém outra vez com divisão de título. Devido aos treinamentos para a Copa do Mundo daquele ano que envolveram mais de quarenta atletas, o clubes que deveriam disputar o quadrangular final, Botafogo, Santos, Vasco e Corinthians, foram declarados campeões, mesmo desejando utilizar alguns jogadores reservas.

Em 1967 e 1968, o alvinegro triunfou duplamente na Taça Guanabara, que era um torneio independente até então, e no Campeonato Carioca, além ter sido o primeiro clube carioca campeão nacional, com a conquista da Taça Brasil de 1968. Em seu plantel, atuavam craques como Jairzinho, Gérson, Paulo Cézar Caju, Rogério, Roberto Miranda, o zagueiro Leônidas e Carlos Roberto. No ano seguinte, o clube boicotou a Libertadores sob o pretexto de ser contra a violência aplicada pelos outros times. Não só o Botafogo, mas outras equipes brasileiras foram solidárias e não disputaram o torneio daquele ano.

[editar] 21 anos de drama

Entre 1968 e 1989, o Botafogo não conquistou nenhum título oficial. Desde a Taça Brasil de 1968 (cuja final realizou-se em 1969) o clube não soube aproveitar as oportunidades que teve. Neste período de tempo, o clube da Estrela Solitária pôde colecionar diversas quartas colocações no torneio estadual.

A final do Campeonato Carioca de 1971 foi marcante negativamente para o clube. O Botafogo, que jogava pelo empate, perdeu por 1 a 0 para o Fluminense, com um polêmico gol[21] sofrido aos 42 minutos do segundo tempo validado pelo árbitro José Marçal Filho. No mesmo ano, o Botafogo classificou-se para o triangular final do primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol organizado pela CBF, ficando em 3° lugar. Naquela ocasião, o time perdeu para o São Paulo por 4 a 1 no Morumbi e, no último jogo, para o campeão Atlético Mineiro, no Maracanã, por 1 a 0, dois jogos marcados por diversas expulsões de botafoguenses.

No ano seguinte, mesmo fazendo mais pontos que o campeão, foi vice do Brasileiro, perdendo a final para o Palmeiras com um empate de 0 a 0. Neste Campeonato Brasileiro, o time aplicou 6 a 0 no rival Flamengo no dia de seu aniversário, 15 de Novembro. Em 1973, na Copa Libertadores, liderou seu grupo, de uruguaios e brasileiros, na primeira fase, empatando no final com o Palmeiras. Venceu o jogo-extra por 2 a 1 contra a equipe paulista e, assim, classificou-se para um dos grupos da semifinal. Porém, não voltou a ter a mesma sorte, sendo desclassificado neste triangular pelo paraguaio Cerro Porteño e pelo chileno Colo Colo, que viria a ser o vice-campeão.

Anos mais tarde, foi vendo a qualidade de seu plantel ir se deteriorando ano a ano. O Botafogo não era mais o celeiro de tantos craques como antes, o número de talentos criados pelas divisões de base clube também foi diminuindo com o tempo. Entretanto, alguns jogadores ainda conseguiram se destacar com a camisa do time nesse período, como Marinho Chagas, Wendell, Dirceu, Mendonça, Nílson Dias, Fischer, Gil, Rodrigues Neto, Paulo Sérgio, , Alemão, Josimar, entre outros. Parte desses jogadores não atuaram juntos, mas foram alguns dos ídolos do Botafogo em uma de suas épocas mais amargas onde as maiores conquistas foram o segundo turno do Estadual (a Taça Augusto Pereira da Mota em 1975 e a Taça José Vander Rodrigues Mendes em 1976).

Logo, o Botafogo viu-se envolvido numa grave crise financeira e, em 1977, teve de vender a sede de General Severiano para pagar dívidas. O clube ficou sem campo até para treinar. Só no dia 12 de agosto de 1977, quando o futebol botafoguense completou 73 anos de idade, conseguiu transferir suas atividades para o subúrbio da cidade, no bairro de Marechal Hermes, onde construiu um outro estádio, inaugurado no ano seguinte. Porém, nesta fase o Botafogo, que chegou a receber o apelido de o Time de Camburão devido à rebeldia extra-campo de alguns de seus jogadores, conseguiu estabelecer dois recordes dentro do futebol do país. É o detentor da maior sequência de invencibilidade da história do futebol brasileiro, 52 partidas, num período de 10 meses (entre 1977 e 1978)[22]. Com esta sequência, o clube também conseguiu a maior série invicta do Campeonato Brasileiro, 42 jogos. Nestes dois anos, o alvinegro ficou, respectivamente, em 5° e 8° lugar no torneio nacional. No ano seguinte, no entanto, o Botafogo conseguiu sua pior colocação na história do Brasileirão: 53°. Isto se deve ao fato de o campeonato ter sido disputado por 94 clubes e de sua fórmula prever a eliminação precoce de alguns times. Foram apenas 7 os jogos disputados pela equipe botafoguense.

Já em 1981, o clube voltou a fazer campanha de destaque. Ficou na 4ª colocação do Brasileiro, sendo eliminado numa semifinal com o São Paulo. No primeiro jogo, no Maracanã, o time carioca venceu por 1 a 0. No segundo duelo, no Morumbi, o Botafogo chegou a abrir 2 a 0 frente ao tricolor paulista. Mas, no segundo tempo, o São Paulo virou para 3 a 2, conquistando a vaga para a final. Esta partida foi marcada por algumas confusões, como a volta dos times ao campo atrasada após o intervalo, expulsão e infrações duvidosas interpretadas pelo árbitro Bráulio Zannoto, além de atraso na reposição de bolas por conta dos gandulas.

Até 1989, os melhores resultados obtidos pelo Botafogo foram quatro torneios de verão conquistados no exterior, como o de Palma de Mallorca, na Espanha em 1988. Já o Campeonato Carioca daquele ano foi determinante para a retomada de glórias do clube na década de 1990. Em 21 de Junho de 1989, o Botafogo conseguiu vencer o título estadual, de forma invicta, sobre o Flamengo, que tinha Zico, Bebeto e Leonardo. O primeiro jogo da final encerrou-se empatado em 0 a 0. Já o segundo, e último, teve o placar final de 1 a 0 para o Botafogo, com gol de Maurício.

Este jogo foi marcado por diversas coincidências: o Botafogo não era campeão havia 21 anos. O jogo foi disputado no dia 21. O gol foi marcado aos 12 minutos do segundo tempo (21 ao contrário). O time também utilizou-se de 12 jogadores na partida. A bola do gol foi cruzada por Mazolinha, no vigésimo primeiro cruzamento dado à área pelo time, e chutada por Maurício. Os números das camisas deles eram, respectivamente, 14 e 7, que somados dão 21. A temperatura no estádio do Maracanã marcava 21°C. Ou seja, tudo levava ao número 21[23], e para os botafoguenses, bastante supersticiosos, isso foi um sinal de que aquele era o dia em que o time que começara desacreditado sairia campeão invicto.

[editar] Anos 90 e a "Tuliomania"

No ano seguinte a um dos títulos mais importantes de sua história, o alvinegro repetiu o triunfo no torneio estadual. Desda vez, numa polêmica final contra o Vasco, sagrando-se Bicampeão Carioca pela terceira vez seguida.

Passados vinte anos, o clube voltou, em 1992, a uma final de Campeonato Brasileiro. Disputou com o rival Flamengo o título nacional daquele ano em duas partidas no Estádio do Maracanã. O primeiro jogo foi marcado em suas vésperas por uma polêmica: o então craque o time Renato Gaúcho fez uma aposta com os jogadores do time adversário em que, caso perdesse, faria um churrasco com eles. O Botafogo foi derrotado no primeiro jogo por 3 a 0 e Renato cumpriu sua aposta. Este fato não foi bem visto pela diretoria alvinegra que afastou o jogador do elenco, e, desta forma, Renato não pôde participar da segunda partida da final. Nesta partida, o Botafogo saiu perdendo, mas bravamente conseguiu empatar em 2 a 2, placar final. O Botafogo sagrava-se vice-campeão e conseguia uma vaga na Copa Conmebol do ano seguinte. Porém, uma tragédia marcaria definitivamente aquela partida: a arquibancada do estádio cedeu e dezenas de pessoas caíram sobre o antigo setor da Geral, matando três torcedores do Flamengo. Por medidas de segurança, nunca mais o Maracanã receberia um público tão grande quanto aquele de 122 mil pagantes[24].

Em 1993, treinado por Carlos Alberto Torres, o Botafogo conquistou seu primeiro título internacional oficial da história. Ganhou, apesar do time fraco tecnicamente que terminou o Brasileirão em 31° lugar, do uruguaio Peñarol a Copa Conmebol (que atualmente é representada pela Copa Sul-Americana) nos pênaltis. No ano seguinte, habilitado para a disputa Recopa Sul-Americana contra o vencedor da Libertadores de 1993, o alvinegro perdeu para o São Paulo o título, numa partida no Japão, com placar de 3 a 1. Este ano de 1994 ficou marcado ainda pelo regresso do Botafogo à sua sede histórica de General Severiano na administração do presidente Carlos Augusto Montenegro.

Em 1995, o Botafogo conquistou o seu único Campeonato Brasileiro desde que a competição passou a ser organizada pela CBF em 1971. Com uma equipe onde alinhavam o ídolo Túlio Maravilha, Gonçalves, Donizete, Sérgio Manoel, Wilson Gottardo, Wágner, entre outros, treinada por Paulo Autuori, o time bateu o Santos em dois jogos finais bastante polêmicos referentes à arbitragem. Neste ano, graças ao carisma de Túlio, que foi artilheiro dos campeonatos nacionais e estaduais de 1994 e 1995, houve um elevado crescimento de torcedores do clube que não se via há muito tempo.

No ano seguinte, o clube conquistou a Taça Cidade Maravilhosa e, numa excursão internacional, o Botafogo venceu o Troféu Teresa Herrera, na Espanha, a Copa Nippon Ham, em Osaka, no Japão, e o Torneio Pres. da Rússia, vencendo clubes como Juventus, La Coruña, Valencia e Auxerre. Na Libertadores, foi eliminado nas oitavas-de-final pelo Grêmio.

Em 1997, o Botafogo ganhou mais um campeonato estadual do Rio de Janeiro, novamente contra o Vasco, com um gol de Dimba na final vencida por 1 a 0. E, no ano seguinte, conquistou o Torneio Rio-São Paulo pela quarta vez, recorde entre os clubes cariocas, batendo o São Paulo.

O vice-campeonato da Copa do Brasil contra o Juventude em 1999 ficou marcado pelos 101.581 pagantes[25] presentes a final que foram contagiados pela campanha do time de Bebeto na competição. O segundo jogo da final foi a última vez que um dos grandes clubes cariocas colocou, em jogo contra equipes de fora da cidade, mais de 100.000 torcedores no Estádio do Maracanã.

Na virada do século, o clube foi incluído pela FIFA como um dos maiores clubes do século XX[26][27] (o terceiro do Brasil), atrás apenas de clubes como o Real Madrid, Manchester United, Bayern Munique, Barcelona, Santos, Flamengo etc.

[editar] A crise e a Segunda Divisão

Desde o início dos anos 2000, o Botafogo flertou com o rebaixamento no campeonato nacional. Campanhas pífias foram realizadas em 1999, quando o clube escapou graças a pontos conquistados no STJD devido ao "Caso Sandro Hiroshi", 2000, 2001 e na culminação do rebaixamento em 2002. Elencos frágeis, sálarios atrasados, má gestão administrativa, baixa atendência aos estádios, início de movimentos de repressão de torcidas organizadas foram marcas desse período dramático da história do alvinegro.

No Carioca, o clube ficou várias vezes fora das semifinais da Taça Guanabara e Taça Rio no início do década de 2000. A equipe era frequentemente eliminada na primeira fase da competição pelo Americano de Campos, o que criou por parte dos rivais a alcunha de "quinta força" do futebol do Rio de Janeiro.

Para o Campeonato Brasileiro de 2002, a equipe sofreu com saída de vários jogadores do plantel antes do início da competição. O time que nos outros anos era liderado por Rodrigo, Dodô, Alexandre, entre outros, tinha como destaques os zagueiros Sandro e Odvan, o goleiro Carlos Germano, o volante Galeano e os atacantes Ademílson e Lúcio. Treinado a maior parte do campeonato por Ivo Wortmann, a equipe não conseguiu se consolidar e, já sob o comando de Carlos Alberto Torres, que assumiu nos últimos jogos da competição, perdeu para o São Paulo por 1 a 0, com gol de Dill, no Caio Martins.

Ao final daquele ano, terminava a gestão presidencial de Mauro Ney Palmeiro. O substituto era Bebeto de Freitas, ex-atleta e treinador de vôlei, que efetivara Levir Culpi para ser o técnico do alvinegro. O clube estava repleto de dívidas, com jogadores de empresários nas divisões de base, sem um lugar para treinar, sem patrocínios, sem um estádio que suportasse toda a sua torcida e com jogadores pedindo para não atuar mais pelo clube devido aos salários atrasados. O Campeonato Carioca de 2003 foi usado como "laboratório", mas sem sucesso. O time não se classificou para as semifinais, nem da Taça Guanabara, nem da Taça Rio.

O Botafogo iniciou o Campeonato Brasileiro Série B perdendo para o Vila Nova, em Goiás, por 2 a 1. Após um empate em 1 a 1 com o Avaí, a primeira vitória só viria na terceira rodada, fora de casa, contra o CRB, 3 a 0. Com o decorrer da competição o clube chegou a liderar o campeonato por várias rodadas, o que gerou por parte de torcedores rivais a alcunha de "25° colocado", já que, na Série A, 24 equipes disputavam a competição.

Ao final da primeira fase, o time se classificou em segundo lugar para a disputa da segunda fase. Novamente, ficou em segundo lugar, atrás do Marília em seu grupo, classificando-se para o quadrangular final contra Palmeiras, Marília e Sport. Na terceira fase, o Glorioso conseguiu reasceder à Primeira Divisão com uma rodade de antecipação, ao derrotar por 3 a 1 o Marília no reformado Caio Martins. Ao final da competição, ficou colocado como segundo na classificação, atrás do Palmeiras, outro clube que havia caído no ano anterior e retornado para a Séria A. O time base botafoguense durante a competição era: Max, Jorginho Paulista (ou Rodrigo Fernandes), Sandro, Edgar e Daniel; Fernando, Túlio, Valdo e Camacho; Dill (ou Almir) e Leandrão. Os artilheiros da equipe foram Almir com 12 gols e Leandrão com 11. Dill, o mesmo que levou o clube a Segunda Divisão fazendo o gol pelo São Paulo em 2002, fez 8 gols.

O presidente Bebeto de Freitas, durante esse ano de 2003, reestruturou o clube, pagou parte das dívidas, manteve arduamente o salário em dia, assinou com dois patrocinadores: Finta, para confeccionar os uniformes, e a rede de lanchonetes Bob’s, para estampar suas marca nas mangas da camisa e ajudar a construir arquibancadas temporárias no Estádio Caio Martins, e dispensou todos os jogadores de empresários das divisões de base do clube. Também foi criado o Botafogo no Coração, projeto de sócio-torcedor para angariar mais fundos para o clube e identificar seus torcedores.

[editar] De volta à elite

Na sua volta à elite em 2004, o ano do centenário do futebol do clube, a equipe voltou a fazer uma má campanha no Campeonato Brasileiro e só escapou de um novo rebaixamento na última rodada, ao empatar em 1 a 1 com o Atlético Paranaense, em Curitiba, e graças a uma combinação de resultados. Para celebrar o centenário, foram realizados uma série de eventos comemorativos e, também, um jogo festivo contra o Grêmio, por idealização da Kappa. As duas equipes utilizaram uniformes retrô, embora atuassem com times reservas por estarem disputando o Brasileirão. O jogo terminou com vitória por 4 a 1 do Botafogo, no Estádio Caio Martins.

A partir de 2005, o Botafogo, presidido por Bebeto de Freitas, iniciou um processo de estabilização administrativa que se refletia, paulatinamente, em campo. Em 2006, a equipe de futebol profissional encerrou um período de oito anos sem títulos, conquistando suas primeiras taças no século XXI. Venceu a Taça Guanabara e, posteriormente, o Campeonato Carioca, tendo como destaques do time, comandado pelo ex-jogador alvinegro Carlos Roberto, foram Dodô, artilheiro da competição com 9 gols, Lúcio Flávio, Zé Roberto e o capitão Scheidt.

Vista externa do Estádio Olímpico do Botafogo.

Ainda em 2006, Cuca assumiria o cargo de técnico. Seu trabalho daria bons frutos no ano seguinte, quando, jogando um futebol moderno que lhe rendeu o apelido de Carrossel Alvinegro, o Botafogo, guiado por Dodô, Zé Roberto, Lúcio Flávio, Jorge Henrique e Túlio, chamava a atenção. Venceu a Taça Rio, porém, foi vice-campeão do Carioca nos pênaltis, após dois empates em 2 a 2, contra o Flamengo. Apontado como favorito em todas as competições que disputou, o Botafogo acabou não insurgindo em glórias. [28] Na Copa do Brasil, o time foi eliminado nas semifinais pelo Figueirense, em um polêmico jogo,[29] em que teve dois gols seus anulados pela auxilar Ana Paula Oliveira, que viria a ser afastada do esporte. No Brasileiro, a equipe iniciou a campanha bem e liderou o torneio por 11 rodadas, terminando o primeiro turno na segunda colocação, mas problemas internos geraram uma grande queda de rendimento que fez o alvinegro cair pela tabela, terminando na nona colocação, garantindo, pelo terceiro ano consecutivo, a vaga para a Copa Sul-americana. Pela edição desta copa, a equipe caiu nas oitavas-de-final, para o River Plate[30].

Botafogo contra Santos em seu estádio, em outubro de 2008.

O grande marco de 2007 para o Botafogo, porém, foi a conquista do Estádio Olímpico João Havelange. [31] A concessionária Companhia Botafogo, do clube, arrendou a arena, construída para os Jogos Pan-americanos de 2007, até 2027.

Em 2008, o Botafogo foi campeão internacional da Copa Peregrino em meio a pré-temporada. No entanto, nos torneios oficiais, o alvinegro obteve resultados semelhantes aos do ano anterior. Venceu a Taça Rio frente ao Fluminense, porém, foi vice-campeão Carioca novamente. Na Copa do Brasil, o Botafogo foi eliminado, pela segunda vez seguida, nas semifinais, desta vez sendo derrotado para o Corinthians, nos pênaltis. O Glorioso caiu para outro argentino na Copa Sul-americana, o Estudiantes de La Plata, agora, nas quartas-de-final. Já no Campeonato Brasileiro, após um mal momento inicial, com a contratação de Ney Franco[32] para o cargo de treinador, a equipe subiu de rendimento, chegando a flettar com as posições superiores. Todavia, o Botafogo terminou o ano na 7ª colocação do campeonato nacional.

Maurício Assumpção foi escolhido como presidente do clube em 2009 e, imediatamente, encontrou sérias restrições orçamentárias no decurso de reformulação de elenco. Mas, mesmo desacreditado, o time foi campeão da Taça Guanabara. [33] Na Taça Rio, classificou-se para a final, mas deixou escapar a chance de levantar o troféu do Carioca 2009 antecipadamente ao perder por 1 a 0 para o Flamengo devido a um gol contra de Emerson. Durante o primeiro jogo da finalíssima, sofreu um duro baque ao ver seus dois melhores jogadores, Maicosuel e Reinaldo, lesionarem-se em um mesmo lance e serem substituídos enquanto vencia a partida. O Botafogo acabou sucumbindo pela terceira vez seguida na final para o Flamengo, após dois empates em 2 a 2, de novo, nos pênaltis.

[editar] Símbolos

[editar] Estrela Solitária

A Estrela Solitária.

A Estrela Solitária, presente no escudo, na bandeira e na flâmula do clube, era originalmente o símbolo máximo do Club de Regatas Botafogo. De cinco pontas, ela era originalmente em um formato diferente que se consagrou. Tinha em cada ponta uma tonalidade, dividindo-as em preto e branco, dando efeito de sombra. Contudo, foi substituída nos primeiros anos pelo famoso modelo da estrela de cinco pontas branca em um fundo preto.

A Estrela Solitária representava a estrela D'alva e foi adotada por ter sido a primeira estrela a aparecer no céu no dia da fundação do clube[34]. Na verdade, anos depois, após pesquisas, foi se descobrir que aquela estrela era o planeta Vênus.

Com a fusão dos dois clubes, a estrela apontada para o Zênite também foi adotada como símbolo do futebol. O Botafogo de Futebol e Regatas recebeu como um dos apelidos o de clube (ou time) da Estrela Solitária, pois ela passava a estar estampada no escudo das camisas, no peito dos jogadores.

 

AS MÚLTIPLAS IDENTIDADES DO CLUB DE REGATAS VASCO DA GAMA[1]

 

Fernando da Costa Ferreira [2]

 

RESUMO :

 

            O presente trabalho visa analisar as várias facetas que o club de futebol Vasco da Gama apresentou ao longo de sua história a ponto que influenciar na formação de um bairro de igual nome.

 

Palavras-chave : identidade, bairro, Vasco da Gama

 

ABSTRACT

 

            This work sights to analyse the Vasco da Gama’s differents aspects along its history. The past of the club is so important that one district was created with its name.

 

Key-words: identity, district , Vasco da Gama

 

INTRODUÇÃO

 

Neste artigo, não nos preocuparemos em relatar, nos mínimos detalhes, a história do Club de Regatas Vasco da Gama desde a sua fundação até os dias atuais, mas sim, destacar alguns dos fatos mais importantes que marcaram os mais de cem anos de vida da instituição e que trouxeram desdobramentos na organização espacial do entorno do seu estádio. Para tal, mostraremos como o clube modificou a sua identidade esportiva, num primeiro momento, ligada ao remo e, atualmente, vinculada ao futebol; como moldou uma identidade própria a partir de uma identidade portuguesa original; e a sua importância na história recente do Brasil, com destaque para a construção do Estádio de São Januário e a Era Vargas.

Em relação ao papel social desempenhado pela agremiação, vale ressaltar a sua briga em favor da aceitação de atletas não brancos – mesmo que por interesse –, além daqueles pertencentes às camadas sociais menos favorecidas. Entretanto, apesar de reconhecermos o mérito do Vasco da Gama nessa luta, torna-se necessário um reparo sobre o papel pioneiro equivocadamente atribuído ao clube em relação à aceitação desses futebolistas, honra que cabe ao Bangu Atlético Clube, pioneiro na introdução do negro no futebol brasileiro, além da figura do “operário-jogador”, que serviu como ponte entre o atleta amador e o profissional.

 

 

OS PRIMEIROS PASSOS: IDENTIDADE PORTUGUESA E CONSTRUÇÃO SIMBÓLICA

 

No dia 21 de abril de 1898, um grupo de 62 cidadãos, formado por portugueses e luso-descendentes, assinou a ata de fundação do Club de Regatas Vasco da Gama. A princípio, parecia apenas mais um dentre tantos clubes dedicados à prática do remo, esporte mais popular daquela época, a surgir no Rio de Janeiro, na virada do século XIX para o século XX. Porém, nem o mais otimista daqueles homens reunidos no Clube Dramáticos Filhos de Talma, situado à Rua da Saúde, 293 (www.crvascodagama.com) poderia imaginar que a instituição por eles criada como uma forma de lazer para as horas vagas, ultrapassasse a marca dos cem anos, vindo a se tornar internacionalmente conhecida graças a uma modalidade esportiva da qual provavelmente nenhum deles ouvira falar anteriormente: o futebol.[3]

De início, muitos foram os símbolos escolhidos para representar a recém-criada agremiação. Todos eles com o intuito de reforçar ainda mais o seu vínculo com Portugal e com o remo, suas principais referências identitárias.

O nome Vasco da Gama foi escolhido como uma forma de homenagear o quarto centenário da viagem de descoberta do caminho marítimo às Índias empreendida pelo famoso navegador lusitano, comemorado em 1898, ano de fundação do clube. Essa designação, sem dúvida, parecia ser a mais apropriada para simbolizar uma instituição ligada à colônia portuguesa, cujo interesse esportivo inicial ligava-se às regatas disputadas nas outrora limpíssimas águas da Enseada de Botafogo, na Baía de Guanabara.

Não somente a denominação da agremiação unia-a a colônia portuguesa. A adoção de outros símbolos, alguns deles de modo equivocado, reforçou ainda mais essa identidade portuguesa herdada pelo clube desde a época de sua fundação.

Talvez o símbolo vascaíno mais conhecido por parte do grande público seja a “Cruz de Malta”. Tal designação, na verdade, é fruto de um erro histórico. O  verdadeiro nome da cruz presente no escudo, bandeira e uniforme vascaínos é Cruz Patée, ou Pátea[4]. Entretanto, os fundadores do clube cometeram um segundo equívoco ao escolhê-la para simbolizar a façanha do navegador Vasco da Gama, pois, desde o século XIV, por ordem do rei D. Dinis, a cruz que as naus portuguesas portavam era a Cruz de Cristo[5].

 

 

NAVEGANDO EM MEIO ÀS TORMENTAS

 

Em relação à sua origem, não foi apenas o fato de ter sido desde o início um clube ligado à colônia portuguesa que distinguiu o Vasco da Gama dos seus atuais rivais. De acordo com Mattos (1997), o Vasco da Gama, diferentemente de clubes como Flamengo, Fluminense e Botafogo, não contou com a participação de membros pertencentes à elite residente na zona sul carioca, sendo composto principalmente por “comerciantes ou  assalariados portugueses que viviam na zona norte ou nos subúrbios” (p.83).

Entretanto, não tardou para que surgissem os primeiros obstáculos a serem enfrentados pela recém-criada agremiação. Em pouco tempo, disputas internas levaram o clube a sofrer uma cisão em 1899, quando houve a renúncia do primeiro presidente do clube, Francisco Gonçalves do Couto Júnior, que, descontente com alguns entraves na mudança do barracão onde eram guardadas as embarcações, se no Passeio Público ou na Praia de Botafogo, fundou o Clube de Regatas Guanabara, levando consigo boa parte dos associados do Vasco da Gama.

O forte vínculo inicial com Portugal pode ser percebido ao analisarmos o caso do naufrágio, em 1902, da baleeira de 12 remos Vascaína, que resultou na morte de três remadores. Os outros nove, foram salvos por dois pescadores e um menino que receberam o título de sócios do clube, além de uma condecoração por bravura, de um representante do rei de Portugal, D. Carlos (PLACAR, s/d. p.p.25-27).

Em 1904, o clube viria a dar uma amostra do seu caráter social pioneiro ao eleger como presidente Candido José de Araújo, o primeiro negro a exercer tal cargo em uma agremiação esportiva carioca (MALHANO, 2002, p.60).

A conquista do primeiro campeonato carioca de remo viria somente em 1905. Nessa mesma época, começava a ganhar corpo na capital federal, ainda com ares de novidade, um esporte trazido da Europa, que, já há algum tempo, fazia sucesso em São Paulo. Não tardou para que o foot-ball tomasse de assalto o Rio de Janeiro, e a colônia portuguesa não poderia ficar de fora deste baile.

 

 

A VEZ DO FUTEBOL: A NOVA IDENTIDADE

 

Como mostramos anteriormente, a primeira identidade esportiva do Vasco da Gama não se forjou à base do futebol e sim do remo, modalidade que, naquela época, alcançara uma organização invejável, sendo inclusive, desde 1897, possuidora de uma federação própria[6].

Entretanto, já na década de 1910, as regatas passaram a dividir a atenção do público com o futebol, esporte oficialmente trazido ao Brasil em 1894, pelas mãos de um paulistano, filho de britânicos, chamado Charles Miller, considerado por muitos como o introdutor dessa modalidade no Brasil[7]. O foot-ball, como era chamado na época, não tardou a estender os seus tentáculos em direção à então capital federal e o fez pela figura de Oscar Cox, que, em 1897, recém-chegado da Suíça, onde estudara durante alguns anos, não se esqueceu de trazer na bagagem de volta ao nosso país, uma bola para a prática da nova modalidade desportiva[8].

O gosto pelo novo esporte, a princípio, ficou restrito aos círculos mais altos da nossa sociedade, ou então, aos clubes freqüentados pela colônia britânica, como era o caso do Paysandu Cricket Club (Rio de Janeiro) e do Rio Cricket and Athletic Association (Niterói). De acordo com Pereira (2000), naquele tempo “o futebol aparecia como uma espécie de celebração da identidade bretã” (p.27).

Não tardou para que a paixão pelo futebol deixasse os salões da alta sociedade e passasse a chamar a atenção das camadas menos favorecidas da nossa população, conquistando, rapidamente, uma legião de novos e entusiasmados adeptos, que passaram a disputar partidas em campos improvisados em praças, parques e terrenos baldios espalhados pela cidade.

Podemos afirmar que os agentes responsáveis pela disseminação e popularização do futebol sintetizam bem a famosa capacidade de improvisação do povo brasileiro. Nas tradicionais “peladas”, a bola pode ser substituída por diversos outros objetos (meias, laranjas, papel enrolado com fita adesiva etc.), o campo de jogo pode assumir os mais diversos tamanhos e formatos, moldando-se ao terreno no qual a peleja é disputada. A própria superfície tanto pode ser de grama, terra, areia ou cimento. O uso de chuteiras, caneleiras, meiões ou até mesmo do uniforme é perfeitamente dispensável, a largura do gol pode muito bem ser delimitada por árvores, cocos, pedras, pedaços de pau (isso sem contar a altura do travessão que, na maioria das vezes, assume os parâmetros mais subjetivos possíveis, tais como a altura, ou mesmo, até onde chega a ponta dos dedos do goleiro). Isso tudo, aliado à simplicidade das regras do jogo (a lei mais complicada de todas, a do impedimento, é solenemente ignorada nesse tipo de disputa). Dessa forma, o “peladeiro” simbolizaria o povo brasileiro, que precisa usar da sua habilidade para driblar os obstáculos que lhe são impostos pela vida afora, representados, no campo de jogo, pelos zagueiros adversários, árvores, buracos, animais, canos de irrigação e tudo aquilo que lhe aparecer pela frente[9]; ou, como bem definiu o pentacampeão do mundo, Ronaldinho Gaúcho, em entrevista publicada no jornal O GLOBO de 16 de fevereiro de 2003, “é numa pelada que a gente se sente livre, que a gente se sente brasileiro”. (p.45)

Voltando à história do Vasco da Gama, no dia 20 de julho de 1913, o Botafogo F.C. convidou um combinado português formado por jogadores do Benfica, Lisboa e Clube de Tiro & Sport[10] (MALHANO, 2002, p.78) que excursionava pelo nosso país[11]. A vitória da equipe visitante por 1 x 0 gerou um clima de euforia no seio da numerosa colônia portuguesa residente no Rio de Janeiro. Não tardou para que surgissem três clubes dedicados exclusivamente à prática futebolística: o Centro Esportivo Português, o Lusitano (que tiveram curta duração) e o Lusitânia F.C.. Exatamente o Lusitânia, recusado em 1915 pela Liga Metropolitana de Sports Athléticos (L.M.S.A), devido ao seu regulamento altamente restritivo (só permitia a presença de portugueses), uniu-se nesse mesmo ano ao Club de Regatas Vasco da Gama, que admitia a presença de brasileiros em seu quadro associativo, dando início ao departamento de futebol do clube. A fusão foi oficializada no dia 26 de novembro de 1915, apesar da oposição do grupo de remadores vascaínos. 

Como toda equipe iniciante, o Vasco teve que começar pela base da pirâmide futebolística. Da Terceira Divisão, para ser mais exato. A estréia, marcada para o dia 3 de maio de 1916 não poderia ter sido mais desastrosa: a derrota por 10 x 1 para o Paladino parecia mostrar que se tratava de apenas mais um clube de duração efêmera, um delírio da colônia lusitana[12].

A partir de 1917, teve início a grande virada. O nível da equipe começou a melhorar, graças à aceitação de jogadores pobres, notadamente negros e mulatos, escolhidos nas peladas do subúrbio e em clubes pequenos.

É preciso deixar bem claro que a aceitação desses atletas em nada se deveu a uma desinteressada expressão de benevolência por parte dos dirigentes vascaínos, nem, como afirma Rosenfeld (1993), representaria uma “postura tipicamente portuguesa da democracia racial” (p.97). Naquela época, tal prática era bastante difundida nos clubes suburbanos e equipes ligadas ao ambiente fabril. A grande diferença foi que, o Vasco da Gama, por ter o suporte financeiro de parte da colônia portuguesa, tinha condições de recrutar aqueles elementos que mais se destacavam nas peladas e equipes suburbanas, algo totalmente fora de cogitação entre as equipes de maior tradição, compostas por acadêmicos, filhos das “boas famílias” cariocas.

Entretanto, muito antes do Vasco da Gama passar a adotar negros, mestiços e operários em suas fileiras, tal atitude já era prática comum em outras agremiações, como foi o caso do Andaraí, no início da década de 1910, sendo que, o papel de pioneiro em relação à aceitação de membros das camadas menos favorecidas cabe ao Bangu Atlético Clube, que já em 1905 apresentava em seu time principal o operário negro Francisco Carregal (PEREIRA, 2000). Vejamos então qual o verdadeiro papel desempenhado pelo Vasco da Gama em relação ao processo de democratização pelo qual passou o futebol brasileiro a partir da década de 1920.

 

 

O TIME DE 1923: O FUTEBOL ASSUME NOVAS CORES

           

Apesar do exemplo pioneiro dado pelo Bangu ainda na primeira década do século passado, durante longo tempo, a discriminação racial no futebol foi algo institucionalizado, fazendo parte, inclusive, dos regulamentos de instituições esportivas como o Club Sportivo dos Liberais que, em 1906, deixava bem claro em seus estatutos que aceitava um “ilimitado número de sócios de qualquer nacionalidade, exceto pessoas de cor”[13] (PEREIRA, 2000, p.66).

Exemplo clássico de discriminação racial presente na história do futebol carioca foi o de Carlos Alberto, ex-jogador do Fluminense, time ligado à elite, que, ao ser chamado de “mulato pernóstico” durante partida válida pelo campeonato de 1914, passou a entrar em campo com o rosto coberto de pó-de-arroz para disfarçar o tom escuro de sua pele. No entanto, com o correr do tempo e o calor da disputa, sua maquiagem começou a derreter. Logo, um torcedor mais exaltado chamou-o de “pó-de-arroz”, tornando-o motivo de chacota por parte da assistência. Moral da história: Carlos Alberto foi expulso do Fluminense e, surpreendentemente, o pó-de-arroz foi apropriado pela sua torcida, transformando-se num dos símbolos que compõem a identidade tricolor, pois, como afirma Mattos (1997) “afinal, o pó-de-arroz era um produto fino, usado por reis e nobres de cortes européias. Que mal havia em ser reconhecido como o nobre que era na sociedade carioca?” (p. 52).

 Em 1923, o Vasco da Gama estreava na Primeira Divisão do futebol carioca. A princípio, a chegada de uma equipe recheada de jogadores negros, mulatos e brancos pobres foi minimizada pelos dirigentes das grandes equipes, pois esportistas com essas características não eram figuras raras de se encontrar, principalmente em equipes ligadas ao setor fabril, como Bangu, Vila Isabel e Andaraí. Somente quando a bola começou a rolar é que o Vasco passou verdadeiramente a incomodar à elite esportiva e social da capital federal. O triunfo daquele escrete totalmente fora dos padrões do futebol praticado na época representou um verdadeiro escândalo. Jamais um time com tais características, desafiara a hegemonia dos jovens bem nascidos, bem educados e bem nutridos de Fluminense, Botafogo, América e Flamengo.

A reação contrária ao sucesso do conjunto debutante foi imediata. Logo surgiram acusações de que os seus jogadores não passavam de profissionais disfarçados, o que era proibido na época[14]. Mesmo assim, nada foi comprovado a esse respeito, pois de acordo com o relato de Assaf (1997):

 

Como o profissionalismo ainda estava longe de ser admitido, os jogadores foram todos registrados como funcionários dos estabelecimentos comerciais dos portugueses. Dessa forma burlavam as leis estabelecidas pela Liga e pela comissão de sindicância da entidade. Quando seus principais membros, Reis Carneiro, do Fluminense, Armando de Paula Freiras, do América, e Diocésano Ferreira Gomes, do Flamengo e do Correio da Manhã chegavam às firmas lusitanas para constatar a veracidade das informações do Vasco, os gerentes alegavam que os empregados estavam realizando “serviços externos” (p. 113).

 

Ainda segundo Assaf, os atletas – poderíamos chamá-los assim –  vascaínos, na verdade, estavam treinando a parte física, algo inimaginável naquela época. Era comum vê-los correndo da Rua Morais e Silva – onde ficava o campo do clube – até a Praça Barão de Drummond, em Vila Isabel. Após os treinamentos, os jogadores podiam almoçar de graça no restaurante Filhos do Céu, na Praça da Bandeira. Além disso, o clube ainda lhes fornecia alojamento. Também eram pagos prêmios por vitória, os populares “bichos”[15]. Não é de se estranhar que a maior parte dos triunfos da equipe acontecesse no segundo tempo das partidas, quando o melhor preparo físico dos “camisas pretas”[16] se sobressaía[17].

A verdade é que, muito antes do Vasco da Gama, outras equipes cariocas possuíam esquemas próprios para burlar o regulamento que proibia qualquer tipo de remuneração aos atletas. É o que bem nos mostra Pereira (2000):

 

(...) O processo era simples, tendo sido descrito ainda em seu princípio, em 1915, por um jornal carioca: atraindo para seus quadros um exímio jogador que “por achar-se desempregado, sem recurso e com dificuldade para colocar-se, ele, em troca dos seus esforços, exige que lhe dêem uma módica quantia que especifica”, os clubes lhe arranjavam “um emprego qualquer (...) que só serve para constar, pois o ordenado estipulado sai, mas é dos cofres do club”. (p.310).

 

Caso emblemático, que bem mostra a antipatia que o team cruzmaltino despertava em seus adversários, ocorreu, no dia 8 de julho de 1923, quando o Estádio das Laranjeiras abrigou o match entre as equipes do Vasco da Gama e Flamengo. Boa parte da platéia que lotou as dependências do ground tricolor era composta por torcedores do Fluminense, Botafogo e América, que se uniram para torcer pelo Flamengo, algo difícil de se imaginar nos dias atuais. Com a vitória do time da Rua Paissandú[18], contra o onze da Morais e Silva[19] por 3 a 2[20], ao término da partida, as torcidas adversárias promoveram um verdadeiro carnaval fora de época                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           pelas ruas da zona sul da cidade, festejando a vitória dos “filhos de boas famílias” sobre o time dos “caixeiros, negros e analfabetos”. Ainda como parte das comemorações, a estátua de Pedro Álvares Cabral amanheceu com “réstias de cebola e plantaram tamancos de 2m de altura na frente da sede do Vasco, na Rua Santa Luzia, no centro[21]” (PLACAR, s/d, p.28)[22].

De acordo com as nossas observações, ao contrário do que é amplamente divulgado por pesquisadores do futebol, a perseguição sofrida pelo Vasco da Gama a partir de 1923 teve um outro componente além da questão amplamente difundida relacionada à presença de negros e pobres na equipe. Mostraremos desta maneira que a esses dois fatores podemos somar mais um: o sentimento antilusitanista ainda bastante presente no Rio de Janeiro da década de 1920.

 

 

RACISMO E ANTILUSITANISMO

 

Como vimos anteriormente, o Vasco da Gama não foi o primeiro clube a aceitar jogadores negros e pobres em suas fileiras. Tais características daquela equipe são amplamente relacionadas como sendo as únicas responsáveis pela intensa campanha sofrida pelo clube no ano da conquista do seu primeiro título na Primeira Divisão. Entretanto, acontecimentos como o ataque a símbolos lusitanos – a estátua de Pedro Álvares Cabral e os tamancos colocados em frente à sede da instituição – mostram que a intensa comemoração dos torcedores adversários após a derrota vascaína para o Flamengo em 1923 tinha também como alvo a comunidade portuguesa. Tal atitude, longe de representar uma simples e ingênua brincadeira, serviu para mostrar uma outra face do preconceito enfrentado por aquela equipe: o sentimento antilusitanista, muito comum no Rio de Janeiro durante a República Velha (1889-1930). Procuraremos então, comprovar que a campanha empreendida contra o Vasco da Gama possuía um caráter muito mais amplo do que se costuma divulgar, sendo possuidora de um cunho racista, elitista e xenófobo, representado pela perseguição à “maldita” tríade preto – pobre – português.

A passagem do século XIX para o século XX caracterizou-se por um intenso fluxo de imigrantes europeus em direção ao Rio de Janeiro, que em 1890 representavam 30% da população da cidade, dois terços deles, vindos de Portugal (CHALHOUB, 2001, p.p. 43-44). De acordo com o censo de 1920, a população total da capital federal chegava a 1.157.873 habitantes, dos quais 172.338 portugueses, ou seja, 14,88% do total[23]. A chegada maciça de lusitanos, principalmente após a libertação dos escravos, acentuou ainda mais a disputa por empregos entre o elemento nacional e o português que “vai ocupando o mercado de trabalho que passa de africano a luso-africano e a totalmente português, nos anos imediatamente posteriores à Abolição” (RIBEIRO, 1990, p.p. 14-15). De acordo com Alves (1999), além de dominarem o comércio retalhista de secos e molhados e de exercerem o ofício de artesão, os portugueses passaram a ocupar serviços anteriormente reservados aos escravos (pedreiros, carpinteiros, cocheiros, estivadores), ou então novas funções, tais como ferroviários e motorneiros de bonde, decorrentes das obras de infra-estrutura pelas quais passaram as maiores cidades brasileiras, além de se empregarem na incipiente indústria da época (p. 60).

Não é de se estranhar que os conflitos entre brasileiros e portugueses se multiplicassem pela então capital federal, tanto que Ribeiro (1990) afirma que “seguindo uma tradição colonial, o grito de ‘mata galegos’ era continuamente reeditado ao alvorecer da vida republicana” (p. 10). Sobre o imigrante português, principalmente o comerciante, pairava entre as classes populares a imagem daquele sujeito bronco, analfabeto e adulterador do peso (ALVES, 1999, p.p. 39-40). Por outro lado, a classe dominante daquela época procurava difundir uma outra imagem do trabalhador português, identificando-o como um sujeito ordeiro, disciplinado, apolítico, ou seja, exatamente o contrário da idéia que se tinha do trabalhador brasileiro, especialmente o ex-escravo, visto como indolente, indisciplinado e pouco afeito ao trabalho. Esse jogo das identidades patrocinado pela elite tinha o intuito de acirrar ainda mais as tensões entre esses grupos. Paralelamente a isso, segundo Alves (1999), havia uma clara divisão da imprensa da época entre publicações de cunho lusófobo e lusófilo[24]. Chalhoub (2001), lembra que para a implantação de uma nova ordem burguesa na jovem república “o conceito de trabalho precisava se despir de seu caráter aviltante e degradador característico de uma sociedade escravista, assumindo uma roupagem nova que lhe desse um valor positivo” (p. 65). Tal caráter positivo seria representado pelo imigrante europeu, o que foi usado também como pretexto para a política branqueamento da população brasileira promovida durante a República Velha.

Ao mesmo tempo, havia um esforço por parte das classes dominantes de se eliminar todo e qualquer resquício que remetesse ao nosso passado colonial-escravista. Para tal, transformações radicais deveriam ser feitas para que o nosso país pudesse ser visto com outros olhos diante do dito “mundo civilizado”. A cidade do Rio de Janeiro por ser a capital federal deveria servir como a grande vitrine desse novo Brasil diante do resto do mundo. Para simbolizar a crescente integração da nossa economia ao contexto capitalista internacional daquele tempo, fazia-se necessário que tivéssemos uma capital à altura das grandes cidades européias ou até mesmo das vizinhas Buenos Aires e Montevidéu. Diversos esforços foram feitos para torná-la mais “civilizada”, ou seja, mais européia aos olhos de quem chegava de fora. Intervenções urbanísticas como a Reforma Passos (1902 – 1906) e a demolição do Morro do Castelo durante a Reforma Sampaio (1921 – 1923) foram feitas para eliminar os resquícios da cidade colonial, suja, de ruas estreitas, escuras, basicamente africana e portuguesa, transformando-a numa cidade européia (francesa) de largas avenidas, amplos boulevards e construções monumentais, com a finalidade de adequar a forma urbana às necessidades reais de criação, concentração e adequação do capital daquela época (ABREU, 1997, p. 59). Havia uma verdadeira obsessão em se transformar o Rio de Janeiro numa “Paris nos trópicos”. A própria difusão do futebol representava também o esforço de facilitar a inserção do nosso país no contexto capitalista da época, ensinando aos brasileiros a capacidade de reproduzir num campo de jogo, o espírito solidário, de equipe, muito parecido com o que se deveria ser seguido no ambiente de trabalho, especialmente nas fábricas.

Sendo assim, não havia espaço para as culturas portuguesa e afro-brasileira no novo modelo de país que surgia. A estes dois grupos cabia o papel de fornecedores de mão-de-obra para o comércio e a indústria, disputando um mercado de trabalho saturado, servindo também como exército de reserva. O futebol, pelas mãos do Vasco da Gama, serviu então para – mesmo que devido a um jogo de interesses – uní-los. Ao negro, cabia entrar com o “pé-de-obra” e ao português, o suporte financeiro. O sucesso dessa aliança foi alcançado em grande parte devido à capacidade do negro com a bola nos pés, já que em outras atividades como no comércio ele era claramente preterido pela comunidade lusitana, pois como nos mostra Chalhoub (2001), havia uma nítida preferência do comerciante português em empregar um patrício seu – geralmente um parente vindo de Portugal ainda menino – a ter como funcionário um brasileiro, visto como indolente, malandro e preguiçoso. No caso do futebol, ao português interessava a vitória no campo de jogo; aos jogadores, não apenas os negros, mas todos eles, incluindo mestiços, analfabetos, brancos pobres (inclusive lusitanos), a chance de ascensão social que lhes era negada por uma sociedade de caráter altamente excludente. Desse casamento de interesses preto – pobre – português nasceu a equipe que ajudaria a moldar uma nova face ao futebol brasileiro.

Voltando ao contexto da época, vale lembrar que em 1923 a cidade acabara de assistir ao desmonte de grande parte do Morro do Castelo durante a administração Carlos Sampaio (1920-1922), como parte dos preparativos com vistas à Exposição Internacional de 1922, ponto alto das comemorações do Centenário da Independência, que objetivava mostrar aos olhos do mundo, a partir da capital, uma imagem de Brasil moderno e civilizado. A demolição daquela elevação tida por alguns como “colina sagrada” e por outros como “dente cariado” da cidade representou para os antitradicionalistas a luta “pela invenção de uma outra tradição que evocasse idéias e valores afinados com a modernidade pretendida” (MOTTA, 1992, p. 65). Praticamente ao mesmo tempo em que se punha abaixo um dos maiores símbolos do passado colonial da cidade vista como atrasada, pobre, luso-africana para dar lugar à modernidade, surgia um time de futebol – esporte visto como mais um símbolo da modernidade – exatamente com a imagem que a nossa elite tentara sepultar a partir da ideologia classificada por Barros (2002) como “Abaixo Portugal, viva a França!” (p. 66).

O futebol, como não poderia deixar de ser, refletia a situação daquela época. Basta lembrar que em 1921 o então Presidente da República, Epitácio Pessoa encaminhara ofício a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) solicitando a não convocação de atletas negros com vistas à disputa do Campeonato Sul-Americano de futebol daquele mesmo ano a ser realizado na Argentina (SUSSEKIND, 1996, p.17). Tal proibição partira da presidência sob a alegação de que poderia haver um desgaste da imagem do Brasil, cujos jogadores foram, um ano antes, retratados numa charge publicada por um jornal de Buenos Aires como macaquitos, devido à presença de atletas negros na nossa Seleção (AGOSTINO, 2002, p.42; JORNAL DA TARDE, 5 de julho de 2002). Tal denominação, de cunho pejorativo, é até hoje utilizada por torcedores argentinos e uruguaios para identificar os brasileiros.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              

Podemos então ter uma idéia do escândalo provocado por aquela equipe, já que, estavam representados num mesmo time todos os elementos dos quais a elite carioca procurava esconder (negros, pobres, portugueses, analfabetos). Daí a união promovida por todas as torcidas dos grandes clubes da época contra aquele time, tendo como palco o Estádio das Laranjeiras, ele mesmo construído ao estilo dos grounds ingleses para o Campeonato Sul-Americano de 1919, como símbolo de um Brasil moderno.

            Aproveitando uma expressão cunhada por Abreu (1997) ao escrever sobre as diferenças entre a Zona Norte e a Zona Sul carioca na virada do século XIX para o XX, o feito daquela equipe representou a vitória da associação trem – subúrbio – população de baixa renda sobre a associação bonde, zona sul, estilo de vida moderno.

O fato do Vasco da Gama não ter sido o primeiro clube a aceitar jogadores negros e operários, em nada apaga os méritos do clube. O que a instituição fez naquele longínquo ano de 1923 – mesmo que essa não tenha sido a sua intenção – foi mostrar a todos algo que já não havia mais como esconder: o fato de que o futebol há muito tempo rompera os limites étnicos e sociais impostos desde a sua chegada ao Brasil. O esporte deixara de ser algo branco, aristocrático, fleumático para se tornar mestiço, popular, vibrante. Apesar de toda a ligação inicial do clube com Portugal, o triunfo vascaíno, com um time recheado de negros, mulatos, brancos pobres e analfabetos[25], marcou o início de um futebol genuinamente brasileiro. Além do mais, abriu uma das poucas possibilidades de ascensão social para os componentes das classes menos favorecidas, que viam – e até hoje vêem –  no futebol uma chance de vencer as adversidades impostas por uma vida miserável e com pouquíssimas perspectivas de melhora. Desta forma, estava aberto o caminho para que o esporte deixasse de vez os salões da burguesia e passasse a se oficializar como uma manifestação de cunho popular, transformando-se num dos mais importantes agentes responsáveis pela construção de uma identidade eminentemente brasileira.

 

 

A CISÃO DE 1924: DISCRIMINAÇÃO E EXCLUSÃO SOCIAL

 

A conquista do Vasco da Gama, em 1923, com um time totalmente fora dos padrões do circuito elitista do futebol daquela época, quebrou a hegemonia dos quatro grandes clubes cariocas – Fluminense, Botafogo, América e Flamengo – que prontamente se uniram visando à restauração da antiga ordem futebolística[26]. 

O ano de 1924 marcou uma cisão no futebol carioca. Insatisfeitos com os estatutos da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT)[27], que davam direito de voto às agremiações de menor porte, Flamengo, Fluminense, América, Botafogo e Bangu desligaram-se da LMDT para fundar a Associação Metropolitana de Esportes Athléticos (AMEA).

Apesar de não deixar explícita a recusa à inclusão de negros e pobres, o regulamento da nova liga incluía uma série de artigos que inibiam a presença desses grupos. As equipes deveriam ser formadas por estudantes ou trabalhadores que não exercessem profissões subalternas, exceção feita aos operários, afinal o time do Bangu jamais chegara a incomodar os grandes (MATTOS, 1997, p.87)[28]. Outro artigo do estatuto da AMEA vetava a participação de jogadores analfabetos. Mais uma vez, a diretoria do Vasco da Gama entrou em ação, contratando professores para que os seus atletas ao menos tivessem condições de assinar a súmula dos jogos.

O fato que culminou com a não aceitação do Vasco da Gama na AMEA foi a exigência por parte dessa associação de que o clube desligasse de seus quadros doze de seus jogadores, justamente os negros e operários. Como resposta a essa exigência, no dia 7 de abril de 1924, o presidente do clube, José Augusto Prestes enviou ao presidente da AMEA, Arnaldo Guinle a seguinte carta[29], que reproduzimos na íntegra:

 

Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.

Ofício nr.261
Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle

M.D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos
As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.

Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado
(a) Dr. José Augusto Prestes

Presidente[30]

 

Além das restrições impostas à participação do Vasco da Gama no campeonato promovido pela AMEA em 1924, havia também um artigo no regulamento da associação que somente permitia a filiação de clubes que apresentassem estádios em condições para a prática do futebol e o esburacado campo utilizado pelo Vasco na Rua Morais e Silva apresentava-se em precário estado. Deu-se início então ao processo que culminou na construção de uma nova praça de esportes – a maior da América do Sul até então – para abrigar a equipe dos “camisas pretas”. Fruto dos esforços de grande parte da colônia portuguesa, foi erguido o Estádio Vasco da Gama, popularmente conhecido como Estádio de São Januário, como veremos a seguir.

 

 

O ESTÁDIO DE SÃO JANUÁRIO: UM MONUMENTO NO SUBÚRBIO

 

A difícil aceitação do Vasco da Gama por parte dos clubes tradicionais fez com que influentes nomes da colônia portuguesa do Rio de Janeiro se unissem em torno de um ambicioso projeto. A construção do maior estádio da América do Sul, representou o seu ingresso no seleto grupo das grandes equipes do futebol carioca.

            Muito mais que um desafio, vale ressaltar a força que a construção de um equipamento de tamanha dimensão representa tanto ao nível do simbólico quanto do concreto, criando uma territorialidade própria, um exemplo daquilo que Brunet (1992) chamara de “hauts lieux” (lugares memoráveis), fonte tanto de identidade coletiva quanto de atividades econômicas (p.232), reforçando o sentimento de pertencimento, palco de cristalização das representações coletivas, dos símbolos que se encarnam nesses lugares memoráveis (p.436).

O dinheiro arrecadado numa coleta realizada entre a numerosa colônia lusitana, foi utilizado na compra de uma imensa área de 65.445m², em São Cristóvão, pertencente aos Srs. Carlos Kuenerz e Margarida Kuenerz, no ano de 1925 (MALHANO, 2002, p.p. 97-98)[31].

Na década de 1920, o bairro de São Cristóvão perdera definitivamente qualquer resquício do outrora bairro imperial, aristocrático, ou como afirma Strohaecker (1989), “bairro elegante”, já que as famílias mais abastadas há muito tinham se mudado para outros pontos da cidade, como Botafogo, Flamengo e Laranjeiras. São Cristóvão assumira o papel de bairro industrial e proletário, passando a ser ocupado por uma população predominantemente de origem operária, com as antigas propriedades anteriormente pertencentes aos nobres e aos cidadãos mais abastados, sendo gradativamente substituídas por indústrias e pela população com menos recursos. A combinação entre a disponibilidade de grandes terrenos a preços acessíveis, nos “fundos” do bairro, com a facilidade de acesso proporcionada pelo transporte feito por bondes[32], somado à sua grande infra-estrutura, ao nosso ver, parecem ter sido fatores determinantes para a escolha de São Cristóvão como sede para o imponente estádio do clube.

Poderíamos também apontar alguns fatores secundários responsáveis pela instalação do Estádio de São Januário em São Cristóvão, tais como: a relativa proximidade com o antigo campo da Rua Morais e Silva e com a zona portuária, parte da cidade onde o clube fora fundado; a existência de uma numerosa colônia portuguesa em São Cristóvão, composta tanto por moradores quanto por comerciantes e industriais; a identificação do bairro com Portugal, construída desde a chegada da Família Real, em 1º de janeiro de 1809 à Quinta da Boa Vista.

A compra do terreno foi apenas o primeiro passo, faltava agora iniciar as obras de construção do estádio. A pedra fundamental da obra foi lançada no dia 6 de junho de 1926, sendo contratada para tocar a obra a construtora Christiani & Nielsen, que pouco antes fora responsável pela construção do Jockey Club Brasileiro, na Gávea[33].

Surge então um novo problema que poderia ilustrar bem o sentimento antilusitanista ainda reinante na época: foi negado ao clube, por parte do presidente da República, Washington Luís, que se importasse cimento belga[34], mesmo sabendo que o país não dispunha de quantidade suficiente desse produto para uma obra de tamanha envergadura. A solução encontrada pela construtora foi a de misturar em cada pá de cimento, duas pás e meia de areia e três e meia de pedra britada. A quantidade de água utilizada foi reduzida ao mínimo necessário. A obra alcançou números impressionantes para a época: foram utilizados 6.600 barris de cimento e 252 toneladas de ferro (MALHANO, 2002, p.140).

Menos de onze meses depois, no dia 21 de abril de 1927, contando com a presença do presidente Washington Luis, o mesmo que dificultara a realização da obra, o Vasco da Gama inaugurava o Estádio Vasco da Gama, mais conhecido como Estádio de São Januário[35], com capacidade para 40.000 torcedores, com um amistoso entre a equipe da casa e o Santos Futebol Clube, com vitória dos visitantes pelo placar de 5 a 3[36]. Mais do que representar o seu ingresso no seleto grupo dos grandes clubes cariocas, a figura do estádio passou a constituir, a partir daí, a principal referência identitária e territorial do clube com os seus torcedores, pois, lembrando Claval, “os grupos só existem pelos territórios com os quais se identificam” (1999, p.11). Além disso, apesar de ser um espaço privado, passou a ter seu uso apropriado pelo poder público, palco de manifestações de cunho populista e nacionalista especialmente durante o governo Getúlio Vargas, sobre o qual trataremos na próxima seção.

 

 

A ERA VARGAS: CENTRALIDADE E POPULISMO

 

São Januário foi, desde a sua inauguração, em 1927, até 1942, quando ficou pronto o Estádio do Pacaembu, em São Paulo, o maior estádio brasileiro, e, até 1950, com a conclusão das obras do Maracanã, por ocasião do IV Campeonato Mundial de Futebol, o maior estádio do Rio de Janeiro. Portanto, durante mais de vinte anos, o campo do Vasco da Gama constituiu-se no principal palco para as competições futebolísticas na capital federal, sediando inclusive, o Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1949, vencido pelo escrete azul e branco[37].

O estádio, no entanto, não possuía função restrita somente à prática do futebol. Sua importância transcendia em muito à esfera esportiva, servindo como um dos grandes cenários da vida política e social do país. Suas dependências foram inúmeras vezes palco de manifestações cívicas. Não é de se espantar que tenha sido utilizado como palanque por diversos presidentes da República.

De todos eles, sem dúvida alguma, aquele que melhor soube aproveitar esse palanque foi Getúlio Vargas, especialmente durante o Estado Novo (1937-1945). A Tribuna de Honra do estádio testemunhou alguns de seus mais famosos discursos[38]. A apropriação política deste espaço em muito teve a ver com o programa populista promovido por Vargas de se elevar o carnaval, o samba e o futebol à condição de símbolos de identidade nacional (ORTIZ, 1994, p.23). Agostino (2002) destaca a exaltação por parte do poder central da presença de atletas negros na delegação brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1938, tratada como símbolo da democracia racial brasileira, algo inimaginável alguns anos antes. Para o autor, o futebol, de acordo com a propaganda estadonovista teria sido reinventado pelos nossos jogadores, tornando-se síntese da capacidade e originalidade brasileira (p.p. 142-143). O sucesso do escrete de 1938 fez com que Getúlio Vargas percebesse o poder que o esporte desempenhava como uma das formas mais eficientes de contato com as massas, sendo então elevado à categoria de “patrimônio nacional” (FRANZINI, 1998). Costa (2001) afirma que a base ideológica do Estado Novo apoiava-se à semelhança do fascismo, em “identificar a todo custo o povo com a nação e esta com o ditador” (p. 46). O uso e a apropriação de grandes espaços públicos com fins políticos a partir de grandes celebrações de exaltação do caráter cívico nacional foi outra característica do fascismo italiano copiada por Vargas. Sendo assim, fica fácil entender o porque da utilização do Estádio de São Januário por parte do governo em sua tentativa de construir a todo custo a imagem de um país moderno a partir da promoção da industrialização e de mudanças estruturais da sociedade.

Motta (2004) aponta as comemorações cívicas realizadas em São Januário como um dos três empreendimentos – os outros dois seriam a abertura da Avenida Presidente Vargas e a construção dos prédios dos Ministérios da Educação e Saúde, do Trabalho e da Fazenda – que objetivavam tornar a cidade do Rio de Janeiro o lugar de onde emanaria a centralização político-administrativa do Estado Novo, a partir do qual Vargas exerceria o seu poder pessoal. Segundo a autora, como forma de reafirmação da capitalidade do Rio de Janeiro, a cidade deveria “inscrever em seu tecido urbano a presença do Estado e os valores do nacionalismo conectado ao universal” (p. 39). Dessa forma, a capital do Estado Novo teria a função de representar o espaço no qual a população manifestaria o seu apoio ao governo em cerimônias de caráter cívico[39].

Não por acaso, as duas maiores manifestações de civismo da época, as festas de 1º de maio – em homenagem ao Dia do Trabalho –, e de 7 de setembro – Dia da Independência – tinham, desde 1939, São Januário como local utilizado para tais comemorações. Numa dessas celebrações, no ano de 1940, o presidente Getúlio Vargas instituiu o salário mínimo. Na comemoração de 1943, o mesmo Vargas assinou decreto promulgando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de grande valia para toda a classe trabalhadora brasileira (MALHANO, 2002, p.p. 204-218). Tais atos projetaram ainda mais a figura de Vargas como o grande protetor da classe trabalhadora, vindo mesmo a receber o apelido de “pai dos pobres”.

 

 

[editar] História

A História do Fluminense Football Club, clube de futebol do Rio de Janeiro, iniciou-se em 1902, com a sua fundação.

[editar] Da fundação ao Tetracampeonato (1902 a 1909)

Oscar Alfredo Cox foi sem dúvida o principal desbravador da grande obra. Filho de George Emmanuel Cox e Minervina Dutra, foi ele quem planejou, articulou e reuniu os jovens que concretizaram o seu sonho: o de formar um clube voltado para a prática do futebol. Tenho dúvidas se Cox imaginava que o clube despontaria no correr dos anos como símbolo e modelo das organizações esportivas no Brasil e no mundo, detentor do prêmio máximo dos esportes, que é a Taça Olímpica.

Naquele 21 de julho de 1902, estiveram presentes, no palacete de Horácio da Costa Santos situado à Rua Marquês de Abrantes número 51, jovens das mais conceituadas e ilustres famílias do Rio de Janeiro, dentre os quais Júlio de Moraes e Mário Rocha. Ao todo, foram 20 os sócios fundadores: Oscar Cox, Horácio da Costa Santos, Júlio de Moraes, Mário Rocha, Félix Frias, Walter Schuback, Mário Frias, Heráclito de Vasconcelos, João Carlos de Mello, Domingos Moitinho, Louis da Nóbrega Júnior, Arthur Gibbons, Virgílio Leite, Manoel Rios, Américo da Silva Couto, Eurico de Moraes, Victor Etchegaray, A. Mascarenhas, Álvaro Drolhe e A. Roberts. Estava fundado o Fluminense Football Club.

Após a fundação, com Cox eleito o primeiro presidente, o Fluminense aluga um terreno no bairro de Laranjeiras, junto à tradicional família Guinle. O espaço é grande, perfeito para a realização de jogos de futebol. Ao fundo, um barracão funcionaria provisoriamente como a primeira sede. A notícia foi comunicada na reunião do dia 17 de outubro, realizada no Clube das Laranjeiras.

O primeiro uniforme do clube era muito bonito. As camisas eram nas tonalidades cinza e branco, metade de cada cor, os shorts eram branco e as meias pretas. O escudo tinha as iniciais “F.F.C.” bordadas em vermelho. Já a bandeira era formada por dois triângulos escalenos, sendo um na cor branca e outro na cor cinza, com o escudo bordado na parte de cima da bandeira, mais para o canto esquerdo, onde ficava a parte branca.

Depois da fundação, da escolha do campo e do seu primeiro uniforme, o Fluminense enfrentou o seu primeiro adversário no campo do Paysandu Cricket Club, no dia 19 de outubro de 1902. O jogo foi contra o Rio Football Club e o placar foi um acachapante 8 x 0 para o Fluminense, com gols de Horácio da Costa Santos (3), Heráclito de Vasconcellos (2), Félix Frias, Eurico de Moraes e Simonsen (1). O time foi: Américo Couto; M. Frias e V. Etchegaray (cap.); Mário Rocha , Oscar Cox e W. Schuback; A. Simonsen ; E. Moraes; Costa Santos , H. Vasconcellos e F. Frias. Sendo que o primeiro gol da história do Fluminense foi marcado por Horácio da Costa Santos.

Ainda em 1902, o clube formou uma equipe de atletismo, que disputou em Niterói os jogos comemorativos da coroação do Rei Eduardo VII da Inglaterra, a convite do Rio Cricket. Victor Etchegaray foi o destaque do Fluminense, conseguindo o primeiro lugar na prova eliminatória de 100 jardas e ficando com o segundo lugar na prova final.

No ano seguinte, o clube viajou para São Paulo para realizar os primeiros amistosos interestaduais e retornou invicto! No primeiro encontro, houve empate com o Internacional em 0 a 0, com grande atuação do goleiro Cruickshanck. Depois, brilhante vitória sobre o Paulistano de Charles Muller por 2 a 1, e esplêndido triunfo sobre os jovens do São Paulo, campeões paulistas daquele ano. O time do Fluminense formou com: Cruickshank, J. Robinson e Victor Etchegaray; F. Moreton, Brooking e E. Etchegaray; C. Robinson, Horácio da Costa Santos, Edwin Cox, Heráclito de Vasconcellos e Félix Frias. Nascia a rivalidade entre cariocas e paulistas.

Em 1904, ao viajar para Londres, Oscar Cox e Mário Rocha se vêem diante de um impasse. É que o então uniforme do clube, era de rara fabricação nas casas de esportes londrinas, o que fez com que Cox e Rocha procurassem por outro uniforme. E de tanto procurar, eles encontraram uma linda camisa tricolor, nas cores verde, grená e branco. Imediatamente, redigiram e enviaram uma correspondência para os sócios do clube relatando os fatos ocorridos e propondo a mudança do uniforme atual pelo tricolor. A proposta foi colocada na pauta de votação do dia 15 de julho e aceita por unanimidade.

O último jogo com o uniforme branco e cinza ocorre no amistoso contra o Rio Cricket no dia 29 de junho, com a vitória do Fluminense por 4 x 0.

A essa altura, o Fluminense já gozava de prestígio na sociedade e muitos clamavam por um campeonato. O inglês Cruickshanck era considerado o melhor goal keepper da cidade; Victor Etchegaray era o maior ídolo do clube, tanto pela sua simpatia quanto pela sua habilidade com a bola; Oscar Cox era sempre exaltado pelos jornais da época pela sua disposição física e talento, enquanto que Horácio da Costa Santos e Félix Frias eram os fowards do time.

Cox brigou pela implantação de uma liga em 1905, o que só não aconteceu pelo fato do Rio Cricket só aceitar o convite no final do ano, inviabilizando o campeonato. Dedicou-se então o clube a amistosos. Goleou o Rio Cricket pelo score de 7 a 1, não deu chances para o F. G. Athletic Club (10 a 0) e venceu o Botafogo por 6 a 0, no primeiro jogo da história do clássico.

O Paulistano visitou o Fluminense, que construiu uma arquibancada capaz de abrigar 2.500 pessoas para ver o duelo dos dois maiores times de seus estados. O Paulistano venceu os dois confrontos. O tricolor perdeu o primeiro confronto por 2 a 0 jogando com: Cruickshank, Victor Etchegaray e H. Jeans; Buchan, Robinson e Turner; Mutzemberg, C. Santos, Oscar Cox, Félix Frias e E. Etchegaray. No segundo duelo, houve nova vitória do time de Charles Muller, só que por 3 a 0.

Os amistosos contra os times de São Paulo, que já tinham uma liga própria desde 1901, deram ao Fluminense a experiência necessária para disputar e vencer o primeiro campeonato carioca futebol, em 1906. O time foi campeão vencendo 9 jogos e perdendo apenas 1, marcando 52 gols e levando apenas 6, goleando o rival Botafogo duas vezes (8 x 0 no turno, e 6 x 0 no returno) e fazendo o artilheiro do campeonato, Horácio da Costa Santos com 18 gols. Horácio foi também o autor do primeiro gol da história do campeonato estadual, na vitória por 7 a 1 sobre o Paysandu Cricket Club.

Após a conquista incontestável do título de 1906, o Fluminense entrou novamente como favorito ao título do campeonato carioca seguinte. Jogando com uma camisa nova (branca) o Fluminense sagrou-se bicampeão, obtendo 5 vitórias e 1 derrota, marcando 16 gols, sofrendo 7, tendo saldo positivo de 9 gols, . Porém, o Botafogo não concordou com o resultado, alegando que o Tricolor deveria disputar um jogo extra para decidir o título, visto que os dois terminaram empatados o campeonato. O Fluminense negou-se a disputar uma partida extra, pois pelo regulamento já era campeão de fato e de direito pelo maior saldo de gols. Os botafoguenses reclamaram muito e o título foi parar nos tribunais só sendo decidido em 1996, quando a Federação Carioca de Futebol erroneamente dividiu o título. Na época, como forma de protesto, o Fluminense desligou-se da Liga Metropolitana de Sports Atléticos, que após a saída do seu mais importante filiado, dissolveu-se.

Em 1908, depois de fundada a nova Liga Metropolitana de Sports Atléticos, o clube, adotando um uniforme diferente do tricolor e do ano anterior (camisas brancas com faixa tricolor na diagonal) tornaria-se o primeiro campeão invicto da história do futebol carioca. Em dez jogos, o tricolor marcou 44 gols e sofreu 11, vencendo oito jogos e empatando dois. Emílio Etchegaray e Edwin Cox (irmão de Oscar Cox) foram os grandes destaques da campanha, marcando 13 gols cada. O time-base da conquista foi: Waterman, Victor Etchegaray e Salmond; J. Leal, Buchan e Nestor Macedo; Oswaldo Gomes, Horácio da Costa Santos, Edwin Cox, Emílio Etchegaray e Félix Frias.

Na época, cabe ressaltar a importância de ser sócio para jogar no clube. Era comum o rodízio de atletas no time principal, sendo o “segundo quadro” o time de reservas, que disputavam um campeonato à parte, realizando suas partidas preliminarmente aos jogos principais.

No ano seguinte, o Tricolor tornou-se novamente campeão invicto estabelecendo mais um recorde na competição: Tetra-campeão Carioca (1906-1907-1908-1909), sendo Bi-campeão invicto (1908-1909)! Feito sem precedentes no futebol carioca. A campanha do Tetracampeonato foi impressionante: em 39 jogos, o Fluminense venceu 33, empatou 4 e perdeu apenas 2. Buchan, artilheiro do time no campeonato, marcou 14 dos 54 gols do time, dois a menos que o artilheiro máximo da cidade Flávio Ramos, do Botafogo.

 

[editar] Do primeiro jogo Internacional ao Tricampeonato (1910 a 1919)

Representação do uniforme tricolor em 1910.

O Fluminense patrocinou, em 1910, a vinda do maior time da Inglaterra, o Corinthian de Londres, para jogar três amistosos no Brasil. O primeiro contra o Tricolor e os outros dois contra o Combinado Carioca e o Combinado de jogadores brasileiros e ingleses. No duelo contra os tricolores, no dia 24 de agosto, nas Laranjeiras, Oswaldo Gomes abriu o marcador logo aos 15 segundos do primeiro tempo, surpreendendo os campeões ingleses. Mas o Corinthian não demorou a empatar e a virar o jogo. Com futebol muito acima da média para o nascente futebol brasileiro, o time de Londres aplicou uma impiedosa goleada sobre os tricolores: 10 a 1, com grande apresentação dos forwards Tuff e Brisley. O Fluminense, jogando de tricolor, entrou em campo com: Waterman, Paranhos e Nery; Monk, Mutzembecker e Galo; Milar, Oswaldo Gomes, Edwin Cox e Waymar. O Corinthian, jogando de branco, alinhou com: Rogers, Page e Braddel; Morgan, H.Jones e Tetley; Theiv, Day, Tuff, Brisley e Kerry.

No Campeonato Carioca, o time perdeu a supremacia de quatro anos sobre o rival Botafogo, amargando o seu primeiro vice-campeonato. Com a rivalidade crescente no futebol, ocorrem mudanças não só dentro de campo, mas também fora dele: torcedores começam a vaiar e a xingar torcedores e atletas dos times adversários, o que viria a aumentar com o decorrer dos anos. Ânimos acirrados fora de campo, rivalidade à flor da dentro dele. Com o público cada vez mais presente nos campos, Rio e São Paulo promoviam grandes confrontos entre Fluminense e Paulistano, os maiores clubes de seu tempo. Neste ano, coube ao Tricolor a vitória no duelo interestadual: 5 a 1.

Ainda em 1910, o notável Edwin Cox, um dos principais jogadores do Fluminense, transfere-se juntamente com Bruno Schuback para Porto Alegre, onde passa a atuar pelo Grêmio, tornando-se o primeiro grande ídolo do tricolor gaúcho. Oscar Cox viaja em definitivo para a Inglaterra.

Em 1911, o Fluminense volta a ser campeão carioca, novamente invicto, só que desta vez, sem ponto perdido. Foram seis jogos e seis vitórias, 21 gols a favor e apenas 1 contra. A equipe foi campeã atuando com: Baena, Píndaro e Nery; Lawrence, Amarante e Galo; Orlando, Oswaldo Gomes, Alberto Borgerth, Gustavo e James Calvert. Calvert foi o artilheiro do time e do campeonato com 5 gols.

O Botafogo, maior rival do Tricolor, abandonou o campeonato na terceira rodada, após ter dois de seus jogadores punidos pela LMSA, devido à confusão causada no empate com o América em 1 a 1. Como protesto, o alvinegro se desvinculou da Liga Metropolitana de Sports Athleticos (LMSA) e fundou, em 1912, a Associação de Football do Rio de Janeiro (AFRJ) com Americano, Cattete, Germânia, Internacional, Petropolitano e Paulistano, times menores, oriundos da 2ª divisão do campeonato carioca.

Após a vitória por 2 a 0 sobre o América, que coroou mais um feito sem igual dos tricolores, 9 titulares, mais um reserva (Ernesto Paranhos), deixam o Fluminense e fundam a seção de futebol do Clube de Regatas do Flamengo. (Veja o relato da época):

“Em julho, com a demissão de Ernesto Paranhos e Haroldo Cox, abriram-se duas vagas no Ground Committee, ficando resolvido que Oswaldo Gomes e Alair Antunes seriam candidatos. Oswaldo Gomes já era por escolha da diretoria, da qual Alberto Borgerth fazia parte, sub-capitão do 1º quadro, o que lhe tornava natural à candidatura a uma das vagas e, mesmo, para capitão. Entretanto, Oswaldo Gomes preferiu candidatar-se ao Ground Committee porque Alberto Borgerth era o indicado para Capitão. Mas, no dia da reunião, surgiu um candidato da oposição – Joaquim Guimarães. E a votação terminou num empate de 15 votos. O presidente da Assembléia sugeriu, então, o critério de considerar eleito o candidato de mais idade e submeteu o seu ponto de vista aos sócios presentes. Por 17 votos contra 15 e 3 em branco, a Assembléia aprovou a sugestão do Presidente. Oswaldo Gomes estava eleito mas não aceitou por entender que a questão deveria ser resolvida em outra Assembléia. Em 7 de agosto, em carta enviada à Diretoria, Oswaldo Gomes demitiu-se de sub-capitão do 1º quadro. Nas vésperas do jogo contra o Rio Cricket, que se realizaria a 10 de setembro, reuniu-se o Ground Committee com a presença de Félix Frias, Alair Antunes, Afonso de Castro e Alberto Borgerth. A Comissão escalou o seguinte quadro: Baena, Píndaro e Nery, Lawrence, Amarante e Galo; Oswaldo, Orlando, Paranhos, Gustavo e Calvert. Alberto Borgerth porém sugeriu, com apoio da maioria, que os jogadores fossem consultados sobre a escalação do quadro. Afonso de Castro, voto vencido, bateu-se contra a sugestão, ponderando que isso constituiria um mau precedente, pois transferiria para os jogadores as atribuições do Gound Committee. Com a exceção de Oswaldo Gomes e James Calvert, os demais jogadores se pronunciaram pela substituição de Oswaldo por Arnaldo Guimarães e Paranhos por Borgerth, mas o Ground Committee manteve o conjunto escalado contra o voto de Borgerth que estava de acordo com a opinião da maioria dos jogadores. O quadro escolhido pelo Committee venceu o jogo por 5 x 0... A 3 de outubro, entretanto, Alberto Borgerth, Othon Baena, Píndaro de Carvalho Rodrigues, Emmanuel Nery, Ernesto Amarante, Armando de Almeida (Galo), Orlando Mattos, Gustavo de Carvalho e Lawrence Andrews solicitaram demissão do Club. O Fluminense perdeu 9 dos seus 11 jogadores campeões do ano, mas seus princípios foram mantidos”. (História do Fluminense, Tomo I, Paulo Coelho Netto).

Desfigurado e com um time formado quase que inteiramente pelo seu segundo quadro (equipe reserva e que disputava um campeonato à parte), o Fluminense, com apenas dois remanescentes – James Calvert e Oswaldo Gomes – iniciou o campeonato de 1912 enfraquecido. Perdeu suas duas primeiras partidas (2 a 1 para o Rio Cricket e 5 a 0 para o Paysandu) e chegou à terceira rodada como coadjuvante à disputa do título da cidade.

Era o dia 7 de julho de 1912, e a tabela da Liga Metropolitana de Sports Athleticos marcava o confronto entre Fluminense e Flamengo. Naquele momento, surgia um dos – se não for o maior – maiores clássicos do futebol mundial. Era o primeiro jogo. O primeiro olhar entre amigos e ex-companheiros de clube. De um lado, o célebre Oswaldo Gomes e o artilheiro James Calvert, somados a nove jogadores que até pouco tempo eram reservas. Do outro, quase todo o time campeão carioca de 1911, só que agora, vestidos de rubro-negro.

O clima de rivalidade era latente. O Flamengo, que entrou em campo com um uniforme de quatro gomos "axadrezados" nas cores preto e vermelho, sofreu com as constantes gozações da torcida do Fluminense, que gritava "Aleguá! Aleguá!", fazendo alusão ao papagaio de vintém. Os atletas do Fluminense, por sua vez, mantinham a seriedade típica de uma final de campeonato.

O Fluminense entrou em campo com: Laport, Maia e Belo; Leal, Mutzembecker e Pernambuco; Oswaldo Gomes, Bartholomeu e Behrmann; Edward Calvert e James Calvert.

O Flamengo, alinhou com: Baena, Píndaro e Nery; Cintra, Gilberto e Galo; Orlando, Arnaldo, Borgerth, Gustavo e Amarante.

Iniciado o primeiro FLA x FLU da história, coube à Edward Calvert, abrir o marcador para o Fluminense, a 1 minuto de jogo. Arnaldo empatou 3 minutos depois para o Flamengo, terminando empatado o primeiro tempo em 1 a 1. Veio a etapa derradeira e James Calvert, aos 17 minutos, colocou o Fluminense novamente à frente no marcador. Mas o time recuou muito, o Flamengo pressionou e conseguiu o empate novamente, aos 30 minutos, por intermédio de Píndaro. Os tricolores deram nova saída. James Calvert chuta em direção à grande área rubro-negra. Bartholomeu arremata de primeira e marca o gol da vitória tricolor, aos 32 minutos. Terminado o jogo em 3 a 2 para o Fluminense, jogadores se confraternizaram no bar do clube, demonstrando que naquela época, rivalidade não era sinônimo de antagonismo. O Flu ficou em 4º lugar no campeonato. O Paysandu foi o campeão.

Em 1913, o Fluminense patrocina novamente a vinda do Corinthian de Londres, que desta vez traz o center-half M. Woosnam, considerado o melhor jogador do mundo na posição. O time inglês não joga contra o Tricolor, atuando apenas em três ocasiões: contra um selecionado carioca, um selecionado de jogadores ingleses que atuavam no Brasil e um selecionado nacional.

Embora o clube tenha ficado novamente em 4º lugar no campeonato carioca, o ano de 1913 foi marcante pela chegada do inglês Henry Welfare. Jogador alto, com um físico invejável e uma maneira diferente de jogar futebol, Welfare tornaria-se uma legenda do futebol brasileiro e tricolor, modificando a maneira de jogar dos brasileiros. Com a experiência de ter atuado no Liverpool, também como amador, ele seria um dos principais ídolos do clube, que se sagraria tricampeão carioca em 1919.

O time-base de 1913 foi: Victor, Motta e Pedreira; Torres, Mutzembecker e Pernambuco; Oswaldo Gomes, Bartholomeu, Welfare, Batista e Ernani.

Em 1914, uma dissidência no América acarreta a vinda de vários sócios para o Fluminense, dentre os quais, o fenomenal goal kepper Marcos Carneiro de Mendonça. Campeão pela equipe americana em 1913, Marcos estréia no Fluminense em um amistoso contra o São Cristóvão, no dia 29 de março, no qual o Tricolor triunfa por 3 tentos a 0. Naquela oportunidade, o Fluminense jogou com: Marcos Carneiro de Mendonça, Luiz de Mendonça e Martim; Meyes, Mendes e Pernambuco; Oswaldo Gomes, Carlos Alberto, Welfare, Batista e James Calvert.

Além de fazer história pelo pioneirismo do futebol no Rio de Janeiro, lançando as bases do esporte que começava a ganhar do remo em popularidade, o Fluminense faz-se presente novamente em mais um momento histórico do futebol nacional. Oswaldo Gomes e Marcos Carneiro de Mendonça, atletas tricolores, integram a primeira Seleção Brasileira de futebol. Marcos, aos 19 anos, é o goleiro titular, enquanto que Oswaldo Gomes, é o autor do primeiro gol da história da Seleção Brasileira, em jogo amistoso realizado nas Laranjeiras, que terminou com vitória do selecionado nacional por 2 x 0 sobre o Exeter City, da Inglaterra.

O Brasil vence a Copa Rocca deste ano, derrotando a Argentina por 1 a 0, em peleja que tem Marcos Carneiro de Mendonça ovacionado pelo público argentino, sendo inclusive, carregado por torcedores ao término da partida.

Outro dado marcante de 1914 é o episódio que resulta no apelido do Fluminense. Carlos Alberto, um dos atletas oriundos do América, era um jogador muito habilidoso, mas que não dispunha das características quase que obrigatórias para os padrões tricolores da época: ser branco, de família tradicional e educado. Mulato e de origem humilde, Carlos Alberto ganhou espaço no 1º quadro tricolor pelo seu bom futebol. Mas tinha receio da reação da torcida no tocante a sua cor. Por isso, teve a idéia de passar pó-de-arroz pelo corpo para tentar disfarçá-la. O que Carlos Alberto não imaginava, é que com o decorrer da partida, quanto mais se esforçava, mais o suor tirava o pó-de-arroz, vindo à tona a sua cor natural. Pobre Carlos Alberto! E logo contra o América, seu ex-clube! A torcida americana percebeu o truque e de maneira pejorativa atribuiu o apelido de Pó-de-arroz aos tricolores. Se para os americanos, o apelido era uma afronta ao Fluminense, para o resto da cidade o apelido soou como a mais perfeita descrição do aristocrático clube das Laranjeiras.

O clube passou por mudanças estruturais em 1915. Ampliou a sua área física e passou a contar com um número expressivo de sócios (785). Para atender tal demanda, com a ajuda da tradicional família Guinle, o Fluminense terminou as obras da terceira Sede e construiu uma nova arquibancada, capaz de comportar confortavelmente 5 mil espectadores. No futebol, o time trouxe de São Paulo, o respeitado jogador Francisco Bueno Netto, o Chico Netto, que formaria com Vidal e Marcos Carneiro de Mendonça, o “triângulo de ouro” do futebol brasileiro. No campeonato carioca, em que Welfare foi o artilheiro com 19 gols, o clube ficou com o vice-campeonato, cabendo o título ao Flamengo. Na área artística, o escritor e romancista Coelho Netto apresentou o Hino Oficial do Fluminense, que não fez muito sucesso entre os sócios e adeptos do clube, sendo substituído no ano seguinte pelo Hino de autoria de Antônio Cardoso de Menezes Filho.

Após quatro anos sem títulos, o Fluminense volta a ser campeão. Desta vez, o tricolor vence o 1º Torneio Início de futebol, batendo o América (futuro campeão carioca) na final por 1 a 0. A equipe tricolor já se apresentava em 1916 bastante alterada: Marcos Carneiro de Mendonça, Vidal e Chico Netto; Laís, Oswaldo Gomes e Honório; Celso, Couto, Welfare, Batista e Zezé. No mesmo ano, disputa-se o primeiro campeonato Sul-americano de futebol, na Argentina, terminando o Brasil em terceiro lugar.

Jogando com o futebol de Marcos, Vidal e Chico Netto; Laís, Oswaldo e Fortes; Mano, Zezé, Welfare, Machado e Moraes, o Fluminense é campeão carioca em 1917. Em 18 jogos, o Tricolor venceu 14, empatou 2 e perdeu 2. Marcou 58 gols e sofreu 20. Welfare, novamente foi o destaque da equipe, marcando 6 gols numa só partida, nos 11 a 1 sobre o Bangu. O Fluminense recuperava definitivamente a hegemonia no futebol carioca.

Em 1918, a gripe espanhola mata milhares de pessoas no Brasil, tendo o Fluminense perdido o jogador Archibald French, titular do time na campanha do bi-campeonato. O Fluminense foi um dos times mais acometidos pela gripe, fazendo com que a equipe não enfrentasse o Carioca na última rodada. O Campeonato Sul-americano que seria realizado no mesmo ano foi adiado para o ano seguinte. No dia 07 de abril, o Tricolor entra em campo para a disputa da Taça Ioduran, que reunia o campeão carioca e o campeão paulista. O encontro é disputado em um único confronto. O Fluminense perde por 3 x 2, ficando o Paulistano com o título.

Em 1919, o Fluminense dá ao Brasil o seu primeiro, maior e mais belo estádio de futebol. Sua capacidade inicial é calculada em 18 mil espectadores. A partida inaugural dá-se entre Brasil e Chile, com vitória do nosso selecionado por 6 a 0. A Seleção Brasileira conta com dois tricolores, ambos titulares: Marcos e Fortes. Na final contra os uruguaios, quase 30 mil pessoas comparecem para prestigiar a Seleção Brasileira que vence por 1 a 0, gol de Friedenreich, dando ao Brasil nosso primeiro título continental. Ainda em 1919, o Fluminense sagra-se tricampeão carioca vencendo o Flamengo no jogo decisivo por 4 x 0. Neste jogo, segundo Coelho Netto, cerca de 30 mil pessoas compareceram às Laranjeiras, não conseguindo entrar outros 5 mil, aguardando o término da partida do lado de fora do estádio. Fato marcante prende-se à figura do nosso goleiro Marcos Carneiro de Mendonça: quando o placar ainda estava 0 x 0, o árbitro da partida marca um pênalti contra o Fluminense – antes havia anulado um gol do Tricolor, alegando impedimento inexistente. Japonês, médio do Flamengo, cobra a penalidade e Marcos defende. Mas a bola escapa-lhe das mãos e Japonês arremata novamente. Marcos novamente defende. A bola sobra para Sidney, que chuta forte, mas Marcos de Mendonça espalma. E a bola cai nos pés de Junqueira que enche o pé e desfere uma bomba. Desta vez, Marcos Carneiro de Mendonça, o maior goleiro de seu tempo agarra, encaixa, não largando mais a bola de couro. Relatos da época falam que houve um silêncio no estádio. Ninguém acreditava que um pênalti pudesse se desdobrar em quatro, tampouco que Marcos pudesse defendê-los seguidamente. Logo após o espanto, houve um uivo vindo das sociais e a torcida tricolor, a maior da cidade, aclamava de pé, Marcos Carneiro de Mendonça. Com a torcida ainda vibrando, Machado abre o marcador de longa distância. No segundo tempo, Welfare, Bacchi – com um golaço em que driblou meio time do Flamengo – e Machado, novamente, completam a festa tricolor: 4 a 0. O Fluminense é tricampeão carioca por antecipação com uma campanha arrasadora: 18 jogos, 17 vitórias e apenas 1 derrota. No mesmo ano, sem jogar, o Tricolor é campeão da Taça Ioduran. Tudo porque o Paulistano, campeão paulista do ano anterior não comparece, perdendo o jogo e o título por W.O.

É neste período que tem origem a palavra “torcedor” no futebol brasileiro, uma palavra exclusivamente brasileira, para não dizermos tricolor. Em outros países não existe registro da palavra “torcedor”, utilizando-se termos distintos para denominá-lo, como adeptos (Portugal), admiradores, hinchas (Espanha, Argentina), supporter (Inglaterra) e sostenere (Itália).

Numa época em que ir aos jogos do Fluminense era um acontecimento social, homens e mulheres iam às Laranjeiras vestidos elegantemente. E a maneira de demonstrarem sua emoção e paixão pelo clube também eram diferente. A cada lance perigoso do “match”, a medida em que o Fluminense atacava ou se defendia, as mulheres, eufóricas, “torciam” seus lenços de nervosismo, surgindo daí a origem da palavra “torcedor”. Em entrevista concedida à Memória da Imprensa Carioca, o respeitável radialista Luiz Mendes, relatou:

"No começo do futebol, ir ao estádio era um ato de elegância, principalmente, no Fluminense. Por isso o Fluminense até hoje tem essa fama de clube aristocrático. As mulheres se enfeitavam como se fosse ao Grande Prêmio Brasil, colocavam vestidos de alta costura, chapéus, luvas. Mesmo que a temperatura na cidade estivesse por volta dos 40º, elas iam de luvas. Como o calor era muito grande, elas tiravam as luvas e as deixavam nas mãos, e como ficavam nervosas com o jogo, elas as torciam ansiosamente. Os homens usavam a palheta, um chapéu de palha muito comum na época, muito elegante e também ficavam com o chapéu na mão enquanto torciam. O Coelho Neto, que além de poeta e cronista era pai de dois jogadores do Fluminense: o Preguinho, foi o primeiro homem a fazer um gol pela seleção brasileira em uma Copa do Mundo, e do Mano, que morreu em conseqüência de um jogo de futebol, levou uma bolada e acabou morrendo; pois o Coelho Neto escreveu uma crônica em que ele usava a expressão “as torcedoras”, referindo-se às mulheres e dali a expressão pegou e nasceu a torcida. Havia quem dissesse que torcida vinha do fato de as pessoas torcerem os fatos, de o torcedor torcer os fatos a favor de seu clube, mas não foi daí que o termo veio não. Apesar de que quem torce, realmente torce as coisas e até distorce. Mas, na verdade, não foi por isso, foi mesmo pelo gesto das moças, principalmente, das que torciam as luvas entre as mãos."

[editar] Da Inalguração da Sede Social ao Fim do Amadorismo (1920 a 1932)

O Fluminense inaugura no dia 18 de novembro de 1920 a sua suntuosa Sede Social. O clube passa a contar com piscina coberta, quadras de tênis e teatro para apresentações cívicas e artísticas. Na área esportiva, o Tricolor amplia sua participação, passando a competir no basquete e na natação, dentre outras modalidades. Muitos jogadores de futebol disputam outras modalidades pelo clube, dentre os quais, Marcos Carneiro de Mendonça (atletismo), Oswaldo Gomes (atletismo) e Henry Welfare (atletismo e basquete). O Fluminense passa a receber com freqüência a visita de pessoas ilustres. Santos Dumont, o pai da aviação e sócio honorário do Fluminense n.º 11, é visto com freqüência apitando partidas de tênis, vibrando com os back hands. No salão nobre, bailes e festas chamam a mais alta sociedade para o clube. No futebol, a contusão de Marcos Carneiro de Mendonça faz falta o time, que perde a hegemonia no futebol carioca para o Flamengo, ficando o clube em terceiro lugar.

Além da estrutura física imponente, e dos avanços do clube na área administrativa e social, o Fluminense inicia uma nova fase em busca de uma sede náutica, criando uma estreita relação com o Fluminense Yatch Club, fundado neste ano, sob inspiração de Arnaldo Guinle, a fim de cumprir formalidade legal, assumida com o Governo Federal, para fundar um clube náutico. A bandeira nas mesmas cores e o mesmo nome não eram mera coincidência, mas sim um presságio do que previa a Ata de Fundação do Fluminense Yatch Club, datada do dia 25 de março: a fusão com o Fluminense Football Club.

O ano de 1921 não foi bom para o Fluminense. O time vai mal no campeonato carioca e fica em último lugar. Na época, o último colocado da primeira divisão, disputava um jogo eliminatório contra o campeão da segunda divisão (Vila Isabel), para saber se permanecia ou não na primeira divisão. Marcos retorna ao time para a eliminatória e o Fluminense vence por 3 x 1. Welfare marca duas vezes e Machado completa o marcador. O time venceu o Vila Isabel atuando com: Marcos, Mota Maia e Othelo Rossi; Laís, Júlio Rocha e Fortes; Renato Vinhaes, Paulo Viana, Welfare, Machado e Moura Costa. Se no futebol o clube não foi bem, nos esportes olímpicos foi excepcional, vencendo tudo o que disputou, sendo campeão carioca de tênis e basquete. Oswaldo Gomes, afastado das competições de campo e pista, volta a vestir a camisa tricolor nas provas de atletismo, ajudando o clube a conquistar o campeonato da cidade. Após a conquista, Gomes foi eleito presidente da Confederação Brasileira de Desportos. Um reconhecimento justo à sua dedicação e amor ao esporte.

Em 1922, o Fluminense amplia o seu estádio especialmente para os Jogos Comemorativos do Centenário de Independência do Brasil. Fred Brown, professor da Universidade de Chicago, contratado dois anos antes para dar ao clube uma organização administrativa, técnica e profissional, foi um dos grandes responsáveis pelo êxito dos Jogos Latino Americanos. A Seleção Brasileira novamente é campeã sul-americana em nosso estádio, agora totalmente remodelado e ampliado. O clube continua vencendo tudo nos esportes olímpicos. No basquete, o craque Henry Welfare mostra que também sabe fazer cestas e ajuda o Flu a ser novamente campeão. Dentre os resultados mais significativos, destaque para a vitória de 141 a 0 sobre o S. C. Brasil. No futebol, um erro da arbitragem acaba com as chances do Fluminense ser campeão carioca no ano do centenário da independência. Em jogo disputado em General Severiano, o Fluminense empatava em 1 a 1 com o Flamengo, até que Mano cruzou e Welfare, em posição legal arrematou para as redes. O jogo foi paralisado. O árbitro Adaucto de Assis corre para o vestiário e redige na súmula o ocorrido: “Enganei-me ao registrar aquela falta. Fui ladrão”. O Fluminense não pede a anulação da partida, e deixa livre o caminho para o América ser campeão. No mesmo ano, o tricolor perde uma de suas maiores glórias: Mano. Exemplo de amor ao esporte e ao Fluminense, Emannuel Coelho Netto, faleceu devido a uma entrada desleal de um jogador do São Cristóvão numa partida de campeonato. Na época, não eram permitidas substituições e Mano não querendo deixar o time com um jogador a menos, voltou a campo mesmo sentindo fortes dores e já com uma hemorragia interna. Agravou a lesão e acabou morrendo horas depois. O sacrifício da própria vida, o estoicismo, a vontade e o amor que tinha pelo Fluminense, era a síntese dos atletas do amadorismo. Na época, era comum atletas permaneceram durante dez, até doze anos no clube. O futebol de outrora era romântico exatamente por isso. O público era diferente, era mais educado. Mulheres e crianças podiam ir aos estádios. O Fluminense era uma imensa família. Talvez tenha sido esse o segredo de tantos títulos conquistados nessa época.

Mas o futebol já dava sinais de que o amadorismo não duraria muito tempo. O Vasco, recém promovido à primeira divisão, pagava seus atletas para jogar. O futebol ia aos poucos tomando novas dimensões. O Fluminense não faria boa campanha em 1923. Marcos Carneiro de Mendonça abandonava o futebol, passando a dedicar-se a profissão de historiador. O time mais uma vez esteve longe da disputa pelo título, ficando com o 4º lugar. Mas manteve o seu pioneirismo nos esportes olímpicos, introduzindo desta vez no Rio de Janeiro, o vôlei-ball, sendo campeão do ano, feito que seria também repetido pelo basquete.

Aos poucos os legendários tricampeões de 1917-1918-1919 vão abandonando o futebol. O tanque Welfare faz a sua última partida pelo Fluminense em 1924. O craque inglês se despede com o gol da vitória sobre o Botafogo por 1 a 0 pelo Torneio Início, em que o Tricolor é campeão. No total, foram 166 jogos com a camisa tricolor e 163 gols. Após a conquista, o Fluminense é novamente campeão carioca, com 12 vitórias, 1 empate e 1 derrota. Foi um campeonato em que o Flu goleou praticamente todos os seus adversários. Com o título, o clube se tornou o primeiro time campeão pela AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos). O Vasco, força emergente da época foi o campeão pela LMDT (Liga Metropolitana de Desportos Terrestres), liga que reunia clubes reconhecidamente mais fracos. Nilo é o artilheiro do campeonato carioca com 28 gols. Na área administrativa, o clube pleiteia pela primeira vez a Taça Olímpica.

Praticamente com o mesmo time campeão do ano anterior, o Fluminense é vice-campeão carioca em 1925. O Tricolor disputou 18 jogos ao longo da competição, saindo vencedor em 13 oportunidades, empatando 4 vezes e perdendo apenas uma partida (para o Vasco por 2 x 1). Embora tenha perdido para o Vasco no turno, o que lhe custou o bi-campeonato, o Tricolor obteve uma grande vitória sobre o rival no returno, primeira no clássico: 5 a 1. A partir deste ano, os clubes passam a fazer substituições no decorrer da partida – número máximo de três – e é criado o cronometrista, responsável por marcar o tempo de jogo (dois tempos de 40 minutos).

O Fluminense continua ampliando o seu patrimônio. No dia 5 de maio de 1926, o clube inaugura o seu ginásio com o Torneio Início de Basquete. No futebol, o artilheiro Nilo retorna ao Botafogo, mas o time continuou forte. O time disputa o título até a última rodada com o São Cristóvão. Porém, uma surpreendente derrota para o Flamengo por 2 x 0, na última rodada, nos tira o campeonato. O Tricolor termina em terceiro e o São Cristóvão sagra-se campeão carioca pela primeira – e única – vez.

O Fluminense é campeão do Torneio Início de Futebol de 1927, ao vencer o São Cristóvão na final por 1 x 0, no dia 24 de abril, em partida realizada no Estádio das Laranjeiras. Entretanto, dias após a conquista, em gesto de rara elegância, os tricolores pediram através de ofício à AMEA a anulação do título em virtude de terem substituído dois jogadores em seus quadros, o que era proibido pelo regulamento:

“ Exmo. Sr. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos:

Apresso-me a fazer a V.Excia. ciente de que, por ocasião da segunda partida disputada pelo Fluminense Football Club no recente Torneio Initium, foram incluídos, por inadvertência, em nosso quadro dois substitutos, o que contraria a letra do art. 11 do regulamento especial do citado torneio. Pondo V. Excia. ao corrente dessa irregularidade, cumpre-me revelar que faço com ânimo de facilitar a fiscalização das respectivas súmulas. Reitero a V. Excia. os protestos de minha alta estima e distinta consideração. Benjamin de Oliveira Filho, Secretário.”.

Preguinho, uma das maiores glórias do nosso clube, faz sua estréia no primeiro quadro do Fluminense. O clube fica com o vice-campeonato carioca com a seguinte formação: Batalha, Paulo e Py; Silvio, Floriano e Fortes; Ary, Lagarto, Alfredo, Preguinho e Milton. Técnico: Eugênio Medgyessy.

Fernando chega ao Fluminense em 1928. O médio seria após a Copa do Mundo de 1930, um dos primeiros jogadores brasileiros a atuar fora do Brasil. O clube mantém a base do ano anterior, mas não fez boa campanha, perdendo para times considerados fracos como o Andaraí e o Sírio Libanez, ficando em 4º lugar no campeonato carioca.

Em 1929, o Tricolor promove a vinda do Chelsea, da Inglaterra ao Brasil para jogar contra a Seleção Carioca e Paulista. O grande time do Ferencvaros da Hungria também vem. O Fluminense mais uma vez dava a sua contribuição para o engrandecimento do esporte no Brasil, trazendo grandes times do futebol mundial para jogar com os selecionados carioca e paulista. Iniciativas como esta, faziam do Fluminense o maior e mais respeitado clube brasileiro da época.

Um acidente em 1930 atinge a delegação do clube, que vinha de uma excursão para Teresópolis. O jogador Py faleceu no acidente. A equipe de Luiz Vinhaes não vai bem no campeonato carioca, ficando em 5º lugar, mas serve de base para a Seleção Brasileira, que disputa a primeira Copa do Mundo, no Uruguai. Preguinho é o autor do primeiro gol brasileiro em copas do mundo, na derrota por 2 a 1 para a Iugoslávia. No jogo seguinte, Preguinho é o primeiro capitão da Seleção, marca dois gols na vitória contra a Bolívia por 4 x 0 e torna-se o primeiro artilheiro da Seleção Brasileira numa Copa do Mundo. A Seleção Brasileira contou com 5 tricolores: o goleiro Veloso, os médios Fortes (único remanescente do time tricampeão carioca em 1919), Fernando e Ivan Mariz, e o artilheiro Preguinho, uma unanimidade na época.

Em 1931, Fernando vai para o futebol europeu e o Tricolor repete o 5º lugar no campeonato carioca. Arnando Guinle deixa a presidência no dia 30 de abril, após 15 anos consecutivos de dedicação integral ao clube, assumindo Oscar Costa. O Tricolor recebe a visita ilustre do Príncipe de Gales, mais tarde Rei Eduardo VIII e do Príncipe George. Ambos são condecorados pelo Conselho Deliberativo como Presidente e vice-presidente de Honra do Fluminense, respectivamente. A nota de profunda tristeza do ano é o falecimento de Oscar Cox, no dia 7 de outubro em Paris. Símbolo da juventude cavalheiresca da época, Cox foi sepultado no mausoléu de São João Batista, tendo o seu corpo transladado de Álvaro Chaves até o cemitério.

Após o pífio 7º lugar no campeonato carioca de 1932, Agostinho Fortes Filho, o Fortes, jogador arisco do Fluminense, que arrancava aplausos e gargalhadas da torcida tricolor por suas “molecagens” em campo, abandona o futebol aos 31 anos. Campeão com apenas 16 anos em 1917, Fortes muito contribuiu para a grandeza do nosso clube, conquistando o tricampeonato carioca em 1917-1918-1919, o sul-americano pela Seleção Brasileira em 1919 e 1922, novamente o campeonato carioca em 1924 e duas vezes o campeonato nacional de seleções, terminando a sua brilhante carreira pela Seleção Brasileira com a participação na Copa do Mundo de 1930.

[editar] O Inicio do Profissionalismo, a Taça Olímpica e o Início da Era Maracanã (1933 a 1951)

É fundada a Liga Carioca de Futebol no dia 23 de janeiro de 1933, e com ela, nasce o profissionalismo. Mais tarde, a Liga Carioca fundaria a Federação Brasileira de Futebol. No primeiro campeonato carioca do profissionalismo, coube ao Bangu o título, ficando o tricolor com o vice-campeonato. O primeiro time de profissionais do Fluminense foi: Mattos, Ernesto e Nariz; Marcial, Brant e Ivan; Álvaro, Vicentino, Said, Sinhô e Walter. Said e Vicentino foram os artilheiros do time com 4 gols cada. Ainda em 1933, Preguinho daria entrevistas aos jornais dizendo que preferia permanecer como amador. Numa delas, chegou a dizer que assinaria contrato no valor de 1 tostão por um ano, ou seja, praticamente nada.

Em 1934, continua a briga entre as federações. A AMEA e a Liga Carioca de Futebol fazem campeonatos distintos. Era o ano de mais uma Copa do Mundo e a Liga Carioca de Futebol e a Federação Paulista, negaram ceder seus atletas para a Seleção Brasileira. O resultado foi uma Seleção recheada de jogadores do Botafogo (nove jogadores), único clube considerado “grande” que teimava em permanecer na Associação Metropolitana de Esportes Atléticos, jogando contra clubes inexpressivos. O resultado, foi a pior colocação alcançada pela Seleção Brasileira ao longo das Copas do Mundo. No Fluminense, as mudanças continuavam. Chega ao clube Adolpho Milman, o Russo, extraordinário atacante que daria muitas alegrias à nossa torcida, marcando ao longo da carreira 154 gols em 247 jogos.

Após o 5º lugar em 1934, os tricolores promovem uma revolução no futebol carioca e brasileiro, abrindo os cofres e contratando vários jogadores da forte Seleção Paulista, dentre os quais, o goleiro Batatais, o zagueiro Machado, o médio Orozimbo, o fenomenal Romeu Pelicciari e o fantástico ponta esquerda Hércules de Miranda. O time conquista o Torneio Aberto, mas deixa o título escapar para o América, ficando com o Vice-campeonato.

Em compensação, 1936 é um ano incrível. Após 12 anos sem títulos (o maior jejum de títulos do clube) o Fluminense volta a ser campeão carioca. Na melhor de três contra o Flamengo, dois empates (2 x 2, 1 x 1) e uma goleada por 4 x 1 dão ao Tricolor o título máximo da cidade novamente. O time campeão foi: Batatais, Guimarães e Machado; Marcial, Brant e Orozimbo; Sobral, Romeu, Russo, Lara e Hércules. A partir deste ano, Fluminense e Flamengo disputariam ano a ano a hegemonia do futebol carioca e brasileiro. O Fluminense tinha o melhor goleiro do Brasil, o gigante Batatais, titular da Seleção Brasileira; contava com marcadores formidáveis como o incansável Carlos Brant; e com talentosos atacantes como Romeu Pelicciari – que encantava com os seus dribles e jogadas geniosas –, Russo e Hércules, que se destacava por seu chute fortíssimo com ambas as pernas.

Em 1937, o clube contrata Elba de Pádua Lima, o Tim, que junto com Hércules formaria uma das alas esquerdas mais famosas do futebol brasileiro. Com seus dribles secos para os dois lados, Tim era o craque que o Fluminense precisava para ser um time praticamente imbatível, o que de fato foi. O Tricolor tinha um time temido e respeitado, que vencia, goleava e dava espetáculo. E foi dando espetáculo que o clube chegou ao bicampeonato, vencendo 17 jogos, empatando 4 jogos e perdendo apenas 1. O time ainda conquistou o Torneio Aberto, vencendo Flamengo (4 x 1) e América (9 x 3). No Campeonato dos Campões, o time ficou com o vice-campeonato, perdendo o título para o Atlético-MG. O interessante, é que o Tricolor chegou a golear o time mineiro na primeira fase por 6 x 0. Coisas do futebol.

O Tricampeonato vem em 1938 por antecipação. Na última rodada, já campeão, a Máquina Tricolor formada por Nascimento (Batatais estava contundido), Guimarães e Machado; Santamaría, Brant e Orozimbo; Armandinho, Romeu, Sandro, Tim e Hércules goleia o América por 6 x 0 e ergue Taça Garnado de 2,15m de altura, conquistando o tricampeonato carioca, o segundo de sua história. No mesmo ano, o Tricolor também vence o Campeonato Municipal, e só não vence o Campeonato Brasileiro porque este ainda não existia. Além das conquistas, o Fluminense tem cinco jogadores na Seleção Brasileira que volta da Copa do Mundo da França com o seu melhor resultado em mundiais até então, o terceiro lugar: Batatais, Machado, Romeu, Tim e Hércules. Não fosse a insistência dos cartolas em manter Tim na reserva no jogo contra a Itália, quando perdemos por 2 a 1, talvez o Brasil pudesse ter retornado da França com o nosso primeiro título mundial.

O ano seguinte foi atípico para o clube. O quarto lugar obtido no campeonato de 1939, nem de longe representou o que foi o Fluminense no campeonato. O time que contava com os maiores astros do futebol brasileiro, exceto Leônidas da Silva, que jogava no Flamengo, descansou no campeonato carioca de 39 para voltar a vencer em 1940. Já atuando com novos talentos como Pedro Amorim e os argentinos Spinelli e Malazzo (campeão pelo River Plate em 1936), ninguém foi páreo para o Tricolor. O timaço do Fluminense esteve mais uma vez irresistível e venceu 17 dos 24 jogos disputados no campeonato carioca. Além do título estadual, o Tricolor venceu o Torneio Rio-São Paulo de 1940 (Quinela de Ouro) de maneira invicta, valendo a nós esclarecer alguns dados históricos sobre a conquista tricolor. Muito se falou no decorrer dos anos, que o Torneio Rio-São Paulo de 1940 foi abandonado pelos clubes ao término do primeiro turno pelo fracasso de público e renda nos estádios, o que não é verdade. Conforme brilhante trabalho de pesquisa de Alexandre Berwanger, o Torneio terminou devido às elevadas taxas cobradas pelos estádios paulistas.

Jornais da época, apontam tais números:


"O GLOBO" de 26 de julho de 1940 :

O título do jornal trazia a seguinte manchete: "MAIS DA METADE DA RENDA ABSORVIDA PELOS IMPOSTOS E DESPESAS". Em seguida, um trecho da reportagem salienta que "FLUMINESE E CORINTHIANS RECEBERAM QUOTAS DE APENAS TREZE CONTOS NUM JOGO QUE RENDEU CINCOENTA E QUATRO".

"A TARDE" de 04 agosto de 1940 :

O título do jornal exalta o poder do Tricolor de atrair público aos estádios: "DADOS ELOQUENTES DA CAPACIDADE DO FLUMINENSE" . "DA QUANTIA APURADA NAS RENDAS DO CAMPEONATO CARIOCA E TORNEIO RIO-SÃO PAULO, ATÉ HOJE, METADE FOI ARRECADADA PELO TRICOLOR"

"JORNAL DOS SPORTS" de 10 de agosto de 1940 :

"OS CLUBES CARIOCAS NÃO ESTÃO SATISFEITOS COM OS RESULTADOS FINANCEIROS DO TORNEIO RIO-SÃO PAULO NA CAPITAL BANDEIRANTE".

Depreende-se que a reclamação dos clubes cariocas eram referente às despesas administrativas dos estádios paulistas, pois muito era descontado da renda bruta. Tal explicação satisfaz a dúvida de que não eram as fracas rendas no Rio ou em São Paulo, como apresentam alguns autores, o motivo da não continuidade deste torneio, e sim as despesas administrativas nos estádios paulistas, diminuindo muito a renda líquida, exceção aparente ao Estádio Palestra Itália, onde o Fluminense propôs jogar todas as suas partidas na capital paulista.

Os participantes interromperam o torneio e declararam Fluminense e Flamengo como campeões, não fazendo questão, tricolores e rubro-negros, na realização de uma partida desempate. A CBD, hoje CBF, erroneamente não reconheceu o título do Torneio Rio-São Paulo de 1940, dando o torneio como inacabado.

No ano seguinte, o Fluminense torna-se bi-campeão carioca. O Tricolor tem uma campanha irretocável, obtendo 22 vitórias, quase todas por goleadas, estabelecendo um recorde no campeonato até hoje insuperável: 106 gols em 28 jogos. Foi uma conquista heróica, em que mais uma vez a Máquina Tricolor mostrou que podia jogar com até 6 jogadores (se a regra permitisse) que seria invencível. Na última rodada, o Tricolor enfrentou o Flamengo – que não agüentava mais ser vice – no campo da Gávea e logo abriu 2 x 0 no marcador, gols de Russo e Pedro Amorim. O Fluminense que jogava pelo empate passou a cadenciar o jogo, tocando a bola. O Flamengo, num fechar de olhos empatou. Carreiro, foi expulso e com um a menos os rubro-negros cresceram. Passaram a pressionar e por alguns minutos pensaram que podiam virar o jogo. Para piorar, Batatais tem uma lesão na clavícula tendo que imobilizar um braço. Brant, incansável na marcação, desta vez cansou. O campo estava pesado, o Flamengo lançava-se ao ataque e dava a impressão de que viraria a partida. Mas o Tricolor das Laranjeiras segurou o empate até o final. Romeu, o gênio e maior craque da equipe levava a bola ao ataque, prendia, driblava, fazia de tudo para gastar o tempo. Os rubro-negros se desesperavam. Quando não era Romeu, era Tim quem prendia a bola e arrumava para Renganeschi bicar para a Lagoa. Pobre Flamengo. Colocaram até remadores na Lagoa Rodrigo de Freitas só para a reposição mais rápida da bola. Perda de tempo. Quando o árbitro da partida José Ferreira Lemos, o Juca da Praia, acenou o fim do jogo, jogadores do Fluminense se abraçaram, vibraram com a heróica conquista. Um título merecido que coroou seis anos de supremacia absoluta do tricolor no cenário do futebol carioca e brasileiro. Esse timaço que iniciou o ano conquistando o Torneio Início e o Torneio Extra, mostrou o porque de ter sido a maior e mais vitoriosa equipe da história do Fluminense Football Club.

O ano seguinte pôs fim à supremacia tricolor. O time ainda era muito forte, mas a saída de Romeu com certeza foi muito sentida pelo clube. No início do campeonato de 1942, o Tricolor começou arrasador: nos 11 primeiros jogos, venceu 10, goleando o Bonsucesso por 6 x 2, o Vasco por 4 x 1 e vencendo concorrentes diretos ao título como Flamengo (2 x 1) e América (1 x 0). Mas na terceira rodada do 1º turno, uma derrota surpreendente para o São Cristóvão por 6 x 1, parece ter feito o time desandar no campeonato. O time perdeu para o Madureira por 4 x 1, para o Botafogo (2 x 1) e para o Flamengo (1 x 0), alijando-se da luta pelo tricampeonato.

Em 1943, o goleiro Gijo, que veio do Palmeiras ocupa o lugar de Batatais, que passa o ano na reserva. O time já estava bem diferente: Gijo, Norival e Renganeschi; Vicentini, Spinelli e Afonsinho; Adilson, Russo, Maracai, Tim e Carreiro. Mesmo assim, o time conquistou o Torneio Início e ficou com o vice-campeonato carioca, obtendo ainda a maior goleada sobre o Flamengo, em jogo válido pelo Torneio Relâmpago: 5 a 1. Na área administrativa, um retrocesso. No dia 25 de junho, o Fluminense envia um ofício ao Fluminense Yatch Club, liberando-o da fusão prevista na sua Ata de Fundação. Tal atitude causou a desilusão de vários sócios, inclusive a de Arnaldo Guinle, principal responsável pelo projeto de expansão do clube.

Batatais retorna ao posto de titular em 1944 e é elogiado pela imprensa carioca. O clube traz os uruguaios Rodriguez e Bastarrica, contrata o mineiro Bigode e anuncia a dispensa de Tim, um dos maiores craques da história do clube. A Máquina Tricolor detentora do maior número de títulos que um elenco já conquistou para o clube estava definitivamente desfeita. A equipe treinada por Atuel Velásquez não passou de um quarto lugar no campeonato carioca. O time base do ano foi: Batatais, Norival e Morales; Rodriguez, Spinelli e Bigode; Pedro Amorim, Bastarrica, Magnones, Simões e Pinhegas.

Em 1945, ano em que o Fluminense ficou novamente em 4º lugar no campeonato carioca e em 2º no torneio municipal, Batatais completa 10 anos de clube.

Porém, desentendimentos com o técnico Gentil Cardoso, fazem com que o goleiro deixe o clube em 1946. Ao todo foram 309 partidas pelo Fluminense, conquistando 5 Estaduais, 3 Torneios Início, um Campeonato Municipal e um Torneio Rio São Paulo, o maior número de títulos que um goleiro conquistou pelo Tricolor.

"Dêem-me Ademir e eu lhes darei o campeonato". Com esta frase, o técnico Gentil Cardoso demonstrou o quanto era importante o craque Ademir de Menezes para um time de futebol. Centro-avante rápido, com grande sentido de colocação na área, ele era o jogador que o Fluminense precisava para voltar a ser campeão. No dia 26 de março de 1946, Ademir assina com o Tricolor. Começava ali um ano de muitas alegrias para os tricolores. Sua estréia se dá a 23 de abril, num amistoso contra o São Paulo em que o Fluminense vence por 2 a 1. O Fluzão estréia no Campeonato Municipal no dia 20 de abril, ainda sem Ademir, e goleia o Bonsucesso por 9 x 1. No desempate contra o Vasco, o Tricolor vence o primeiro jogo por 4 x 1, mas perde os outros dois (1 x 0; 2 x 0), ficando com o vice-campeonato. Mas no Campeonato Carioca não teve para ninguém. O Fluminense esteve arrasador e venceu vários adversários por goleada, com destaque para os 11 a 1 sobre o Bangu, gols de Mirim, Pedro Amorim (3), Rodrigues (2), Orlando, Simões (2) e Ademir (2). Ao término dos dois turnos quatro clubes terminam empatados na primeira posição: Fluminense, Flamengo, América e Botafogo. Adota-se então, a fórmula que fica conhecida como “Super Campeonato”. Todos contra todos. O Fluzão empata com o Flamengo no dia 16 de novembro em 1 x 1, gol de Ademir; goleia o América por 8 x 4 –Rodrigues marca 3 vezes, Ademir e Orlando duas, e Juvenal completa o marcador – na rodada seguinte; e derrota o Botafogo por 3 x 1 em São Januário com 2 gols de Ademir e um de Pedro Amorim. No returno, goleada sobre o Flamengo por 4 x 1 com três gols de Rodrigues e um de Ademir; nova vitória sobre o América por 6 x 2, com destaque para Rodrigues que marca mais três e torna-se o artilheiro do Campeonato com 28 gols; e no último e decisivo jogo, com Ademir voltando ao time, vitória por 1 x 0 sobre o Botafogo, gol do “queixada” Ademir de Menezes, vice artilheiro da equipe no campeonato com 25 gols. Com a vitória, o Fluminense sagra-se Super Campeão Carioca invicto de 1946, tendo como time base: Robertinho, Gualter e Haroldo; Pascoal, Telesca e Bigode; Pedro Amorim, Ademir de Menezes, Simões, Orlando Pingo de Ouro e Rodrigues.

No dia 06 de outubro, estréia como goleiro do Fluminense, Carlos José Castilho. O goleiro faz seu primeiro jogo pelo clube num amistoso contra o Fluminense de Pouso Alegre, em que o Tricolor vence por 4 x 0. Castilho é um dos principais destaques do time, defendendo inclusive um pênalti.

Em 1947, Robertinho continua como titular do arco tricolor até o término do Campeonato Municipal. Com o início do Campeonato Carioca, Castilho é promovido ao posto de titular, fazendo uma brilhante temporada, só não sendo melhor devido o 4º lugar do time no campeonato. Ademir continua sendo o destaque da equipe, marcando 17 gols e sendo o artilheiro do Fluminense na temporada.

Contando com um time bastante renovado, o Tricolor se apresenta em 1948 como mero coadjuvante no campeonato carioca. O time havia perdido Ademir de Menezes, que voltara ao Vasco e não tem boas atuações no campeonato carioca, ocupando ao término da competição o terceiro lugar.

O futebol passava por novidades. Pela primeira vez, eram atribuídos números às camisas dos jogadores. Árbitros estrangeiros, na maioria ingleses, eram chamados para apitar os jogos do campeonato carioca, com destaques para Frederich James Lowe, George Reader e Ford.

O Fluminense conquista o Campeonato Municipal, derrotando o Vasco no desempate. No primeiro jogo, o time comandado pelo técnico Ondino Vieira goleia os cruzmaltinos por 4 x 0, com gols de Orlando (2), Rodrigues e Simões. No segundo jogo, houve revide do Vasco, que venceu por 2 x 1 (Orlando descontou para o Flu), ficando a decisão para o terceiro e último jogo. Era o dia 30 de junho de 1948. General Severiano estava lotado. Tricolores e vascaínos dividiam as arquibancadas do estádio do Botafogo. O Vasco, chamado de “Expresso da Vitória” fazia investidas perigosas à área de Castilho. O Fluminense respondia com as jogadas perigosas de Rodrigues pela esquerda. O jogo era tenso e seguia equilibrado, até que, Cento e Nove avança pela direita e cruza para a área. Orlando se antecipa ao gigante Wilson e de bicicleta manda para o fundo das redes de Barbosa: gol do Fluminense. Golaço de Orlando Pingo de Ouro. Os jogadores vascaínos se lançam ao ataque em busca do empate, mas o Fluminense segura o resultado e garante o segundo título municipal de sua história, interrompendo a supremacia vascaína no torneio, que havia vencido em 1944, 1945, 1946 e 1947.


A TAÇA OLÍMPICA

A Taça Olímpica[8] é o mais alto e cobiçado troféu do desporto mundial. Também chamada de "Taça de Honra", tem como finalidade reconhecer anualmente, aquele que, no juízo do Comitê Olímpico Internacional, mais fez em prol do olimpismo e do esporte. Este reconhecimento é considerado o Prêmio Nobel dos Esportes. A concessão do título é feita pelo COI após rigoroso e detalhado exame dos dossiês apresentados pelos candidatos.

Para receber a honraria, o pleiteador deve ser exemplo de organização administrativa e um vitorioso nos setores esportivos, sociais, artísticos e cívicos. Um complexo de perfeição durante um ano inteiro, e escolhido como o melhor dentre os demais clubes, instituições esportivas e mesmo países do mundo, através de suas federações. O Fluminense Football Club é o único clube de futebol no mundo e única instituição brasileira que já recebeu a Taça Olímpica.

A Taça Olímpica (Coupe Olympique) foi instituída em 1906 pelo Barão Pierre de Coubertin, o criador dos Jogos Olímpicos da era moderna e foi atribuída pela primeira vez, ainda em 1906, ao Touring Club da França.

É em 1949 que o clube é premiado pelos esforços em prol do esporte brasileiro. Sempre pioneiro, o Fluminense, introdutor do futebol no Rio de Janeiro, foi o clube que lançou as bases do esporte nacional, projetando e organizando os esportes olímpicos. O Tricolor deu à sociedade a oportunidade de praticar esportes até então desconhecidos e praticados somente fora do país, como vôlei, basquete, futebol e water pólo. Construiu o primeiro estádio de futebol, a primeira pista de atletismo, a primeira piscina coberta do país e o primeiro ginásio poli-esportivo, capaz de abrigar apresentações esportivas e artísticas. O Fluminense serviu de modelo para as agremiações esportivas da América do Sul e este feito foi reconhecido no dia 28 de abril, quando foi conferida ao Fluminense Football Club a Taça Olímpica de 1949 por unanimidade.

Prêmio máximo que uma federação ou agremiação pode ambicionar na área esportiva, a Taça Olímpica, instituída pelo Barão Pierre de Coubertin visa premiar todo ano, o clube que mais faz em prol do olimpismo, pela sua organização e pelo seu comprometimento com o esporte.

O Fluminense Football Club que organizou o primeiro campeonato sul-americano sediado no Brasil e os Jogos Latino-Americanos de 1922, torna-se o único clube da América do Sul a possuir tal feito, passando a grande obra de Oscar Cox à imortalidade, glorificando e engrandecendo o mundialmente conhecido Fluminense Football Club.

O CAMINHO ATÈ A TAÇA OLÍMPICA

O Fluminense Football Club, já em 1924, conhecedor das condições exigidas aos candidatos, enviou ao COI farta documentação, inclusive sobre a realização dos Jogos Olímpicos Latino-Americanos de 1922, um dos eventos que foram precursores dos Jogos Olímpicos Pan-Americanos e que aconteceram em suas novas instalações especialmente ampliadas para esse fim, na gestão do presidente Arnaldo Guinle (hoje patrono do clube).

O Comitê encontrava-se reunido em Paris, quando o Ministro Paulo do Rio Branco, representante do Brasil na reunião, comunicou a candidatura do Fluminense à obtenção da Taça no período 1926/1927, em reconhecimento à excelente organização dos Jogos de 1922. Apesar do apoio do próprio barão Pierre de Coubertin, o tricolor não foi feliz em sua iniciativa.

Novamente em 1936, o clube voltou a pleitear inscrição e novo dossier foi enviado ao COI, desta vez reunido em Berlim, sede da XI Olimpíada, mas o cobiçado troféu foi outorgado a outra agremiação. Com a guerra que se estendeu por todos os continentes, o Fluminense interrompeu o trabalho iniciado em 1924.

Em 1948, por ocasião dos XIV Jogos Olímpicos de Londres, nova inscrição foi solicitada. O Fluminense competia com a famosa instituição inglesa "The Central Council of Physical Recreation London", porém nosso delegado retirou a candidatura tricolor a fim de que, unânimemente, fosse concedido o prêmio aos anfitriões da Olimpíada, mas renovou a proposta do tricolor para o ano seguinte.

Finalmente, a 28 de abril de 1949 chegava a notícia da decisão tomada pelo Comitê Olímpico Internacional reunido em Roma: o Fluminense Football Club conquistara a Taça Olímpica de 1949, dando ao Brasil a sua mais consagradora vitória nos desportos mundiais.

O Fluminense é o único clube da América Latina a ter seu nome inscrito na Taça Olímpica até hoje. O Museu Olímpico em Lausanne (Suíça), onde a taça original se encontra em exposição permanente foi construído as margens do Lago de Genebra, pelos arquitetos Pedro Ramirez Vazquez e Jean Pierre Cohen.


No futebol, o clube traz o meia Didi, revelação do Madureira e uma das maiores promessas do futebol brasileiro. Carlyle, goleador do Atlético-MG é contratado para fazer dupla com o fantástico ponta Rodrigues. Orlando é o artilheiro da equipe, marcando 26 gols em 20 jogos. O time é vice-campeão carioca com a seguinte formação: Castilho, Píndaro e Pinheiro; Índio, Pé de Valsa e Bigode; Santo Cristo, Didi, Carlyle, Orlando Pindo de Ouro e Rodrigues.

O clube faz amistosos contra grandes equipes do futebol mundial. Sofre uma derrota acachapante para o Arsenal da Inglaterra por 5 x 1, mas vence times tradicionais como o Nacional do Uruguai, o Rapid Viena e o Malmoe da Suécia.

Em 1950, a equipe perde o extraordinário ponta esquerda Rodrigues para o Palmeiras, enfraquecendo o time. Comandado pelo técnico Otto Glória, o Fluminense faz uma campanha horrorosa, terminando a competição na 6ª colocação, atrás do Olaria, mas à frente do Flamengo. Os resultados negativos e a campanha catastrófica dão origem ao apelido de “timinho”. De positivo, apenas a vitória espetacular sobre o Vasco (base da Seleção Brasileira) por 2 x 1, o triunfo sobre o Flamengo pelo mesmo score no primeiro Fla-Flu disputado no Maracanã e os dois empates arrancados em Montevidéu contra a Seleção do Uruguai (1 x 1; 3 x 3). Relatos da época afirmavam que o Tricolor estranhou jogar no Maracanã, devido as grandes dimensões do campo e das arquibancadas. Acostumado a jogar nas Laranjeiras, do qual fazia o seu “alçapão”, o Fluminense sofreu ao jogar num estádio imenso como o Maracanã, onde equipes menores tiveram maior proveito. Entretanto, tal conclusão só teve relevância em 1950, já que nos anos seguintes o Tricolor conquistaria o Campeonato Carioca de 1951 e a II Copa Rio de 1952.

CAMPEÃO CARIOCA DE 1951

Estádio Mário Filho, o Maracanã, onde o Fluminense tem o mando dos seus jogos.

Contando com praticamente a mesma base do ano passado, o Fluminense começou o Campeonato Carioca de 1951 desacreditado pela imprensa local. Jornalistas apontavam o Flu como o mais fraco dos grandes e nem a fantástica vitória sobre o Arsenal da Inglaterra antes do campeonato serviu para melhorar a imagem do tricolor perante os “especialistas” da bola. Na primeira rodada, uma vitória sobre o Canto do Rio por 3 x 0 não seria nada de extraordinário para um time carioca. As vitórias sobre Bonsucesso (3 x 1) e Madureira (4 x 0) nas rodadas seguintes também não havia de ser nada demais. O Fluminense continuava a ser chamado de “timinho” e de extraordinário mesmo só a derrota para o Vasco por 4 x 2. Mas o Tricolor aos poucos foi calando a boca dos pitonistas, vencendo jogos que pareciam perdidos como nos 3 x 2 sobre o mesmo Vasco, quando Carlyle fez dois gols e o Flu deslanchou. A seqüência de bons resultados aos poucos foi apagando a imagem negativa do time em 1950, que liderou o Campeonato do início ao fim, chegando à última rodada 2 (dois) pontos à frente do Bangu, seu último compromisso e adversário direto na luta pelo laurel de campeão da cidade.

O Maracanã encheu para ver as duas melhores equipes do Campeonato Carioca. Mais de 92 mil (92.961) espectadores compareceram para ver o confronto do jovem time tricolor, comandado por Zezé Moreira, contra a experiente e técnica equipe do Bangu, que tinha como principal jogador o Mestre Zizinho, um dos maiores craques da história do futebol brasileiro. No banco de reservas, o técnico Ondino Vieira, glória do Fluminense nas décadas de 30/40, agora no Bangu, dava as ordens para o seu time pressionar o Tricolor.

O Fluminense jogava fechado, tentando segurar o empate, que lhe daria o título. Enquanto que o Bangu, precisando da vitória para forçar uma nova decisão, lançava-se ao ataque, rondando a meta de Castilho, que foi vencida no segundo tempo, quando Vermelho marcou, dando a vitória ao Bangu por 1 x 0, empatando o campeonato em número de pontos com o Fluminense (31 pontos).

Uma melhor de três jogos decidiria quem seria o Campeão Carioca de 1951. No primeiro jogo, disputado no dia 13 de janeiro de 1952, o Fluminense venceu por 1 x 0, gol de Orlando Pingo de Ouro, no primeiro tempo. Foi um jogo feio e violento, que terminou com as expulsões de Telê, do Flu, e Mirim, do Bangu, além das saídas de Raffaneli e Mendonça, também do Bangu, em virtude de contusão.

O Tricolor venceu com: Castilho, Píndaro e Pinheiro; Vitor, Edson e Lafayete; Joel, Orlando Pingo de Ouro, Carlyle, Didi e Telê. Técnico: Zezé Moreira.

No segundo e decisivo jogo, disputado num domingo, dia 20 de janeiro de 1952, com a assistência de 78.849 espectadores, o Tricolor triunfou por 2 x 0, com dois gols de Telê Santana, dispensando a realização de um terceiro jogo e conquistando desta forma o título de Campeão Carioca de 1951. Carlyle, que não jogou a segunda partida das finais, foi o artilheiro do Campeonato com 23 gols.

O Fluminense foi campeão atuando com: Castilho, Píndaro e Pinheiro; Vitor, Edson e Lafayete; Lino, Didi, Telê, Orlando e Robson. Técnico: Zezé Moreira.

[editar] O Cinquentenário, A Conquista do Primeiro Título Nacional e Internacional (1952 a 1970)

A FESTA

Em 1952, o Fluminense Football Club completa 50 anos de fundação. E para comemorar o grande marco da história do futebol tricolor, o clube organiza vários eventos esportivos e artísticos, como competições internacionais de basquete, vôlei, xadrez e esgrima, realizados nas Laranjeiras. O clube promove um banquete histórico com a participação de visitantes ilustres como o Embaixador do Paraguai; o Embaixador do Uruguai (Dr. Giordano Bruno Eccher); o Ministro da Suíça (Dr. Eduard A. Feer); o Ministro da Educação e Saúde do Brasil (Dr. Simões Filho); o Presidente do Conselho Nacional de Desportos (Dr. Vargas Netto), cujos esforços muito contribuíram para a realização da Copa Rio; Alberto Borgerth, Carlos Góes da Motta, Ibsen Rossi, José Alves de Moraes, Antônio Mourão Filho, Plínio Leite, Inocêncio Pereira Leal e o professor Castro e Silva. O Presidente da República, Getúlio Vargas, fez-se representar pelo Dr. Geraldo Mascarenhas Silva. E os Correios prestam uma simbólica homenageiam, lançando selos e envelopes alusivos ao cinqüentenário.


No dia 20 de julho, é realizado o “Grande Desfile” no Estádio das Laranjeiras com a participação dos atletas do passado, do presente e do futuro. Dentre os momentos mais emocionantes, Félix Frias, sócio fundador do Fluminense e tetracampeão carioca em 1906-1907-1908-1909, mesmo enfermo e com grave problema de saúde, aparece na tribuna de honra, chorando e acenando para os tricolores e velhos amigos, permanecendo em pé durante todo o desfile.


ORAÇÃO DO CINQUENTENÁRIO:

“Juventude de 2002! – Ouvi em silêncio e concentração a mensagem que da geração fundadora recebeu a juventude tricolor de 1952, formada no Estádio pelo Cinqüentenário do Clube, para vos ser transmitida e por vós lida, ao comemorardes o Centenário.

Enfileirados, ao vosso lado, comparecem os homens, que eram os jovens de julho de 1902. Mas a geração, que vos fala, essa já aqui não está mais. Tombou para sempre à imposição da natureza humana. Estais ouvindo, pois, na palavra viva dos mortos, o sentido imortal do espírito tricolor.

O momento não sofre a emoção das lágrimas. Recordai e evocai os que vos foram caros – pais, avós – sem a memória armada em funeral, mas na saudade colorida em festa.

O Fluminense de 2002 é o triunfo que continua. Temos certeza de que a juventude do Cinqüentenário soube cumprir a missão que lhe entregamos. E de que a juventude do Centenário prosseguirá na obra comum de abnegação, de sacrifício, de amor à bandeira que se prosterna ante as mãos iluminadas que a abençoam no altar do corcovado.

Voltai os vossos olhos para a imagem do Cristo, como a fixamos na hora da mensagem. Na convergência dos olhares de ontem e de hoje nós nos reencontraremos no tempo e sobre a Terra.

Juventude Tricolor de 2002!

Ouvi em silêncio e concentração o encerramento desta mensagem gravada no pergaminho da história. Revezai-a com a Juventude de 2052 para continuidade eterna da glória do Fluminense.” (Mensagem do Presidente Fábio Carneiro de Mendonça no Grande Desfile de 1952).

A 21 de julho de 1952, faz-se uma romaria ao túmulo de Oscar Cox, com as devidas homenagens. Mano, tricampeão em 1917-1918-1919 e falecido em 1922, também é lembrado.

À noite, no Salão Nobre, com a Sede luxuosamente ornamentada, encerraram-se os festejos do cinqüentenário do Clube com um Baile de Gala.


NO FUTEBOL

O ano de 1952 começa com o Fluminense fazendo uma campanha quase irretocável no Torneio Rio-São Paulo. Quase. Líder do torneio com 10 pontos ganhos, o Tricolor chega à última rodada dependendo de uma simples vitória contra o Corinthians (que também lutava pelo título), em São Paulo, para erguer a taça de campeão. Mas o Tricolor tropeça diante do Timão, perde por 4 x 2, e abre passagem para Portuguesa e Vasco decidirem o título, que acaba indo para o Canindé. A dor pela perda do título seria curada posteriormente, com a conquista do nosso primeiro título internacional: a Copa Rio Mundial.

A COPA RIO INTERNACIONAL

O Tricolor pode jogar o torneio internacional que reunia os maiores clubes do mundo e foi o Precursor do atual Mundial de Clubes da FIFA, no ano de seu cinqüentenário. Devido o sucesso da primeira edição, que teve a Sociedade Esportiva Palmeiras como campeã, criou-se uma grande expectativa para a segunda edição do torneio.

Com a torcida tricolor eufórica, o Fluminense participa da competição, que à época era comparado a um Mundial de Clubes, com times tradicionais do futebol sul-americano e europeu. Alguns clubes, como Racing da Argentina e Juventus de Turim, recusam o convite para participar da segunda edição, alegando entre outros fatores (no caso da Juventus), a longa distância entre os continentes.

Definidos os clubes, estes se dividem em dois grupos. Um com Sede no Rio, com Fluminense (campeão carioca de 1951), Peñarol, campeão uruguaio de 1951 e base da Seleção nacional, Sporting, campeão português das temporadas 1950/1951 e 1951/1952 – e que ganharia também as temporadas de 1952/1953 e 1953/1954, e Grasshopers Club campeão suíço da temporada 1951/1952. E outro com Sede em São Paulo, contando com Corinthians, campeão paulista de 1951/1952, Saarebruecken da Alemanha Ocidental, à época do convite, líder do campeonato alemão (terminou como vice-campeão da temporada 1951/1952), Libertad do Paraguai, vice-campeão nacional e Áustria Viena, até então líder do campeonato austríaco (terminou como vice-campeão da temporada 1951/1952).

A estréia do tricolor dá-se contra a forte equipe do Sporting de Portugal, com a assistência de quase 75 mil torcedores. O jogo é equilibrado do inicio ao fim e termina em 0 x 0. O goleiro Castilho é um dos destaques do confronto, tendo defendido um pênalti.

O empate em 0 x 0 com os portugueses, cria um clima de pessimismo entre os tricolores. Tal assertiva comprova-se na segunda rodada quando apenas 19.703 torcedores comparecem ao Maracanã para ver a primeira vitória do Fluminense no torneio. 1 x 0 sobre os suíços do Grasshopers, gol de Marinho, aos 34 minutos do segundo tempo, vencendo o “Ferrolho Suíço” que o mundo conheceria na Copa de 1954.

No dia 20 de julho, véspera do cinqüentenário do Fluminense Football Club, o tricolor enfrenta o Peñarol, base da seleção celeste e que há 2 anos acabara com o sonho de milhões de brasileiros de verem o Brasil ser campeão do mundo pela primeira vez, vencendo por 2 x 1 e calando 200 mil pessoas que lotaram o Maracanã.

A expectativa para o duelo entre brasileiros e uruguaios é grande. Em campo, líder (Peñarol) e vice-lider (Fluminense) da Série Carioca. É o jogo da revanche de 1950. O Peñarol entra em campo primeiro, com a seguinte formação: Natero, Davoine e Colture; Rodrigues Andrade, Nardeli e Romero; Ghiggia, Hoberg, Romay, Schiaffino e Vidal. Téc.: Juan Lopez. O Fluminense alinha em seguida com: Castilho, Píndaro e Pinheiro; Jair, Edson e Bigode; Telê, Didi, Marinho, Orlando Pingo de Ouro e Róbson. Téc.: Zezé Moreira.

O público é digno de uma final de campeonato. São mais de 63 mil espectadores (mais precisamente 63.536 presentes) confiantes numa boa vitória tricolor. O inglês Eugen Dinger é o árbitro da partida.

Desenvolvendo jogo acima das expectativas, o Fluminense domina a partida e vence com autoridade por 3 x 0. Marinho abre o placar aos 36; Orlando aumenta aos 44 e Marinho, novamente, aos 30 minutos do segundo tempo, põe números finais ao jogo. Após dois anos chorando a perda do título mundial para os uruguaios, os brasileiros voltavam a sorrir com uma grande vitória de um clube brasileiro. Jogadores da Seleção do Uruguai, como Schiaffino e Ghiggia, algozes brasileiros em 1950, agora se curvavam ao talento do futebol tricolor.

De “alma lavada”, o Fluminense se classifica para as semifinais. O adversário é o não menos pujante Áustria Viena, base da Seleção austríaca, que terminaria em 3º lugar na Copa do Mundo de 1954.

No primeiro encontro, diante de 34.180 espectadores, ocorre vitória tricolor por 1 x 0, gol de Didi. O Fluminense venceu com: Castilho, Pindaro e Pinheiro; Jair Santana, Edson e Bigode; Telê (Quincas), Didi, Orlando Pingo de Ouro (Simões), Maurinho e Robson. O Áustria Viena perdeu com: Sweeda, Stoltz e Kowank; Scheleger, Ocwirk e Swoboda; Melchior I (Pinckler), Kominec, Huber, Stojaspal e Aurendik. Téc.: W. Muller.

No segundo e decisivo jogo, o Fluminense vence por 5 x 2, para delírio dos 45.623 tricolores que foram ao Maracanã. O jogo é emocionante do início ao fim. O Fluminense abre o marcado com Didi aos 6 minutos do primeiro tempo. Precisando da vitória para ir às finais, a equipe austríaca vira o jogo, com gols do craque da seleção austríaca Stojaspal e Pinckler, silenciando o Maracanã. Por pouco tempo. Orlando Pingo de Ouro marca duas vezes, aos 31 e aos 41 minutos, e o primeiro tempo termina com a vantagem tricolor no marcador: 3 x 2. Na segunda etapa, Quincas, aos 8 minutos e Orlando Pingo de Ouro, o artilheiro da partida, aos 20, selam o passaporte do Fluzão para a grande final da Copa Rio: 5 x 2.

Classificado para as finais da Copa Rio, o Fluminense enfrenta o Corinthians, que derrotou o Peñarol por 2 x 1, num jogo violento, que fez com que a equipe uruguaia se retirasse da competição, não jogando o segundo confronto.

O primeiro jogo se dá no dia 30 de julho, com a assistência de 38.680 torcedores. O Fluminense entra em campo com: Castilho, Píndaro e Pinheiro; Jair Santana, Edson e Bigode; Telê, Orlando, Didi, Marinho e Quincas. O Corinthians alinha com: Gilmar, Homero e Olavo; Idário, Julião e Sula; Cláudio, Luizinho, Carbone, Gatão e Mário. Téc.: Rato. O árbitro é Joaquim Campos, de Portugal.

Orlando Pingo de Ouro aos 22 minutos do primeiro tempo e Marinho, aos 25 da etapa derradeira, marcam os gols da vitória tricolor por 2 x 0 sobre o até então favorito Corinthians. Pela primeira vez no torneio, a equipe paulista, melhor ataque do torneio com 16 gols em 4 jogos, não marca gol. Para o segundo jogo, um empate basta para o Tricolor das Laranjeiras sagrar-se campeão da II Copa Rio.

E, é no dia 02 de agosto de 1952, que o Fluminense mais uma vez faz história. Diante de 65.946 espectadores, tricolores e alvinegros encontram-se para o último jogo da decisão. Mesmo precisando de um empate para ser campeão, Didi abre o placar aos 10 minutos do primeiro tempo. Jackson empata para o Corinthians aos 11 minutos da etapa final. Mas Orlando Pingo de Ouro, artilheiro do torneio ao lado de Marinho com 5 gols, marca o segundo 8 minutos depois. A torcida tricolor faz festa. Canta, vibra, comemora. O gol de Souzinha, no finzinho do jogo (44 minutos), de nada adianta. O árbitro francês Gabriel Tordjaman encerra a partida. O Fluminense é campeão da Copa Rio invicto! 7 jogos, 5 vitórias, 2 empates, 14 gols a favor e 4 contra. O Tricolor é campeão de um título internacional. O Maracanã, finalmente é palco de uma grande conquista. Jornais estampam a grande conquista: “FLUMINENSE CONQUISTA O PLANETA”; “FLUMINENSE EMPUNHA UM TÍTULO MUNDIAL”.

A vitória sobre o Corinthians representou não só a conquista de um título mundial, mas também, a revanche dos 4 x 2 pelo Torneio Rio-São Paulo, que estava entalado na garganta dos tricolores.

O Fluminense ainda vence o Torneio quadrangular em Belo Horizonte, que conta com a participação de América-MG, Cruzeiro e Atlético-MG, derrotando o Cruzeiro por 3 x 2 na grande final. No Campeonato Carioca, o Tricolor fica com o vice-campeonato, atrás do Vasco. Embora não tenha conquistado o título carioca, pode-se dizer que o Tricolor encerrou com êxito os festejos dos seus 50 anos de fundação.

Para o biênio de 1953/1954 é eleito à presidência do clube Antônio Leite. Com um plano ousado de ampliar o patrimônio do Fluminense, o novo presidente tricolor propõe a mudança do setor de futebol para a Barra da Tijuca, onde teria conversado com proprietários de terrenos que estariam dispostos a fazerem uma doação, desde que o clube se comprometesse investir 30 milhões de cruzeiros antigos, no período de 6 anos. A área, contendo 800 mil metros quadrados, sendo 1km de testada de praia, viabilizaria a implantação de novas modalidades no clube, como remo e hipismo, além da construção de dois campos de futebol, sendo um para concentração dos atletas profissionais e outro para os sócios. As conversações se estendem até 03 de setembro de 1954, quando o Conselho Deliberativo veta a homologação do acordo, alegando, dentre outros motivos, problemas financeiros e com a localização.

O Fluminense faz excursão pela América do Sul, enfrentando os seguintes adversários: Peñarol, do Uruguai (0 x 0; 0 x 1); Dínamo Zagreb, da Iugoslávia (0 x 0); Colo-Colo, do Chile (3 x 0); Presidente Hayes, do Paraguai (2 x 1); Atlético Nacional, (3 x 0) e Desportivo Cali da Colômbia (1 x 1; 0 x 1); Alianza de Lima, do Peru (2 x 2); e Nacional, do Uruguai (0 x 0).

No Campeonato Carioca, o time formado por Castilho, Píndaro e Pinheiro; Jair Santana, Edson e Bigode; Telê, Didi, Marinho, Robson e Quincas, fica com o vice-campeonato. Marinho, com 18 gols é o artilheiro da equipe. No Torneio Rio-São Paulo, o time fica em 5º lugar.

Com a extinção da Copa Rio, devido à retirada do patrocínio da Prefeitura da Cidade, cria-se o Torneio Rivadavia Correa Meyer, com a finalidade de manter uma competição internacional no Rio de Janeiro. Diante da recusa de Real Madrid e Nacional, do Uruguai, o Fluminense, campeão da Copa Rio de 1952 é convidado a participar do torneio que conta com: Vasco (campeão carioca de 1952), São Paulo (campeão paulista de 1953), Corinthians (campeão da Copa Arroz), Botafogo (vice-campeão da pequena Taça do Mundo), Olímpia (vice-campeão paraguaio de 1953), Hibernian (campeão escocês 1952/1953) e Sporting (tetracampeão português). Na primeira fase, o Fluminense enfrenta Vasco (1 x 2), Botafogo (2 x 2) e Hibernian (3 x 0), se classificando às semifinais para enfrentar o São Paulo, na capital paulista. No dia 24/06 ocorre derrota do tricolor por 1 x 0, havendo revés na partida seguinte por 1 x 0. Com uma vitória para cada lado, a partida é decidida na prorrogação e o São Paulo leva a melhor, vencendo por 1 x 0.

Em 1954, o Tricolor não faz um bom campeonato estadual e termina em 5º lugar. O time treinado pelo técnico Gradim obtém 13 vitórias, 7 empates e 7 derrotas, em 27 jogos. Muito pouco para um clube tradicional e vencedor como o Fluminense Football Club. Ambrois, com 17 tentos foi o artilheiro do time no campeonato, que teve como base: Castilho, Píndaro e Pinheiro; Jair Santana, Edson e Bigode; Telê, Didi, Ambrois, Robson e Quincas.

No dia 15 de agosto, o Fluminense conquista o Torneio Início de Futebol, realizado no Maracanã, ao vencer o Flamengo na final por 1 x 0. No Torneio Rio-São Paulo, o time fica com o vice-campeonato. Mas é no campo das contratações que o clube obtém a sua maior vitória, ao contratar o atacante Waldo Machado da Silva, que se tornaria o maior artilheiro da história do clube, marcando 314 gols em 403 jogos.

O Fluminense continua participando de torneios e amistosos internacionais. Destaque para as acachapantes vitórias sobre o Desportivo Luqueño, do Paraguai, por 8 x 1, e La Coruña, da Espanha, por 3 x 0.

Pesquisa encomendada pelo Jornais dos Sports, de 31 de dezembro de 1954, aponta o Fluminense como tendo a segunda maior torcida da cidade do Rio de Janeiro: 1º Flamengo (28%), 2º Fluminense (18%), 3º Vasco (17%), 4º América (6%), 5º Botafogo (5%), 6º Bangu (2%) e 7º São Cristóvão (1%). Foram também computados números referentes à classe social e nível de instrução das torcidas, sendo o Fluminense, o primeiro entre as classes A e B (54%), bem como o clube com maior número de torcedores com nível superior (31%). Tais números serviram apenas para reforçar a fama de que o Fluminense era o clube preferido pela elite carioca.

A Suíça foi sede da Copa do Mundo, em que o Fluminense foi o clube que mais cedeu jogadores para a Seleção Brasileira: os goleiros Castilho e Veludo; o zagueiro Pinheiro e o extraordinário meia Didi. Zezé Moreira, campeão carioca de 1951 e da Copa Rio de 1952 pelo Tricolor, era o técnico da Seleção. Era o ano também em que o Brasil trocava a camisa branca pela camisa amarela, chamada carinhosamente de “canarinho”. Uma forma de tentar esquecer a derrota da Copa do Mundo de 1950 para o Uruguai.

Na primeira fase, o Brasil venceu o México por 5 x 0 e empatou com a Iugoslávia em 1 x 1, classificando-se para as quartas-de-finais, para enfrentar a poderosa Hungria do artilheiro Puskas, sensação da Copa, que havia goleado Coréia do Sul (9 x 0) e Alemanha (8 x 3) na primeira fase.

O Brasil entrou nervoso em campo e, em duas falhas da defesa, levou dois gols em oito minutos. Djalma Santos, cobrando pênalti diminuiu para a Seleção Brasileira e o jogo cresceu em emoção. Os brasileiros lançaram-se ao ataque em busca do empate, mas acabaram sofrendo o terceiro gol, de pênalti, cobrado por Lantos. Julinho diminuiu para 3 a 2, mas Koscis novamente marcou para a Hungria, e o Brasil voltou mais cedo para casa.

A 22 de novembro, o Teatro do Fluminense ovaciona o hino “Fluminense Cinquentão”, com música de José Maria de Abreu e letra de Aurimar Rocha, Elsen Guedes, Glória Berenice, Hayrton Queiroz, Jorge Martins e Maria Alice:

Sou Fluminense Cinquentão, Da Taça Olímpica Senhor, Das pistas campeão, Das quadras vencedor, Por isso é que eu luto com ardor. Sou Fluminense Cinquentão, Da tricromia o coração, Outra coisa não posso dizer: Sou tricolor por tradição.


Com a saída de jogadores importantes como Píndaro, Bigode e Marinho, o Fluminense inicia o ano de 1955 amargando mals resultados. O time-base que fica em 7º lugar no Torneio Rio-São Paulo e 4º lugar no Campeonato Carioca é: Castilho, Lafaiete e Pinheiro; Vítor, Clóvis e Bassú; Telê, Didi, Waldo, Átis e Escurinho. O técnico continua sendo Gadim.

No entanto, o clube faz excursão à Europa e traz resultados expressivos: vitórias sobre o Glatasaray, da Turquia por 2 x 0; Seleção da Turquia por 4 x 1 e Fiorentina, da Itália, em Florença, por 3 x 1.

Em 1956, o time formado por Castilho, Cacá e Pinheiro; Jair Santana, Clóvis e Altair; Telê, Léo, Waldo, Jair Francisco e Escurinho, termina o Campeonato Carioca como vice-campeão. Waldo, com 22 tentos é o artilheiro da equipe.

Nos esportes olímpicos, o Tricolor continua vencendo. É campeão carioca de water pólo, vôlei (masculino e feminino), tiro ao alvo, tênis de mesa, tênis (feminino), saltos ornamentais, natação, esgrima, basquete (feminino) e atletismo. Na área artística, o Tricolor presenteia seus sócios com apresentações da famosa “Ópera de Pequim”, que proporciona aos privilegiados espectadores uma noite maravilhosa e inesquecível.

CAMPEÃO INVICTO DO TORNEIO RIO-SÃO PAULO DE 1957

Com uma campanha irretocável, o Fluminense é campeão invicto do Torneio Rio-São Paulo de 1957. São sete vitórias e dois empates, vinte e três gols a favor e onze gols contra. Waldo é o artilheiro da competição com 13 tentos. O título vem antecipadamente, na penúltima rodada, com a vitória por 3 x 1 sobre a Portuguesa, em São Paulo, com gols de Waldo (2) e Léo. Na última partida, já campeão, o Tricolor entra em campo contra o São Paulo para receber as faixas de campeão e manter a invencibilidade no torneio. Vence por 2 x 1, com dois gols de Waldo, sendo o segundo marcado na base da raça, da vontade, roubando a bola do arqueiro são-paulino e a empurrando para as redes, garantindo a vitória e a conquista inédita:

Fluminense 1 x 0 América-RJ Fluminense 5 x 1 Palmeiras Fluminense 3 x 3 Botafogo Fluminense 2 x 1 Flamengo Fluminense 3 x 2 Corinthians Fluminense 2 x 0 Vasco Fluminense 2 x 2 Santos Fluminense 3 x 1 Portuguesa Fluminense 2 x 1 São Paulo


O time campeão é: Vitor Gonzalez, Cacá e Roberto; Ivan, Clóvis e Altair; Telê, Robson, Waldo, Jair Francisco (Léo) e Escurinho. Técnico: Sílvio Pirilo.


No Campeonato Carioca, o Fluminense é vice-campeão. Precisando de um empate na última rodada para ser campeão, o Tricolor é goleado pelo Botafogo por inapeláveis 6 x 2, na maior derrotada sofrida para o alvi-negro na era do profissionalismo.

Em 1958, o Fluminense não obtém resultados significativos no futebol: fica em 4º lugar no Campeonato Carioca e em 6º no Torneio Rio-São Paulo. Silvio Pirilo comanda o time até 31 de julho. Jorge Vieira fica no clube de 1º de agosto até 22 de outubro, para que Zezé Moreira ponha ordem na casa e o clube volte a vencer no ano seguinte. Mantendo sua agenda de viagens, o clube faz dois amistosos em Montevidéu, trazendo uma vitória por 3 x 2 sobre o Peñarol e um empate em 1 x 1 com o Danúbio. O time-base do ano é: Castilho, Jair Marinho e Pinheiro; Jair Santana, Clóvis e Altair; Almir, Telê, Waldo, Jair Francisco e Escurinho.

CAMPEÃO CARIOCA DE 1959

Comandado por Zezé Moreira, o Fluminense volta a ser campeão carioca ao vencer o Madureira na penúltima rodada por 2 x 0, com gols de Escurinho. Em 22 jogos, o Tricolor vence 17, empata 4 e perde apenas 1 – para o Bangu por 1 x 0. Marca 45 gols e sofre apenas 9. Waldo, com 14 tentos é o artilheiro do time na competição. Ao ganhar o campeonato de 1959, o Tricolor torna-se o último campeão do Rio de Janeiro enquanto Capital Federal. O esquema tático montado por Zezé Moreira impressiona. A defesa formada por Castilho, Jair Marinho e Pinheiro é praticamente intransponível e o ataque formado por Maurinho, Telê, Waldo, Paulinho e Escurinho, é formidável. O segredo do time era fazer gol nos minutos iniciais e se fechar. Castilho segurava o resultado. E foi assim durante todo o campeonato. Vários jogos vencidos por 1 x 0 e 2 x 0. Disciplina tática na defesa e eficiência no ataque, fizeram do Fluminense o merecido campeão carioca de 1959.

Fluminense 1 x 0 América-RJ Fluminense 1 x 0 Bonsucesso Fluminense 4 x 0 Canto do Rio Fluminense 1 x 0 São Cristóvão Fluminense 2 x 1 Portuguesa-RJ Fluminense 0 x 0 Flamengo Fluminense 0 x 1 Bangu Fluminense 4 x 0 Madureira Fluminense 2 x 1 Botafogo Fluminense 1 x 0 Olaria Fluminense 2 x 0 Vasco

Fluminense 3 x 1 Vasco Fluminense 2 x 0 São Cristóvão Fluminense 3 x 0 Portuguesa-RJ Fluminense 4 x 0 Olaria Fluminense 1 x 1 América-RJ Fluminense 2 x 1 Canto do Rio Fluminense 2 x 0 Flamengo Fluminense 5 x 0 Bonsucesso Fluminense 0 x 0 Bangu Fluminense 2 x 0 Madureira Fluminense 3 x 3 Botafogo


Time-base: Castilho, Jair Marinho e Pinheiro, Edmilson, Clóvis e Altair; Maurinho, Telê, Waldo, Paulinho e Escurinho. Téc.: Zezé Moreira.

No Torneio Rio-São Paulo, o Tricolor fica em 8º lugar, obtendo 2 vitórias, 2 empates e 5 derrotas. As duas vitórias tricolores são sobre clubes paulistas: 2 x 0 sobre o Palmeiras (gols de Waldo e Escurinho) e acachapantes 5 x 1 sobre o Corinthians (Waldo marcou 3 vezes, Escurinho e Telê completaram o placar), em jogos realizados no Maracanã.

CAMPEÃO DO TORNEIO RIO-SÃO PAULO DE 1960

Contando com a mesma base do time campeão carioca de 1959, o Fluminense é campeão do Torneio Rio-São Paulo novamente. Desta vez, apenas a derrota para o Flamengo por 2 x 1 impediu que o clube repetisse o feito de 1957, quando conquistou o torneio de maneira invicta. Nem o favorito Santos, do craque Pelé, conseguiu parar o Tricolor. Foram 6 vitórias, 2 empates e 1 derrota, 22 gols a favor e 12 gols contra. Waldo foi o artilheiro da equipe com 11 gols, sendo 3 deles marcados na extraordinária vitória sobre o São Paulo por 7 x 2. Contra o Santos, mesmo com a sua ausência, mas empurrado por 43.149 espectadores, o Fluminense venceu o Santos por 4 x 2. No último jogo, de volta ao time, Waldo é o autor do gol do título, na vitória de 1 x 0 sobre o Palmeiras no Maracanã, que recebeu o público de 53.758 torcedores.

Fluminense 1 x 0 Portuguesa Fluminense 2 x 1 Corinthians Fluminense 7 x 2 São Paulo Fluminense 1 x 1 América-RJ Fluminense 2 x 2 Botafogo Fluminense 3 x 2 Vasco Fluminense 1 x 2 Flamengo Fluminense 4 x 2 Santos Fluminense 1 x 0 Palmeiras


O time campeão foi: Castilho, Jair Marinho e Pinheiro; Edmílson, Clóvis e Altair; Maurinho, Telê, Waldo, Paulinho e Escurinho. Téc.: Zezé Moreira.

No Campeonato Carioca, o Fluminense é vice-campeão, perdendo o bicampeonato para o América. Na última e decisiva partida do returno, o Tricolor, jogando pelo empate, perde por 2 x 1, de virada para o time rubro, que torna-se o primeiro campeão do novo estado da Guanabara.

O Fluminense participa pela primeira vez da Taça Brasil, competição nacional criada em 1959, que reunia os campeões estaduais e que dava ao vencedor a oportunidade de disputar a recém-criada Taça Libertadores da América. Com moldes semelhantes à Copa do Brasil, a competição era disputada com jogos eliminatórios de “ida e volta”. O Fluminense estreou na primeira fase, chamada de fase “Zona Sul”, contra o Fonseca, de Niterói. No primeiro jogo, disputado em Caio Martins, houve vitória Tricolor por 3 x 0 (gols de Waldo, Telê e Jair Francisco). No jogo de volta, realizado nas Laranjeiras, o Fluminense massacrou o time de Niterói, vencendo por 8 x 0, sendo os tentos tricolores anotados por Jair Francisco (3), Waldo (2), Maurinho (2) e Paulinho. Classificado para a próxima fase, o Tricolor superou o Cruzeiro, empatando em 1 x 1 no Estádio Independência (gol de Paulinho) e vencendo nas Laranjeiras, por 4 x 1. Waldo marcou duas vezes, Escurinho e Maurinho completaram o marcador. A final da fase “Zona Sul” foi disputada contra o Grêmio. O tricolor gaúcho levou a melhor na primeira partida, vencendo por 1 x 0, em jogo realizado no Olímpico. No segundo encontro, em jogo disputado nas Laranjeiras, houve vitória do Fluminense por 4 x 2 (gols de Paulinho, Maurinho, Waldo e Jair Francisco), forçando um jogo extra para decidir quem iria às semifinais da competição contra o Palmeiras. Jogando por um empate, Jair Francisco garantiu a vaga do Tricolor das Laranjeiras para as semifinais, marcando o gol de empate em 1 x 1. Na semifinal, o Fluminense não contou com o artilheiro Waldo. Talvez por isso, não tenha conseguido triunfar perante o Palmeiras. Nos dois jogos, o Fluminense sentiu a falta de um jogador como Waldo, que embora não fosse muito técnico, costumava não desperdiçar as chances que tinha para marcar gols. Depois de um empate em 0 x 0 no Pacaembu, o Fluminense recebeu o Palmeiras no Maracanã para a segunda e decisiva partida. O Tricolor rondou durante quase todo o jogo a área palestrina, sem contudo concluir em gols. O castigo veio aos 44 minutos do segundo tempo, quando Humberto Tozzi, numa das poucas investidas do Palmeiras ao ataque, marcou o gol da vitória alviverde sobre o tricolor. O jogo entre Fluminense e Palmeiras foi uma final antecipada. Na seqüência, o Palmeiras foi campeão, vencendo facilmente os dois jogos da final contra o Fortaleza (3 x 1; 8 x 2).

O clube volta a excursionar pela Europa e pela América do Norte, com destaque para as vitórias sobre o San Lorenzo, da Argentina (3 x 1); Feyennord, da Holanda (2 x 1); Middlesbrough, da Inglaterra (3 x 2); Oster, da Suécia (10 x 0); Combinado Lyn-Skeid, da Noruega (8 x 2); AIK, da Suécia (4 x 1); Istad, da Suécia (11 x 0); Gênova, da Itália (3 x 2) e Valência, da Espanha (4 x 3).

A DEMOLIÇÃO DO ESTÁDIO DAS LARANJEIRAS

O ano de 1961 foi negativo para o Fluminense não só dentro de campo, mas também fora dele. Após dois anos de conversação entre a prefeitura da cidade e dirigentes tricolores, o clube teve parte de sua área desapropriada, tendo o Estádio das Laranjeiras parte de suas arquibancadas demolidas. Com a construção do túnel Santa Bárbara, tornou-se necessário uma via mais larga para melhorar o trânsito na cidade. E o Fluminense estava no caminho. Pela desapropriação, o Fluminense recebeu uma quantia em dinheiro (Cr$ 49.703.000,00) e alguns terrenos de casas remanescentes na esquina da Rua Álvaro Chaves, com valor estimado em Cr$ 31.355.000,00. Mas nada poderia compensar a demolição do histórico estádio, onde o Brasil despertou para as grandes conquistas internacionais. Foram anos de história destruídos com a implosão das arquibancadas da Rua Pinheiro de Machado. A bela fachada com os dizeres “Estádio das Laranjeiras – Fluminense Football Club” agora só existiria nos registros fotográficos e na memória daqueles que o conheceram. A pista de atletismo, famosa pelas grandes competições, por onde passaram grandes mitos do nosso clube e do atletismo brasileiro, agora não existia mais. Sumiu com a redução do campo e com o muro de tijolos que substituiu as arquibancadas. O Fluminense Football Club, que tanto fez em prol do esporte no país, recebia como “agradecimento” um atentado contra o seu patrimônio.

O clube inaugurou o novo parque aquático, dotado de piscina olímpica, poço de saltos ornamentais e piscina de aprendizagem. A obra marcou o auge da administração do presidente Jorge Frias de Paula, que fora reeleito a 16 de janeiro, pelo Conselho Deliberativo para exercer a presidência no biênio 1961/1962.

No futebol, o Fluminense ficou com o vice-campeonato carioca e o sétimo lugar no Torneio Rio-São Paulo. Mas realizou vitoriosa excursão pela África e Europa, disputando 10 jogos e perdendo apenas um: para o Sporting por 2 x 0, em Lisboa. Nos demais, vitória por 2 x 1 sobre o Nacional, do Egito, no Cairo; 3 x 0 no Tanta, do Egito, em Tanta; empate em 1 x 1 e vitória por 1 x 0 sobre a Seleção da Bulgária, em Sófia; vitória por 7 x 2 sobre o Olimpic Ginaste, da França, em Nice; empate em 1 x 1 com a Internazionale de Milão, em Milão; vitória por 2 x 1 sobre o Espanhol, em Barcelona; goleada por 6 x 0 no Málaga, em Málaga; e sensacional vitória por 3 x 2 sobre a fortíssima equipe do Valência, em Valência.

O time-base do ano foi: Castilho, Jair Marinho e Pinheiro; Edmílson, Clóvis e Altair; Calasães, Humberto, Jaburu, Paulinho e Escurinho. Técnico: Zezé Moreira.

Em 1962, ano em que o Brasil conquistou o bicampeonato mundial de futebol, no Chile, com a participação de três tricolores (Castilho, Jair Marinho e Altair), o Fluminense não teve um ano vitorioso no futebol. Ficou em 3º lugar no Campeonato Carioca e em 9º lugar no Torneio Rio-São Paulo, perdendo os quatro jogos que disputou. Diferente dos anos anteriores, o tricolor não excursionou à Europa, realizando apenas um amistoso internacional, contra a Seleção Olímpica da Rússia, no Maracanã, quando perdeu por 1 x 0.

O time-base do ano foi: Castilho, Jair Marinho e Pinheiro; Íris (Oldair), Dari e Altair; Calasães, Walter, Rodrigo, Paulinho e Escurinho. Técnico: Zezé Moreira.

O MAIOR PÚBLICO DO FUTEBOL MUNDIAL ENTRE CLUBES

Para o ano de 1963, foi eleito o presidente Nelson Vaz Moreira, que venceu a disputa com Jorge Frias de Paula que concorria à terceira reeleição. Inicialmente, o mandato do novo presidente seria de dois anos, mas posteriormente o Estatuto do clube foi reformado, sendo fixado o período de três anos, sendo vetada de agora e diante a reeleição. Desta forma, o mandato de Nelson Vaz Moreira seria até 1965.

O clube realizou no dia 20 de junho, no Salão Nobre, memorável banquete em homenagem ao então Presidente da Confederação Brasileira de Desportos, Benemérito Atleta e Benemérito do Fluminense, João Havelange, com a participação de cerca de 500 pessoas, das mais altas autoridades internacionais. Um mês depois, foi inaugurado o novo jardim da sede social e dois dias depois o Parque Infantil, com a presença de mais de duas mil pessoas. A criançada tricolor agora tinha um espaço seu, para brincar e fazer do clube o seu passatempo ideal.

No futebol, o Fluminense ficou em 3º lugar no Torneio Rio-São Paulo e com o vice-campeonato carioca, num jogo que entrou para a história. O Tricolor chegou à última rodada da competição precisando de uma vitória sobre o Flamengo para ser campeão. O Fluminense pressionou, rondou a área rubro-negra o tempo todo, perdeu gols incríveis como o de Escurinho, que sem goleiro, chutou pra fora, mas o dia era do goleiro Marcial, que fez grandes defesas e garantiu o 0 x 0 para o Flamengo. No dia em que o Maracanã recebeu a maior assistência da história do futebol mundial, entre clubes, com exatos 194.603 espectadores, o Fluminense teve que se contentar com o vice-campeonato.

Assim como nos anos anteriores, o Tricolor continuou a excursionar pelo exterior, conseguindo resultados significativos. Na excursão pela Europa e América do Sul, foram 11 vitórias, 1 empate e apenas 1 derrota, defrontando os seguintes adversários: Seleção de Paisandu (3 x 1), do Paraguai, em Montevidéu; Seleção do Paraguai, (4 x 2) em Assunção; Combinado Osk-Degertors (1 x 2) da Suécia, na Suécia; Combinado Elfsborg-Horrby, (4 x 2) da Suécia, na Suécia; A.F.F. (3 x 0) da Suécia, na Suécia; Salto B. K. (4 x 1) da Suécia, na Suécia; Kristianstad (4 x 1) da Suécia, na Suécia; B. K. Landora (6 x 0) da Suécia, na Suécia; Seleção de Helsinki (2 x 1), em Helsinki; Dínamo de Moscou (1 x 0), em Moscou; Lugansck (2 x 1) da Rússia, em Lugansck; Seleção da Rússia (0 x 0), em Volgrad; e Ararati (5 x 2)da Rússia, em Jerevan.

O time-base do ano foi: Castilho, Carlos Alberto Torres, Procópio, Dari e Altair; Íris e Oldair; Edinho, Manuel, Joaquinzinho e Escurinho. Técnico: Fleitas Solich.

A nota de profunda tristeza do ano foi o falecimento de duas figuras míticas do clube: Arnaldo Guinle e Artur Antunes de Moraes e Castro, o Laís. Arnaldo Guinle era patrono do Fluminense e um dos maiores empreendedores do estado do Rio de Janeiro. Fez muito pelo clube e pelo desporto nacional. Criou as bases necessárias para o Brasil despertar como potência no esporte. Quando os jovens desbravadores da grande obra fundaram o Fluminense, foi a família Guinle quem alugou o terreno onde anos mais tarde, Arnaldo construiria com esforços financeiros próprios o maior e mais belo estádio da América do Sul, adotando o clube como seu verdadeiro ideal no esporte. Arnaldo Guinle foi presidente durante 15 anos, período em que fez uma revolução no clube. O Brasil não tinha nada. Foi omisso nos jogos sul-americanos de 1919. Arnaldo Guinle arcou com as despesas e construiu o Estádio das Laranjeiras e o Brasil foi campeão sulamericano pela primeira vez. Em seguida, construiu a primeira piscina coberta do Brasil, dotando o clube também de ginásio e quadras de tênis. Em 1922, quando novamente o governo brasileiro foi omisso na organização dos Jogos Comemorativos de 100 anos de Independência, Arnaldo Guinle sem pedir nada a ninguém, remodelou o novo estádio, passando a sediar provas de atletismo e a comportar 22 mil espectadores. Tais esforços fizeram do clube a mais perfeita organização esportiva do mundo em 1949, quando fomos agraciados com a Taça Olímpica, maior prêmio que uma agremiação pode ambicionar no terreno esportivo. Laís foi tricampeão carioca em 1917, 1918 e 1919 e campeão sul-americano pela Seleção Brasileira em 1922. Fez parte do mais temido e respeitado esquadrão de amadores do futebol brasileiro. Mesmo fora dos gramados, nunca deixou o clube, trabalhando dia após dia para o engrandecimento do Fluminense Football Club, na organização e direção de eventos.

Em 1964, Castilho fazia a sua última temporada pelo Fluminense. Carlos Alberto Torres subia para os profissionais, já como titular. No comando da equipe, Elba de Pádua Lima, o Tim, uma das maiores glórias da história do clube como jogador, campeão carioca em 1937, 1938, 1940 e 1941, tinha a chance de ser campeão novamente pelo tricolor, só que agora como treinador. E foi o que aconteceu. Na decisão contra o Bangu, duas vitórias (1 x 0; 3 x 1) deram ao Tricolor o título máximo da cidade. Amoroso foi o artilheiro do campeonato com 20 gols e Joaquinzinho e Gilson Nunes os destaques do time. Tim foi um grande estrategista, montou um time conciso e bem articulado, que tinha no capitão Denílson o símbolo da vontade e da obstinação daquele time. O Fluminense foi campeão carioca com louvor, perdendo apenas 4 jogos em todo o campeonato. A formação base de 1964 foi: Castilho, Carlos Alberto Torres, Valdez, Procópio e Altair; Denílson e Oldair; Amoroso, Ubiraci (Evaldo), Joaquinzinho e Mateus (Gilson Nunes).

Após a conquista do título carioca de 1964, Castilho deixou o Fluminense. O grande goleiro, um dos maiores que o Brasil teve, defendeu o Tricolor por 18 anos e encerrou a carreira no Paysandu em 1965, clube pelo qual iniciou a sua brilhante carreira como treinador em 1966. Enquanto Castilho sagrava-se campeão paraense, o Fluminense ficava em terceiro lugar no campeonato carioca. Samarone chegava da Portuguesa Santista e iniciava uma história de amor e identificação com a torcida tricolor. Tricolor de coração, Samarone se tornaria um dos líderes do time que nos anos seguintes retomaria a hegemonia no futebol carioca e brasileiro.

Em 1966, contando com várias caras novas, o Fluminense, sob o comando do técnico Tim, foi campeão invicto da Taça Guanabara. Foram 3 vitórias e 3 empates, sendo a final um jogão contra o Flamengo em que o Tricolor triunfou por 3 tentos a 1. O Fluminense teve como time-base: Jorge Vitório, Oliveira, Caxias, Altair e Bauer; Jardel e Denílson; Amoroso, Mário, Amoroso e Lula. Mário foi o artilheiro com 4 gols, Lula foi o vice-artilheiro da equipe com 3 tentos e Amoroso (2) e Samarone (1) completaram o rol dos artilheiros do Fluminense na invicta Taça Guanabara. Na época, a Taça Guanabara era considerado um título à parte.

No Campeonato Carioca coube ao Fluminense apenas o terceiro lugar, posição repetida em 1967, ano em que foi disputado o primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol. Chamado de Torneio “Roberto Gomes Pedrosa”, a competição reunia os 16 mais importantes clubes do Brasil. Embora já existisse a Taça Brasil desde 1959 (duraria até 1968), o Torneio Roberto Gomes Pedrosa tinha a mesma fórmula adotada pelo Campeonato Brasileiro de 1971, tido pela Confederação Brasileira de Futebol como o 1º Campeonato Brasileiro.

Se em 1968 o ano foi desastroso com o 6º lugar no campeonato carioca e o 12º no “Robertão”,1969 foi sublime! Telê Santana foi chamado para comandar o Tricolor e o resultado foi um Fluminense forte e vencedor novamente, campeão da Taça Guanabara e do Campeonato Carioca. O Clube havia trazido o atacante Flávio do Corinthians e o goleiro Félix da Portuguesa de Desportos que despontaria como um dos líderes da equipe. Na final do campeonato carioca contra o Flamengo, Flávio marcou o gol da vitória sobre o rubro-negro por 3 x 2, numa final em que o Maracanã recebeu 170 mil torcedores. Mais uma vez o Fluminense desbancou o favoritismo do rival.Em 1970, o Fluminense perdeu o bicampeonato. O time terminou 1 ponto atrás do Vasco, perdendo apenas dois jogos no campeonato: para o Olaria por 1 a 0, e para o Botafogo por 2 a 1. O curioso é que desde essa época, o Vasco já emprestava vários jogadores ao Olaria, com a ressalva de não jogarem contra o time de São Januário. Coisas do futebol...

O PRIMEIRO TITULO NACIONAL: A TAÇA DE PRATA (TORNEIO ROBERTO GOMES PEDROSA)

No ano em que o Brasil tornava-se tricampeão mundial, o Fluminense também presenteava a sua torcida com o título de campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa. O Palmeiras chegou ao quadrangular como o melhor time do campeonato. Cruzeiro e Atlético-MG completaram o quadrangular que decidiria quem seria o campeão brasileiro de 1970. Com a contusão de Flávio ainda no final da primeira fase, coube a Mickey decidir os jogos para o Fluminense. Logo na primeira rodada, uma vitória por 1 a 0 sobre o favorito Palmeiras no Maracanã, mostraria que o Fluminense tinha time para ser campeão. Na segunda rodada contra o Cruzeiro do artilheiro Tostão, no Mineirão, Mickey novamente marcou e o Fluminense venceu por 1 a 0, chegando à ultima rodada do quadrangular final precisando de um simples empate para ser campeão. Era o dia 20 de dezembro de 1970. A torcida do Fluminense compareceu em grande número e lotou o Maracanã. Nem a forte chuva que caiu no Rio naquela noite foi capaz de impedir os mais de 112 mil tricolores de ir ao Maracanã e ver Mickey após jogada de Didi abrir o placar para o Fluminense sobre o Atlético-MG. Vaguinho ainda empatou para o Galo, mas em nenhum momento ameaçou o título do Fluminense. Ao trilar do apito do árbitro José Favilli Neto, o Maracanã explodiu em festa. A torcida tricolor invadiu as ruas e comemorou o seu primeiro título nacional. O ano de 1970 foi sensacional para o Fluminense. O time foi o mais regular do Brasil, perdendo apenas 7 jogos durante todo o ano. Ao todo foram 19 jogos, com 10 vitórias, 5 empates e 4 derrotas. Flávio foi o vice-artilheiro do campeonato com 11 gols, um a menos que Tostão. O time do técnico Paulo Amaral sagrou-se campeão do Brasil jogando com: Félix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio] (Toninho Baiano); Denílson e Didi; Cafuringa, Cláudio, Mickey e Lula.